Introdução:

Em Arroios o rácio de árvores/pessoas é de apenas 2824 para 21167 habitantes ou seja, de apenas 0.1334, ou seja, dez vezes menos que Londres. (se não contarmos com as 250 mil árvores de Monsanto. Isto segundo os dados da plataforma de dados abertos da CML. Por todas as razões é importante aumentar este número e rácio.

Depois do manifesto “Aqui devia estar uma árvore“, que se limitava à freguesia de Areeiro, percorremos alguns dos arruamentos da vizinha freguesia de Arroios em busca de problemas com árvores ou lugares para mais árvores.

Em Arroios, e ao contrário do que sucede no Areeiro, as árvores (espécie e local) e em Alvalade, as árvores – com raras excepções – não estão registadas na aplicação móvel Lx24 da Câmara Municipal de Lisboa. Por exemplo, entre a Praça do Chile e Rua de Angola não aparecem árvores na app Lx 24.

Um passeio em Arroios e algumas situações:

Percorrendo algumas das ruas a pé com alguns moradores foi possível apurar que praticamente não existem caldeiras de árvores vazias em Arroios. Com efeito, percorrendo a Praça do Chile, a Avenida Almirante Reis, a Pascoal de Melo, Rua de Angola e outros arruamentos próximos foram apenas encontradas árvores em falta na Rua Pascoal Melo, frente número 123, no Jardim Constantino faltam replantar duas árvores junto ao quiosque.

Nas imediações do Liceu Camões encontrámos 8 caldeiras vazias, um cepo de árvore por remover e replantar e uma fechada (!) com pedras de calçada. Esta zona parece concentrar a maioria das caldeiras vazias de Arroios (estas lacunas já foram reportadas à CML). Na Rua Dona Estefânia encontrámos também uma caldeira destruída junto ao 98 e, pela freguesia (e em toda a Lisboa), existem outros exemplos. A competência para a remoção destes cepos e da replantação de novas árvores nestes locais cabe à CML (recentemente a autarquia plantou 51 árvores em Arroios e idêntico movimento se tem registado, por exemplo, em Alvalade e no Areeiro).

Caldeiras a precisar de ser alargadas na Rua D. Estefânia. Foto: Mafalda Roma

Mas nesta caminhada foram encontrados vários locais onde existia espaço no passeio suficiente para a instalação de novas caldeiras: vários locais na Av Almirante Reis (existe um “processo participativo” para esta zona que terminará em 2025, nomeadamente junto aos números 108, 113 e 114 (entre outros).

Para além de vários locais onde poderiam – sem grandes intervenções urbanísticas – ser instaladas novas caldeiras de árvores, há vários locais onde seria possível colocar floreiras com plantas de baixo consumo de água, substituindo em alguns casos os sempre deselegantes pilaretes. É o caso da ponte da Pascoal de Melo, onde num dos lados da via já existem floreiras. A competência pela abertura de novas caldeiras de alinhamento cabe à CML dado que podem existir estruturas no subsolo que as obstaculizam.

Na Praça do Chile encontrámos cimento na caldeira junto ao nº 5, e, ao lado do antigo Hospital de Arroios uma árvore claramente estrangulada por uma caldeira demasiado pequena que merecia ser alargada.

Na Rua António Pereira Carrilho, junto ao 3, caberia uma nova caldeira e, no Largo do Leão há muito espaço cimentado onde poderiam ser colocadas árvores em floreiras ou abrir, simplesmente, novas caldeiras no cimento. Ainda na António Pereira Carrilho, nos números 30 e 42 há espaço aparente para duas novas caldeiras. O mesmo na Rua Visconde de Santarém, junto ao nº 10.

Rua António Pereira Carrilho. Foto: Mafalda Roma

Na Av. Defensores de Chaves, no separador central, frente ao 60, encontramos uma das várias caldeiras estranguladas de Lisboa, e no nº 2 uma caldeira desfeita por pressão de raízes que poderia ser alargada.

