“Está avariado. Vai ter de sair na próxima estação.” Mamadu Candé, 31 anos, nem queria acreditar quando o revisor do comboio lhe dizia, por outras palavras, que a manhã estava arruinada e que iria chegar atrasado ao trabalho. A rampa que o ajuda a sair com a cadeira de rodas não funcionou.

Não costuma acontecer, confessa. Os maiores entraves, esses, costuma encontrar nos autocarros – raros são, hoje, os que não têm rampa, mas se há algum que não tenha, nem sempre o motorista permite que ele entre e Mamadu já sabe: esperará pelo próximo e chegará atrasado.

“Mas quase sempre consegui chegar.” Porque nunca desiste. Por isso é que, num dia de cheias em Lisboa e grandes limitações nos transportes públicos, foi recebido com aplausos quando chegou ao trabalho.

Mora na Tapada das Mercês, em Sintra, e trabalha em Lisboa, como operador de caixa do El Corte Inglês. Os horários variam, mas o percurso é sempre o mesmo e há rotinas que não mudam: no dia anterior, religiosamente, Mamadu preenche o formulário da CP (Comboios de Portugal) para requerer a ajuda de um revisor para lhe estender a rampa. Deve fazê-lo até seis horas antes da viagem, indicar o lugar e hora de partida.

Mas é como diz: “isto só me faz lembrar que sou um deficiente”.

Esta é a história contada no quarto episódio da série documental realizada pela Mensagem. Uma oportunidade para questionarmos: “Cidades para quem?”, a pergunta que deu nome à série.

Veja aqui o quarto episódio, “Direito à acessibilidade”:

YouTube video

Saiba mais sobre a série aqui.

Todos os episódios disponíveis:

1 – “Direito à família” – Filipa abdicou de viver com a filha por causa dos transportes. Três horas e três transportes separam a casa e o trabalho
2 – “Direito ao lazer” – Carlos migrou para São João da Talha e pôs em risco o direito ao lazer, por já não morar em Lisboa
3 – “Direito à independência” – Que privilégio dá o carro a uma mãe que percorre o dia pela AML, com filhos às costas? A história de Eduarda
4 – “Direito à acessibilidade” – Mamadu tem de avisar sempre que vai trabalhar e nem sempre consegue lá chegar. Como as cidades não estão preparadas para uma cadeira de rodas

Ficha Técnica:
Produção – Catarina Reis e Frederico Raposo
Imagem e edição – Inês Leote

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