Maimuna e Ibrahim não partilham apelidos, mas partilharam o bairro por duas vezes e isso é o mesmo que dizer que são família. Vieram da Guiné-Bissau para Lisboa à procura da cura para um doença – ou de uma forma de não deixarem que a falha nos rins lhes tirasse a vida tão cedo. Deixaram de poder contribuir para o já parco rendimento da família, que não veem há anos, e procuraram conforto num teto autoconstruído no bairro Estrela d’África, na Amadora.

Mas o conforto não o foi.

O PER – Programa Especial de Realojamento nascia em 1993 como o maior programa público de habitação alguma vez concretizado no país desde que Portugal abriu portas à democracia. Foi desenhado com um propósito específico: erradicar as chamadas barracas, bairros de autoconstrução, que se tinham proliferado nos últimos anos. Só na capital, neste ano, havia mais de 37 mil pessoas a viver em casas precárias – mais de 10 mil barracas.

Para todos os que perderiam o teto, seria dado um novo num bairro municipal ou uma indemnização que permitisse construir fora destes terrenos. Mas Maimuna e Ibrahim não tiveram solução e migraram para o bairro 6 de Maio, que também acabaria demolido ao abrigo do PER.

Ibrahim chegou a dormir ao lado do entulho da casa que já não o era.

Ambos ficaram fora das estatísticas do programa e das promessas e, por isso, ainda hoje aguardam o direito a uma casa. Fazem parte de um movimento chamado “os despejados do PER” – outras Maimunas e Ibrahims do bairro 6 de Maio, Estrela d’África e Santa Filomena a quem nunca foi dada a solução.

A Mensagem lança o primeiro de três episódios da 3.ª temporada da série documental “Cidades para quem?”, dedicada aos 30 anos desde o PER. Uma série criada no ano passado e que escrutina como o planeamento urbano (ou a falta dele) na Área Metropolitana de Lisboa influencia a vida de milhares que nela vivem e trabalham.

Conheça aqui as histórias desta temporada.

Assista ao 1.º episódio:

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