No 77 encontramos um espaço verde cuidado por moradores: algo que é importante apoiar e promover em mais locais porventura contactando e oferecendo esse serviço por carta a vários prédios em locais idênticos.

Na Rua Dona Estefânia, junto ao 20, há espaço para uma nova caldeira de árvores. No 7 encontramos mais uma caldeira demasiado pequena para a árvore e que poderia ser alargada e reconstruída e mesmo se repete, outra vez, no número 40. No Largo Dona Estefânia, frente 11, encontramos uma caldeira com cimento, algo que se repete em praticamente todas as caldeiras desse largo.

Na Rua Gomes Freire encontrámos uma caldeira fechada frente ao 179 e uma caldeira em falta junto ao 167. Entre os números 74 e 100 há espaço para uma nova árvore. O mesmo sucede frente ao 54 e ao 18. Esta é uma das principais ruas de Arroios, larga, com passeios amplos mas com poucas árvores. Em vários locais parece nítido que já existiam árvores mas que, ao longo dos anos, foram retiradas. Em particular, no quarteirão da Polícia Judiciária, encontramos apenas duas árvores: o que é muito pouco. Neste local, existiam várias árvores antes da construção do novo edifício (no interior do recinto), mas foram removidas e não foram replantadas nem substituídas.

O deserto da Rua Gomes Freire.

Um ponto comum de todas as caldeiras de árvore de Arroios (e que se aplica também a praticamente toda a cidade) é a inexistência das protecções que estão previstas no Regulamento Municipal do Arvoredo (https://www.am-lisboa.pt/documentos/1501161034Q8mFK3ex7Ck80HK4.pdf) e que protegem a árvore contra danos (que depois são porta de entrada de doenças) e reduzem a evaporação das regas que, em Lisboa, nem sempre se fazem com a regularidade desejável. Num e no outro caso parece evidente que falta um sistema regular de monitorização que coloque funcionários da autarquia e das juntas de freguesia (a competência está – infelizmente – dispersa entre ambos os tipos de autarquia) a detectarem estas omissões, a realizarem intervenções preventivas (p.ex. podas preventivas) e substituições regulares de árvores em falta.

Porque precisamos de mais árvores?

1. As árvores desempenham um papel crucial na purificação do ar, absorvendo dióxido de carbono (CO2) e liberando oxigénio. Também filtram poluentes atmosféricos, tais como partículas em suspensão e gases nocivos, contribuindo para um ar mais limpo e saudável.

2. As áreas urbanas sofrem com o efeito de “ilha de calor“, onde as temperaturas são mais altas do que nas áreas circundantes. As árvores ajudam a reduzir esse efeito, proporcionando sombra e liberando água através da transpiração, o que ajuda a arrefecer o ambiente local.

Árvores em Lisboa
As ilhas de calor em Lisboa. Arroios está entre as zonas mais quentes.

3. Oferecem habitat e alimentação a diversas espécies de aves, insectos e outros animais. Esta biodiversidade contribui para o equilíbrio ecológico e promove um ambiente mais saudável e harmonioso entre o ser humano e a natureza em pleno meio urbano.

4. As árvores actuam como barreiras naturais que absorvem e bloqueiam o som, ajudando a reduzir a poluição sonora nas áreas urbanas. Isso é especialmente importante para criar espaços mais tranquilos e agradáveis para os moradores e particularmente importante em zonas de elevada densidade de trânsito, tal como sucede em Arroios, na Av Almirante Reis. Num estudo de 2022 constata-se que “segundo os sensores recentemente instalados, a maior fonte de ruído na Avenida Almirante Reis é o tráfego rodoviário. São excedidos os níveis recomendados pela OMS em 2018”.

Se há dados sobre poluição (há sensores desde março de 2021) eles não podem ser encontrados, e questionada a CML esta não respondeu.

