Publicidade

Cantor faria 75 anos

Belchior no Rio: Busca por Chico Buarque no Maracanã e um encontro com Braguinha

Belchior ao lado de Braguinha em frente ao restaurante Cabral 1500 em Copacabana

Belchior estava no Rio para uma série de shows no Teatro João Caetano, no Centro, em maio de 1991, quando foi convidado pelo GLOBO para visitar pontos da cidade com os quais se identificava. Lá se iam duas décadas desde que o músico, que completaria 75 anos de idade nesta terça-feira, deixara a Faculdade de Medicina, em Fortaleza, no Ceará, para tentar a sorte nos palcos do balneário carioca. Até aquele distante ano de 1971, o cantor só conhecia a capital fluminense das chanchadas que passavam num "cinema de poeira" no município de Sobral, onde nascera, em 26 de outubro de 1946. 

'Sujeito de sorte': A canção de Belchior que virou hino de 2021

Ao desembarcar na capital fluminense pela primeira vez, o artista chegou a dormir nas areias de Copacabana. Mas conseguiu um quarto na Praça Mauá, cantou em inferninhos da Zona Portuária e, mais tarde, foi morar em Marechal Hermes, na Zona Norte. No mesmo ano de 1971, depois que a célebre canção "Na hora do almoço" venceu o Festival Universitário, o artista se mudou de mala e cuia para São Paulo. Foi lá que, cinco anos mais tarde, gravou o álbum "Alucinação", repleto de faixas que viraram clássicos da MPB, como "Apenas um rapaz latino-americano", "Como nossos pais" e "Sujeito de sorte", que virou uma espécie de hino nacional de 2021, em meio à pandemia de Covid-19.

Belchir abraça Braguinha: 'Eu quero uma cópia dessa foto, viu?'

Mas a passagem pelo Rio deixou boas memórias. Belchior defendia o aluguel cantando Tim Maia, Jorge Ben e Luiz Gonzaga na boate Cowboy, na Praça Mauá. Foi algumas vezes ao Maracanã, mas apenas para ver de perto Chico Buarque, depois que alguém soprou para ele o número da cadeira cativa do cantor no estádio. Ao reconhecer o autor de "Apesar de você", ignorou solenemente o Fla x Flu que se desenrolava no gramado para observar a distância o ídolo.

Isolamento: Livro reconstrói últimos anos da vida de Belchior

No pequeno percurso pelo Rio com os repórteres do jornal, no dia 23 de maio de 1991, ele fez questão de ir ao restaurante Cabral 1500, em Copacabana, que passara a frequentar, 20 anos antes, após saber que outro de seus heróis na música, o compositor João de Barro, o Braguinha, gostava de comer ali. Entretanto, mesmo depois de vê-lo várias vezes, o cearense jamais tivera coragem de se apresentar.

Ele estava justamente contando essa história quando Braguinha, por uma dessas conspirações do universo, materializou-se na porta do estabelecimento. Os dois foram apresentados e conversaram rapidamente, antes de o autor de "As pastorinhas" e "Turma do funil" seguir seu caminho. Belchior ficou lá com cara de espanto e disse: "Que coisa! Rapaz, ele não entendeu nada e nem sabe quem eu sou. Deve estar pensando em quem será aquele bigodudo mexicano. Eu quero uma cópia dessa foto, viu?".

Belchior em imagem de 1983

Leia também