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AgroInovar
A ciência como motor do desenvolvimento da agricultura

Painel de debate “A importância do investimento na agricultura no caminho da inovação”

A ciência como motor do desenvolvimento da agricultura

Especialistas debatem o papel da inovação no futuro do setor agro-industrial em Portugal


Publicado em 7 de Junho de 2024 às 17:46

Inovação, agricultura de precisão, novos quadros comunitários de apoio ao setor, escassez de mão-de-obra, alterações climáticas e acesso a linhas de financiamento para projetos agrícolas foram alguns dos temas em destaque na I Conferência Agroinovar promovida pelo novobanco na cidade do Fundão.

Esta primeira sessão do ciclo de conferências, que o novobanco pretende organizar por várias cidades do país, reuniu um conjunto de empresários e especialistas do setor que abordaram alguns dos temas mais relevantes para o futuro da agricultura nacional.

“O setor representa 7 por cento de valor acrescentado bruto da economia, 14% na exportação de bens e 6% do total de empregabilidade, com perto de 300 mil empregos”, explicou Miguel Ferreira diretor coordenador de Empresas Norte do novobanco na abertura dos trabalhos.

Para Carla Carvalho, consultora sénior na Consulai (empresa de referência na prestação de serviços de consultoria no mundo rural em Portugal), o setor primário, nas últimas duas décadas, “não tem conseguido criar valor, com os consumos intermédios a terem um crescimento muito superior à produção”. Mesmo assim, “o investimento agrícola tem evoluído de forma muito positiva. Desde 2017 o investimento agrícola tem superado os mil milhões de euros de investimento anual.

O caminho da inovação

No debate “A importância do investimento na agricultura no caminho da inovação”, o presidente da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP), Henrique Silvestre Ferreira, deixou uma mensagem de esperança: “Queremos que a agricultura em Portugal tenha futuro, mas é necessário cativar jovens. A idade média do agricultor português é de 64 anos e isso mostra bem que é um setor envelhecido que precisamos urgentemente de rejuvenescer.” Para aquele responsável associativo, a dificuldade de acesso às terras e a financiamento para projetos agrícolas são os primeiros grandes obstáculos para criar um ecossistema produtivo atraente para os mais jovens e capaz de gerar valor.

É preciso investir e apoiar a transição energética, a transição digital, a inovação, a formação de cadeias de valor, a capacitação dos agentes e o Estado e a banca devem estar disponíveis para apoiar todo este esforço de transição.

Paulo Fernandes, presidente da Câmara Municipal do Fundão

Um exemplo de inovação num projeto agrícola é a empresa Obagafruit, especializada na distribuição e venda de frutos vermelhos. O administrador Diogo Almeida afirmou que “95% da produção é para exportação e que a Obagafruit tenta que os produtores tenham acesso às melhores variedades de fruta e aos melhores preços, por forma a valorizar o produto.” Aquele empresário sublinhou algumas das dificuldades que “passam pelo próprio acesso à terra, com o apoio aos pousios a serem parcos. Depois há também os intrincados processos burocráticos de certificação, demasiado complexos e caros para pequenos e médios agricultores.”

Com aproximadamente 4000 hectares de amendoal, a Duck River é um dos maiores grupos empresariais na campina de Idanha-a-Nova. “A inovação e a diferenciação do nosso grupo é a recolha de dados e uso da tecnologia, com informação digitalizada e que nos permitem ter condições necessárias para continuarmos a prosperar”, diz o CEO da empresa Duarte Correia. Sobre dificuldades e desafios, explica: “Na banca, os prazos de amortização e muitas vezes os períodos de carência associados são curtos, pois há muitas culturas, sobretudo as de árvore, que só começam a produzir a partir do quarto ano.” E faz o apelo: “Temos de desburocratizar e acelerar licenciamentos nas Câmaras Municipais e tem de se pensar em investimentos para apoios na irrigação, que pode mudar o país.”

A ciência como motor do desenvolvimento da agricultura

Paulo Fernandes, presidente da Câmara Municipal do Fundão

Já Paulo Ribeiro, presidente da Cerfundão, empresa de referência na fruticultura da região defendeu que um dos principais problemas é a imprevisibilidade climática o que dificulta garantir produção estável. “Isso associado ao problema da absurda valorização do preço das terras por causa da procura por fundos de investimento, tem criado dificuldades para quem se quer iniciar num negócio de risco como é este. O mesmo empresário defendeu ainda que “apesar da banca estar mais recetiva a apoiar a agricultura, faltam instrumentos mais flexíveis e adequados à realidade de cada setor, nomeadamente na cobertura dos seguros agrícolas.”

A Cerfundão fatura seis milhões de euros por ano e mantém uma estratégia de permanente investimento na inovação, refere o presidente, Paulo Ribeiro: “Testamos novas variedades de cereja, pêssego e inovamos no trabalho do embalamento e conservação da fruta. Atualmente, 95% da produção é resultante de variedades anteriormente experimentais.”

Testamos novas variedades de cereja, pêssego e inovamos no trabalho do embalamento e conservação da fruta. Atualmente, 95% da produção é resultante de variedades anteriormente experimentais.

Paulo Ribeiro, presidente da Cerfundão

O concelho do Fundão tem cerca de 200 milhões de euros anuais associados à produção agrícola e agroindustrial. O presidente da Câmara Municipal, Paulo Fernandes, explica que toda essa diversificação produtiva representa um terço no total da produção de «riqueza para o concelho: “A cereja valerá cerca de 20 milhões de euros anuais, o queijo 35 milhões, o pêssego entre 7 a 8 milhões; a amêndoa próximo dos 20; frutos vermelhos com 6 a 7 milhões; carne de borrego, perto dos 20; vinho cerca de 6 milhões; azeite 8; cannabis medicinal próximo dos 12 milhões, mas que podem facilmente atingir os 35.”
Para o autarca os principais desafios do setor situam-se no domínio das transições: “É preciso investir e apoiar a transição energética, a transição digital, a inovação, a formação de cadeias de valor, a capacitação dos agentes e o Estado e a banca devem estar disponíveis para apoiar todo este esforço de transição.” Para o autarca “o acesso à água e o alargamento e requalificação do Regadio da Cova da Beira são temas estruturantes que não podemos adiar mais”, concluiu.