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A morte de um ídolo

Renato Russo: Os últimos meses de vida e suas doações para o combate à fome no Brasil

Renato Russo durante show do Legião Urbana em 1994, no Metropolitan, no Rio

Renato Russo vinha tomando o então novo coquetel de drogas para pacientes com Aids, mas, como não estava surtindo efeito e provocava reações no corpo difíceis de tolerar, o compositor do Legião Urbana decidiu suspender a medicação. Era como se tivesse aceitado a morte. Nas últimas semanas de vida, recluso em seu apartamento na Rua Nascimento Silva, em Ipanema, no Rio, o poeta do Rock recebera uma romaria de amigos próximos, enquanto sua saúde se deteriorava. Foi uma espécie de despedida das pessoas mais queridas.

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Autor de hinos da música nacional, Renato Russo falava abertamente sobre sua vida. Militava pela causa gay em uma época de muito mais preconceito que hoje, quando se falava em "homossexualismo" como uma doença e se dizia "opção sexual" como se identidade fosse apenas questão de escolha. O cantor também era direto ao abordar sua depressão e o vício em drogas e álcool. Mas preferiu não falar publicamente da doença que viria a causar sua morte, no dia 11 de outubro de 1996, há exatos 25 anos, semanas após lançar "A tempestade", sétimo disco do Legião. 

Renato Russo, Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos: O Legião Urbana, em 1992

Para a maioria das pessoas, a notícia caiu como uma triste surpresa. No dia seguinte, O GLOBO publicou um caderno especial no qual uma reportagem relatava as visitas de amigos e familiares naquelas últimas semanas. O pai, Renato Manfredini, deixara Brasília um mês antes para ficar ao lado do filho. A atriz Denise Bandeira, a cantora Cris Braun, o produtor musical Luiz Fernando Borges, o cantor e compositor Alvin L., o guitarrista da Legião Dado Villa-Lobos e o fotógrafo Flávio Colker estiveram na residência do cantor para conversar com ele. 

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Russo também vinha retomando seu contato com a velha turma de Brasília, onde ele crescera e começara a despontar na cena musical. A morte era o tema mais presente nas conversas. Cerca de 40 dias antes de partir, o cantor recebeu o jornalista Geraldo Vieira e a artista plástica Mila Petrillo. "Ele disse que precisava mergulhar em si mesmo o máximo que pudesse, 'antes que a morte bata à minha porta'". Demonstrava total consciência. Temia não ter tempo para mais canções.

Renato Russo lê poema durante Semana da Arte contra a Miséria, em 1993

Então coordenador no Rio da campanha Ação da Cidadania Contra a Miséria e Pela Vida, Maurício Andrade contou ao jornal que Renato Russo se tornara um grande doador de recursos. De acordo com ele, o cantor destinara à ONG cerca de R$ 180 mil, o que, em valores atuais, representa mais de R$ 800 mil. Segundo Andrade, a quantia fazia dele o maior doador particular de verba para a Ação da Cidadania, fundada em 1993.

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Renato vinha se engajando em ações da campanha criada por Herbert de Souza, o Betinho. Em 1994, por exemplo, ele participou da Semana da Arte contra a Miséria, na livraria Alpharrábio, declamando o poema "Favelário nacional", do poeta Carlos Drummond de Andrade. 

Os amigos que o encontraram pouco antes de sua partida disseram que o artista se entregara à depressão que o assombrara ao longo da vida. Nos últimos meses, o cantor, trancado em casa, foi acompanhado de perto por enfermeiros e um psicólogo, além do pai. Estava empolgado com o último disco do Legião, mas se mostrava muito debilitado fisicamente. Renato Manfredni Junior morreu em casa, às 01h15 da madrugada, devido a uma série de complicações geradas pela Aids, como pneumonia, septicemia e infecção urinária. Seu corpo foi cremado, e as cinzas foram jogadas no Sítio Roberto Burle Marx, em Barra de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio.

Renato Russo em 1989

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