Um americano pergunta a 12 lisboetas o que mudou na cidade. E faz uma revista

Qualquer residente de longa data em Lisboa poderia contar sobre as muitas maneiras como a cidade mudou ao longo da última década, mas o americano Nick Mrozowski, ex-residente de Lisboa e nativo de Nova Iorque, levou essas observações a um nível mais profundo.

Nick Mrozowski morou em Lisboa em 2009 e 2010 e recentemente decidiu que era hora de voltar depois de 12 anos afastado. De volta a Nova Iorque, Nick trabalha como diretor criativo freelancer – trabalhou em grandes revistas internacionais, como a Rolling Stone, a Esquire e a Wine & Spirits – e decidiu tirar uma pausa de dois meses para se familiarizar novamente com a dinâmica da cidade.

A 3 de maio, o voo de Nick descolou rumo a Lisboa e decidiu dar uma revista à cidade, a zine “Mais Doze“. “Mais Doze meio que veio à minha mente no avião e eu pensei como a ideia aprecia boa e algo interessante.” A revista ‘Mais Doze‘ foi lançada a 20 de junho de 2023 e a festa de lançamento foi realizada num terraço próximo ao Jardim do Torel – um espaço que se encheu de colaboradores, amigos e pessoas retratadas na própria revista, como uma multidão de fãs.

A “Mais Doze” foi criado com o objetivo de representar como a cidade de Lisboa mudou nos 12 anos em que Nick esteve ausente. Mantendo o tema do número 12, ele e a equipa de colaboradores procuraram 12 pessoas que moram em Lisboa para entrevistar e obter testemunhos sobre como as mudanças as afetaram.

A escolha dos 12 candidatos

Ao procurar por pessoas para a revista, Nick recebeu várias referências de amigos e jornalistas locais que sugeriram pessoas que achavam que seriam valiosas no processo. No entanto, essas eram pessoas que já estavam a ser representadas na imprensa portuguesa – então, decidiu rejeitar a sugestão, com uma abordagem diferente em mente:

“Eu quero pessoas que não estejam nos media, pessoas que simplesmente moram aqui. É com elas que eu quero conversar. As histórias não seriam sobre notícias, eram apenas sobre pessoas comuns.”

Foi com esta ideia em mente que Nick escolheu os 12 entrevistados: com idades entre 12 e 53 anos, a revista abrange uma variedade de personalidades e perspetivas diferentes.

Embora em si se assemelhe a um jornal tradicional, com páginas grandes dobradas uma sobre a outra, a inovadora criação de Nick queria superar qualquer jornal comum. As capas dianteira e traseira exibem os nomes de cada entrevistado, todos destacados em cores diferentes, como se expressassem as diferenças em cada uma das histórias e personalidades.

Que mudanças viram eles em Lisboa?

Focando em algumas das mudanças económicas pelas quais Lisboa passou, o primeiro entrevistado apresentado foi Martim Avillez, um investidor que contratou Nick quando fez sua primeira mudança para Lisboa. A entrevista de Martim discutiu não apenas o jornal “i”, o jornal em que Martim contratou Nick para trabalhar como diretor criativo, mas também as questões relacionadas com o mercado imobiliário em Lisboa.

Avillez debateu os fatores que estão contribuindo para a rápida elevação dos custos habitacionais e comparou essas taxas com os salários dos portugueses. Como empresário, ele foi capaz de oferecer uma perspetiva diferente sobre a concorrência no mercado imobiliário em Portugal em comparação com outros países e como essa concorrência está a afetar as pessoas que aqui vivem.

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Anne-Claire é uma parisiense que mora em Lisboa há mais de dois anos. Uma semana antes do lançamento, Nick conheceu Anne num bar de vinhos e aproximou-se dela para perguntar se ela estaria interessada em participar. Na sua entrevista com Nick, ela revelou que veio a Lisboa pela qualidade de vida na cidade. Anne-Claire estava na festa de lançamento. Ela que tinha uma visão muito positiva sobre a vida em Lisboa, bem como sobre a vida em geral: “Muitas pessoas boas e coisas bonitas estão ao meu redor agora na vida”, partilhou.

Os últimos participantes apresentados na revista foram duas “melhores amigas” de 12 anos, como são descritas. Nick planeava entrevistar apenas Júlia, mas Alice estava a jantar com ela naquela noite, então, com a entrevista dupla, temos um vislumbre mais profundo do que é crescer em Lisboa.

Nick escolheu entrevistá-las porque “elas estiveram aqui para tudo o que eu perdi”, uma maneira intrigante de ver essa passagem do tempo. As duas meninas falaram sobre tudo, desde quais plataformas de comunicação social usam, até aos seus relacionamentos e as metas de carreira futuras.

O regresso de um segunda edição?

Nick estava de volta a Nova Iorque no dia seguinte à festa de lançamento. Mas embora ele esteja de saída, isso não se assemelha a um fim para Nick em Lisboa: é que já está a planear o regresso à cidade, bem como a possibilidade de uma segunda edição deste projeto.

“Há muitas pessoas que eu queria entrevistar, mas não consegui. Eu pensei que isso seria algo que eu faria apenas uma vez, mas agora que está a terminar, sinto que tenho alguns assuntos inacabados aqui”, disse Nick.

A criação da revista “Mais Doze” por Nick é um testemunho das mudanças pelas quais Lisboa passou e permitiu que algumas das pessoas que mudaram com a cidade compartilhassem as suas histórias também. “Compreender o lugar através das pessoas que estão aqui” foi o objetivo de Nick para o projeto. E foi isso que a revista veio cumprir.

Kate Popielarcheck tem 20 anos, nasceu na Carolina do Norte, nos EUA, e mudou-se para o litoral americano para estudar Comunicação e Jornalismo. Sempre sonhou estudar fora do país e sabia que o queria fazer numa cidade que fosse à beira-mar, mas também viva, dinâmica – assim encontrou Lisboa. Escolheu a Mensagem para estagiar, ao abrigo do programa internacional CIEE Summer Global Internship.

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