Expedi��es pelo pa�s atestam decl�nio de rio das Velhas e Velho Chico
No final de 1969, os amigos F�bio Marton, na �poca estudante de hist�ria natural da UFMG, e Derek Walter, j� morto, seguiram os passos do explorador brit�nico Richard Burton pela regi�o do rio S�o Francisco em Minas.
Em 1867, Burton, desceu o rio das Velhas, em Minas Gerais, e seguiu pelo rio S�o Francisco at� o mar, entre junho e novembro, cruzando o interior de um Brasil que profetizava como pa�s do futuro.
"A gente resolveu planejar essa viagem, para ver como estava o rio e comparar com a situa��o retratada pelos antigos viajantes", explica Marton, 76, hoje consultor ambiental aposentado.
"Um rio que foi decantado no livro do Burton como espet�culo de vida selvagem era ent�o um rio morto", diz.
A dupla encontrou � venda numa loja "uma coisa parecida com um caiaque", feita de compensado e de apar�ncia fr�gil. Como nadavam "muito mal", garantiram tamb�m coletes salva-vidas.
Entraram no rio das Velhas em 5 de janeiro de 1970, na altura da barra do ribeir�o Arrudas, na Grande Belo Horizonte. Os primeiros dias foram tranquilos, acampando nas margens e tentando pescar. No quinto dia, de um total de 15, foram parados pela pol�cia, que buscava um prisioneiro foragido.
Estranhando a situa��o -estudantes da capital descendo o rio em plena ditadura- a pol�cia os convenceu a pernoitar numa pens�o, enquanto seus nomes eram checados no Dops (Departamento de Ordem Pol�tica e Social) em Belo Horizonte.
No dia seguinte, seguiram viagem. O restante do percurso foi calmo, "at� assim uma coisa meio mon�tona", diz Marton. Acordaram cedo e comeram goiabas pelos barrancos at� as ru�nas da igreja Bom Jesus de Matozinhos, em Barra do Guaicu�.
Nas previs�es burtonianas, o local seria a esquina da "grande art�ria", ligando o cora��o do Brasil ao mundo exterior. No entanto, na vila, distrito de V�rzea da Palma, al�m das ru�nas e de sua gameleira, a �nica atividade vis�vel � a retirada de areia do trecho final do curso d'�gua.
Os dois ficaram decepcionados pela falta de vida selvagem. "No final, a gente queria que acabasse, era uma tristeza porque era um rio muito morto", diz Marton.
OUTRAS EXPEDI��ES
Morador de S�o Bartolomeu, distrito de Ouro Preto, o ambientalista e produtor rural Ronald Guerra � o canoeiro mais frequente a seguir nas remadas de Burton.
Coordenador-geral do Subcomit� Nascentes, que integra o Comit� da Bacia Hidrogr�fica do Rio das Velhas (CBH Velhas), ele � o �nico caiaqueiro que participou das tr�s expedi��es do Projeto Manuelz�o, iniciativa que luta pela revitaliza��o da bacia do rio, maior afluente do Velho Chico.
Segundo ele, de 2003 para 2009 e depois, 2017, a quantidade de �gua diminuiu. Os ganhos observados na redu��o da polui��o foram anulados pelo aumento do consumo. A navega��o acabou no rio das Velhas e, no S�o Francisco, quase se extinguiu.
O vapor Benjamin Guimar�es, que "estava em reforma em 2003 e acompanhou a gente num trecho em 2009, agora est� encalhado em Pirapora", afirma Guerra.
Passageiro do extinto vapor Venceslau Br�s, que conheceu numa viagem de f�rias em 1976, In�cio Neves percorreu nos �ltimos 13 anos todos os trechos do Velho Chico no comando do projeto Cinema no Rio S�o Francisco, que concluiu em agosto sua 12� edi��o, projetando e produzindo filmes para popula��es ribeirinhas. "Por nove anos, realizei o projeto com uma equipe dentro de um barco. Esta � a terceira edi��o feita por terra. O rio n�o � naveg�vel, n�o tem jeito", diz.
Testemunha, ano ap�s ano, do decl�nio do rio e pessimista sobre a possibilidade da volta da navega��o, Neves compara a situa��o do S�o Francisco � da trag�dia no rio Doce em 2015. "Aqui o desastre � camuflado e silencioso."
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