Em Mem Martins, Sintra, há uma rua que evoca o grande jogador do FC Porto Pinga, que se cruza com o nascimento do rap em Portugal. Nesta freguesia os jovens queixam-se de que não têm lugares de diversão – isto quando o teatro – o único da zona – foi demolido e está ao abandono há dez anos. Em Chelas, Lisboa, há um clube de futebol de praia… sim, de praia, onde joga uma campeã. Essa Chelas de hoje, que é muito diferente do bairro que foi mostrado no famoso filme “Zona J” – há precisamente 25 anos. No Casal da Boba, na Amadora, os cafés tornaram-se um ponto de reunião cultural e social.

Estas são algumas histórias que o jornal digital e local Mensagem de Lisboa vai contar a partir de 11 de janeiro, no Projeto Narrativas. Foram descobertas no terreno, por uma equipa de jornalistas que trabalhou lado a lado com os “repórteres comunitários” locais, jovens e moradores em Mem Martins (Sintra), Chelas (Lisboa) e Casal da Boba (Amadora) quando, no final do ano passado, a redação da Mensagem se mudou para a sede do grupo cultural Unidigrazz, em Mem Martins, e para o espaço do Kriativu, associação juvenil em Chelas. No Casal da Boba, trabalhámos com a Associação Cavaleiros-São Brás.

A missão da Mensagem sempre foi dar conhecer essa grande e misturada cidade, que funciona em vasos comunicantes. E foi por isso que nos candidatamos a uma bolsa europeia do projeto Local Media for Democracy, do Journalismfund Europe, apoiada pela União Europeia. Resolvemos trocar as voltas ao que habitualmente se passa, com uma pergunta em mente: “Que histórias contaria quem vivem nas zonas periféricas de Lisboa, se tivesse o poder para o fazer nos meios de comunicação social?”.


A cobertura habitual sobre assuntos destes lugares é quase nula: foi o que confirmaram, num trabalho prévio de análise, Dora Santos Silva, do Obi.media, da Universidade Nova de Lisboa e o investigador em temas sociais e urbanos, António Brito Guterres. E, quando existe, é negativa.

O que percebemos é que no terreno há imensas histórias para contar. Histórias de uma cidade que é várias, como é a Grande Lisboa. E daí surgiu o nome: Narrativas. Porque há muitas coisas para contar e muitas maneiras de contá-las.

Este projeto Narrativas é também uma boa forma de honrar a memória do 25 de Abril e de alargar as suas consequências na liberdade de imprensa a quem ainda está longe dela. A apatia social e política é o resultado óbvio para alguém que não encontra informação que lhe diga respeito, ou não se reveja no que é publicado. E é perigosa para a democracia.

Leia aqui o que já foi escrito sobre este projeto:

https://www.journalism.co.uk/news/how-a-digital-news-startup-tackled-lisbon-s-local-news-deserts-with-constructive-storytelling/s2/a1114738/

https://wan-ifra.org/2024/01/how-mensagem-is-bridging-the-news-divide-within-lisbons-underreported-communities/

https://www.meiosepublicidade.pt/2024/01/mensagem-de-lisboa-dinamiza-projeto-jornalistico-em-desertos-informativos-da-aml