Até os grandes mestres e gênios como Didi têm seus momentos de simples mortais. Foi assim com o fluminense Valdir Pereira, de 72 anos, o inventor da folha-seca - aquela bola que descrevia uma curva fantástica , na cobrança de falta, e caía no ângulo, inalcançável para os goleiros - e autor de frases célebres no futebol brasileiro. E que faz parte do exclusivo hall da fama do futebol, na sede da Fifa, em Zurique.

A história desse mestre do futebol começou no Goytacaz, de Campos, sua terra natal. Enquanto o planeta fervilhava com a 2ª Guerra Mundial, em 1944, um garoto de 16 anos já encantava com seu talento e elegância. Foi nesse ano que ele chegou ao Rio, para vestir a camisa do Madureira. Ficou só uns meses e arriscou-se numa empreitada no interior paulista, em Lençóis, onde se tornou profissional.

Em 1946, estava de volta ao Madureira, que tinha um quarteto inesquecível : Isaías, Lelé, Jair e Esquerdinha. Em 1949, por 500 mil cruzeiros, foi vendido para o Fluminense. Ele não chegou a atuar na Copa de 1950, mas inscreveu seu nome na história do Maracanã. Foi dele o primeiro gol no estádio recém-construído, num amistoso entre as seleções carioca e paulista.

Em 1952, sua estréia na seleção com o título pan-americano

Didi só vestiria a camisa da seleção brasileira pela primeira vez em 1952, quando o Brasil tornou-se campeão pan-americano, no Chile. Em 1954, participou de seu primeiro Mundial, no qual o Brasil foi eliminado pela poderosa Hungria, de Puskas e companhia.

Por dois milhões de cruzeiros, o Botafogo tirou Didi do Fluminense, em 1955. No alvinegro, ao lado de Nílton Santos, Zagallo e Garrincha, entre outros craques, ele ganhou vários títulos. Mas foi em 1957, pela seleção brasileira, que a sua já brilhante carreira ganhou contornos definitivos.

Foi com um gol de falta contra o Peru que seu futebol melhorou de cotação. Didi disputava a posição no meio-campo com o novato Moacir, do Flamengo, que sempre se destacava nos treinos. Mas o mestre acabou tomando conta da camisa 8 da seleção, soltando, de quebra, uma frase que hoje faz parte do folclore do futebol: ''Treino é treino, jogo é jogo''. Tinha razão.

Didi viveu os anos de glória do futebol brasileiro. Chegou a ter uma passagem rápida pelo Real Madri, em 1959, mas voltou ao Brasil nos braços da torcida do Botafogo. Foi também em 1959, pela seleção brasileira, que surgiu uma outra faceta do mestre : ficou famosa uma foto de Didi dando uma tesoura voadora em vários uruguaios numa briga generalizada contra os velhos rivais.

Bellini estava apanhando de quatro. Eu tinha de parar aquela covardia - explicou.

Aos 33 anos, a consagração com o bicampeonato no Chile

A equipe brasileira que ganhou a Copa de 1962 era quase a mesma de 1958, mas com média de idade que ultrapassava os 30 anos. O próprio Didi já tinha 33. Aí surgiu outra frase célebre do mestre :

Quem tem de correr é a bola, não o jogador - ensinava Didi, lembrando que já não era mais um menino para se desgastar.

Como treinador, Didi foi um andarilho. No Brasil, treinou três times : Fluminense, Botafogo e Cruzeiro. No tricolor, com sua fala macia mas convincente, fez da Máquina montada por Francisco Horta, com Rivelino e cia., um time respeitável. Esteve também na Argentina, treinando o River Plate, onde de uma vez só barrou todas as estrelas do time, que não queriam se empenhar. Ousado, lançou os juvenis e foi campeão. Esteve na Turquia e na Arábia Saudita. Mas foi no Peru, dirigindo a seleção do país, que viveu uma grande emoção: enfrentar o Brasil nas quartas-de-final da Copa do Mundo de 1970, no México.

O último time que dirigiu foi o Alianza, de Lima. Escapou da morte por pouco: por razões médicas, pediu uma licença 20 dias antes de um acidente aéreo que mataria toda a equipe. A morte que, em 12 de maio de 2001, ele não conseguiu driblar.

Folha-seca, uma cobrança de falta que virou sinônimo de habilidade e perfeccionismo

Folha-seca, uma cobrança de falta que virou sinônimo de habilidade e perfeccionismo 11/05/1958 / Agência O Globo