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CORRIDA ELEITORAL

Doria enfrenta obstáculo a estratégia para crescer em SP

Doria visita local do acidente no Metrô em SP

No meio do caminho, abriu-se um buraco. Para além das consequências concretas, que provocaram mais cenas de caos urbano em São Paulo e levarão a mais atrasos nas obras do Metrô, o desmoronamento no entorno de uma estação da Linha 6 em construção representa um entrave na estratégia imaginada pela equipe de João Doria para que ele tente decolar nas pesquisas de intenção de votos para a Presidência.

Aliados do governador tucano de São Paulo projetam para o período que vai de agora até sua desincompatibilização do Palácio dos Bandeirantes, no máximo no início de abril, uma fase de "entregas", como se diz no jargão da administração pública.

Finalizações de obras, abertura de museus, a despoluição do rio Pinheiros e outros projetos ambiciosos do governo paulista, sejam realizações próprias, concessões ou parcerias público-privadas, seriam oportunidades de Doria mostrar uma gestão bem-sucedida no Estado, que, associada à campanha pela vacinação e aos bons resultados de crescimento econômico paulista frente ao do país, o projetariam primeiro "em casa", e depois nacionalmente.

Por esse cálculo, seria importante atingir até o início das convenções algo como 20% das intenções de voto no Estado, o que poderia alavancar o tucano para a casa dos dois dígitos nacionalmente.

O buraco do Metrô, por si só, seria capaz de turvar a iniciativa? Não é disso que se trata. Primeiro porque, mesmo sem acidente, esse "acelera" nas pesquisas já seria dificílimo diante dos índices diminutos de hoje e da polarização bastante consolidada de Lula e Bolsonaro à frente nos levantamentos. 

Segundo porque, sempre atento às repercussões políticas de eventos como esse, o próprio Doria já se pôs em campo para se mostrar empenhado em solucionar as causas do acidente e ajudar a resolver o caos.

E é aí que os efeitos políticos desse tipo de evento se mostram. Bolsonaro foi justificadamente cobrado quando do caos nos municípios baianos no momento em que passava férias em Santa Catarina.

Os adversários do governador não deixarão de utilizar o buraco do Metrô da mesma forma. Acidente também no Metrô em 2007 foi fartamente usado por adversários como exemplo de fracasso do modelo de concessões e obras adotados pelo PSDB no Estado. 

Postagens de deputados do PT e do PSOL já partem para a mesma retórica agora. E ainda pode haver uso do episódio pelo bolsonarismo, uma vez que o presidente escolheu justamente esta terça-feira para visitar localidades atingidas pelas chuvas que desabrigaram milhares de pessoas e mataram pelo menos 24 pessoas na região metropolitana da capital paulista.

Se as entregas são o bônus, o trunfo com que Doria espera contar para se cacifar como a terceira via com experiência para enfrentar a polarização, também do governo e de seu legado podem advir pedras no caminho traçado. 

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