Greves caem 42% na pandemia e deixam de buscar novos direitos

Em 2020, 9 entre 10 paralisações foram para exigir obrigações legais, como receber salário em dia

Juca Guimarães
São Paulo

O total de paralisações de trabalhadores em 2020, ano de início da pandemia de coronavírus, foi 42% menor do que a soma das greves de 2019, segundo balanço do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), caindo de 1.118, em, 2019, para 649, em 2020.

Os dados mostram ainda que 9 em 10 greves realizadas em 2020 foram do tipo defensiva, ou seja, para reivindicar direitos trabalhistas básicos. O tempo médio das paralisações foi de 30 horas e cerca de 60% delas —376— foram movimentos que duraram só um dia.

Das greves defensivas, 56% foram contra o descumprimento de direitos, como a falta de pagamento de salários, bonificações e horas extras. Em 48% delas, as queixas eram pela manutenção de benefícios que seriam retirados.

“O que se tem visto nos últimos dez anos é uma dinâmica de ciclo, com ascensão e estabilização em um número alto, de 2.000 [greves] por ano, e, agora, vemos uma diminuição no total”, avalia Rodrigo Linhares, do Dieese.

Linhares destaca que a greve não é a única atividade dos sindicatos e que existem outras formas de se chegar a acordo com a classe patronal. “A greve é a ação mais visível, mas os sindicatos também fazem negociações e têm outras formas de luta por direitos. Além disso, os sindicatos passam por reorganização, por conta dos impactos da reforma trabalhista.”

Para João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical, essa readaptação do movimento sindical também tem conexão com uma análise da conjuntura econômica do país, que não é favorável para greves. Segundo ele, o momento é de lutas defensivas.

“A realidade se impõe às ações sindicais. O descumprimento dos acordos é o que leva à greve, como atraso de pagamento, de 13º ou algo assim", afirma Juruna.

"Em momentos de crise, de baixa produção e desemprego, as greves diminuem e o foco é aquilo que se perdeu, e não o avanço do que poderia ser conquistado."

O secretário-geral da CUT-SP, Daniel Calazans, acredita que, mesmo com as perdas da reforma trabalhista de 2017, o movimento sindical continua importante para a garantia de direitos, ainda mais na pandemia. “O sindicato desperta no trabalhador o senso de coletividade para resistir e contrapor", diz.

Negociações garantiram empregos em 2020

Para o secretário-executivo da CSP-Conlutas, Antágoras Lopes, as greves de 2020, mesmo sendo em número inferior às de 2019, podem ser consideradas positivas por causa da pandemia.

“A disposição de greve, maior no setor privado do que no setor público, demonstra a vitalidade da tradição de organização dos trabalhadores, mesmo diante de uma crise sanitária sem precedentes", diz.

"Temos que lembrar que cerca 11 milhões de trabalhadores, entre 2020 e início de 2021, aceitaram a redução de salários por garantia de emprego”, afirma Lopes.

O Dieese conseguiu apurar o resultado das greves em 207 casos. Em 106, houve atendimento integral ou parcial das reivindicações. Na iniciativa privada, o setor que mais parou foi o de serviços, com 77,9% do total. A área inclui bancários.

“Entre 2004 e 2019, a categoria teve aumento real acumulado de 23,5% nos salários e de 44,7% no piso. A Campanha Nacional Unificada de 2020 entra para a história como uma das mais difíceis na pandemia mundial. Tivemos uma dura negociação” diz Ivone Silva, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

Outro sindicato com tradição em negociação é o dos Metroviários. Na última semana, pararam por um dia, gerando aglomeração. “Fizemos a proposta de catraca livre para não prejudicar quem precisa do transporte”, diz Altino de Melo Prazeres Júnior, 54 anos, coordenador do sindicato.

Em nota, o Metrô informou que a liberação das catracas seria um “ato de improbidade administrativa” e iria “comprometer ainda mais a situação financeira do Metrô”. Além disso, seria uma despesa paga pelos impostos da população.

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