5. As áreas verdes com árvores proporcionam um ambiente mais agradável, melhorando o bem-estar psicológico dos habitantes dos bairros. Para além disso, oferecem também espaços para actividades recreativas, tais como caminhadas, piqueniques e prática de desporto, promovendo um estilo de vida saudável.

Uma das muitas ruas sem árvores em Arroios. Foto: Orlando Almeida

6. As raízes das árvores ajudam a estabilizar o solo, prevenindo a erosão. Além disso, contribuem para o controle de inundações, absorvendo água da chuva e reduzindo o risco de enchentes em áreas urbanas. Para isso, contudo, é preciso que tenham caldeiras amplas e que respeitem os procedimentos do Regulamento Municipal, o que é muito raro em Arroios.

7. As árvores adultas são muito importantes para um ambiente urbano de qualidade: A necessidade de as manter saudáveis é fundamental porque é nelas que reside o carbono sequestrado e a sua morte resulta quase sempre na sua libertação para a atmosfera.

O que podem fazer os cidadãos pelas árvores?

1. Plante: entre em contacto com a sua Câmara Municipal, Junta de Freguesia para saber como doar árvores para serem plantadas nos parques, jardins ou outros espaços públicos da freguesia.

2. Organize um evento de plantação de árvores. Reúna amigos, familiares e vizinhos para plantar árvores em um espaço público (após alinhar o evento com a câmara ou junta) ou no seu próprio quintal.

3. Se não tem espaço para plantar uma árvore no chão, pode plantá-la num vaso. Isso permite que plante uma árvore mesmo que more em um apartamento ou em uma casa com um pequeno quintal.

4. As árvores precisam de água para crescer. Regue as árvores perto da sua casa regularmente, especialmente durante os períodos de seca.

Árvore com caldeira acimentada na Rua Pascoal de Melo. Foto: Mafalda Roma

5. As árvores também precisam de nutrientes para crescer e prosperar. Aplique adubo nas árvores regularmente para lhes fornecer os nutrientes.

6. Proteja as árvores de danos causados por animais, insetos e doenças. Pode fazer isso usando cercas, repelentes e outros métodos de protecção.

7. Aprenda sobre as diferentes espécies de árvores na sua comunidade e os seus benefícios e ensine os seus filhos, amigos e vizinhos sobre a importância das árvores e sobre o como cuidar deste importante património natural.

O que pode fazer a Junta de Freguesia de Arroios?

1. Doar pequenas árvores com vaso para que moradores plantem nas suas varandas ou quintais.

2. Organizar um evento de plantação de árvores num espaço sob sua gestão aumentando a quantidade de novas 90 árvores que já plantou este ano.

3. Coordenar um projecto de “adopção” de árvores em caldeira para moradores que residem em ruas com árvores urbanas.

4. Disponibilizar cercas de madeira, adubo e sementes na Junta para quem queira manter as árvores à sua responsabilidade.

5. Pequenas acções de formação e visitas guiadas às árvores da freguesia.

Muito espaço para por árvores.

6. Reconstruir, aumentando, as caldeiras das árvores.

7. Aumentar a quantidade de “árvores itinerantes” com árvores de pequeno porte, reforçando as 52 recentes instaladas na freguesia (oliveiras e romãzeiras) e alargando todo o programa a todas as ruas de Arroios, complementando estas árvores com pequenas floreiras nos espaços onde a dimensão do pavimento ou a complexidade das estruturas no subsolo impedir a abertura de novas caldeiras. Começar a instalação de novas árvores itinerantes em locais onde não se retirem lugares de estacionamento (como junto a passadeiras e cruzamento) e avaliar essa instalação noutros locais. Executar esta iniciativa numa lógica de uma rede sucessiva de “corredores verdes” que ligam arruamentos aos espaços e jardins da freguesia.

8. Aumentar a captura para reutilização que já existe em dois locais de Arroios e ponderar sistemas de injecção no solo (como Los Angeles) de águas pluviais (com um plano bem executado que evite a multiplicação e aerossolização de legionella através da devida higienização destes reservatórios).

9. Instalar mais jardins verticais em muros propriedade da freguesia e da Câmara Municipal de Lisboa.

10. Criar, num espaço disponível, um jardim de árvores de fruto (a exemplo do projecto “Mãos à terra” da associação Regador).

11. Organizar um concurso de fotografia, reservado a moradores, que premeie as melhores fotografias a árvores de Arroios.

12. Manter a regra de por cada árvore abatida (p.ex. no Paço da Rainha), uma árvore plantada no mais curto prazo possível.

Duas árvores classificadas

Nas nossas voltas pela freguesia encontrámos algumas árvores de interesse público (assim registadas no ICNF).

Ficus no Jardim Constantino

“O conjunto arbóreo constituído por quatro exemplares de Phytolacca Dioica e dois de Metrosideros excelsa e os dois exemplares isolados, um de Ficus benjamina e outro de Taxus baccata, localizados no Jardim Braancamp Freire, no Campo dos Mártires da Pátria” (desde 2018). Os “dois exemplares da espécie Phytolacca Dioica, L., vulgarmente conhecida por bela-sombra, situados no Jardim António Feijó junto à Igreja Paroquial de Nossa Senhora dos Anjos” (também desde 2018).

Se mais existem não as encontrámos e como a base de dados do ICNF está em baixo não é possível apurar existem mais árvores em Arroios com uma protecção que lhe garante uma “zona geral de proteção” com “um raio médio de 22 m, medido a contar da base de cada uma das árvores, que varia entre 16 e 27 m para o conjunto arbóreo e de 22 e 25 m, respetivamente, para os exemplares isolados de Taxus baccata e Ficus benjamina” (no primeiro caso). Em ambos, a lei proíbe intervenções que “possam destruir ou danificar o conjunto arbóreo e os dois exemplares isolados classiicados, designadamente:

a) o corte do tronco, ramos ou raízes;
b) a remoção de terras ou outro tipo de escavações, na zona geral de proteção;
c) o depósito de materiais, seja qual for a sua natureza, e a queima de detritos ou outros produtos combustíveis, bem como a utilização de produtos fitotóxicos na zona geral de proteção;
d) qualquer operação que possa causar dano, mutile, deteriore ou prejudique o estado vegetativo dos exemplares classificados” sendo que todas as “operações de beneficiação do conjunto arbóreo e dos dois exemplares isolados classificados, nomeadamente podas, desramações, tratamentos fitossanitários ou qualquer outro tipo de benfeitorias” têm que ser aprovadas pelo ICNF.

Apelamos à Junta de Freguesia que aumente este número através da identificação de outros exemplares merecedores desta protecção pelo devido encaminhamento de novos pedidos para o ICNF.

Investir na preservação e plantio de árvores em Lisboa e, em particular, em Arroios (uma das freguesias mais populosas da cidade) não apenas beneficia o meio ambiente, mas também promove uma cidade mais saudável, bonita e agradável para os seus habitantes.


Levantamento e Propostas de:
Rui Martins
Mafalda Roma
Vera Silva


 *Rui Martins nasceu em Lisboa, numa Rua da Penha de França, num edifício com uma das portas Arte Nova mais originais de Lisboa. Um ano depois já tinha migrado (como tantos outros alfacinhas) para a periferia. Regressou há 18 anos. Trabalha como informático. Está ativo em várias associações e movimentos de cidadania local (sobretudo na rede de “Vizinhos em Lisboa”).


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3 Comentários

  1. Boas iniciativas para criar uma Lisboa mais verde! É sempre com muito agrado que leio artigos ou crónicas que apelam às consciências no sentido de cuidar dos espaços verdes e de criar novos espaços, de criar vida. É serviço publico.

  2. Boa iniciativa, mas gostaria de complementar com o Bairro das Colónias, onde não há árvores e das poucas praças que temos, a Novas Nações está abandonada, sempre cheia de lixo e os jardins mal cuidados. O bairro no verão é tórrido é muito seco, falta vegetação.

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