Resumo O jornalista aposentado Luiz Carlos Cordeiro, 82, ainda guarda em casa algumas reportagens que escreveu para a Folha nos anos 1960. Recentemente, resgatou um texto que foi publicado em 24 de julho de 1966, v�spera do dia de S�o Crist�v�o, padroeiro dos motoristas. A mat�ria trazia a hist�ria do primeiro chofer de S�o Paulo.
Gabriel Cabral/Folhapress | ||
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Luiz Carlos Cordeiro na garagem de casa, em Interlagos (zona sul de S�o Paulo) |
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Eu escrevia para o caderno de Esportes da Folha, cobria jogos e treinos dos times da capital e gostava muito disso, porque adorava futebol. Sou torcedor do Palmeiras.
Tamb�m fazia mat�rias extras no pr�prio jornal, para ganhar um dinheiro a mais no fim do m�s. Esses textos eram chamados de pautas frias e n�o eram assinados.
Na maior parte das vezes, eu recebia a pauta do Geraldo Rodrigues, o redator-chefe. Foi assim com a mat�ria que escrevi, em 1966, sobre Artur Jollenbeck, que tinha 73 anos e na �poca era o motorista profissional mais velho de S�o Paulo.
Foi o primeiro da cidade, um leg�timo chofer com roupa preta da d�cada de 1910.
O Geraldo o conhecia e j� tinha acertado todos os detalhes para fazermos com ele a tradicional reportagem sobre o dia de S�o Crist�v�o, padroeiro dos motoristas.
Peguei o endere�o e l� fomos eu, o fot�grafo e o motorista do jornal. Sa�mos de manh� cedo, a bordo de um jipe Rural Willys.
Artur era bem l�cido, conversamos por horas. Ele me mostrou sua carteira de motorista, que naquele tempo era chamada de certificado de habilita��o. Eu obviamente n�o me lembraria da data de emiss�o do documento, mas coloquei na reportagem: 23 de dezembro de 1911.
PAIX�O
Eu sempre gostei de carros e de automobilismo. Al�m de mat�rias sobre corridas no Aut�dromo de Interlagos, escrevi por alguns anos o jornal interno da f�brica da Volkswagen, e isso me ajudou bastante na entrevista com o Artur.
Ele dirigiu carros interessant�ssimos, como um Maxwell canadense com freio e embreagem num �nico pedal. Dizia tamb�m ter dirigido o primeiro autom�vel trazido para S�o Paulo, um Spa italiano convers�vel com rodas maci�as, segundo ele.
Gabriel Cabral/Folhapress | ||
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Luiz com c�pia da p�gina impressa em 24 de julho de 1966 |
Como eram carros dific�limos de conduzir, perguntei sobre acidentes. E, sim, ele foi tamb�m o precursor de batidas na capital. S� n�o me pergunte detalhes, porque disso eu j� n�o me lembro.
Ap�s a entrevista, voltei � reda��o para escrever o texto. No fim do dia, entreguei a mat�ria para o Geraldo, que me chamou para conversar minutos depois. Ele queria falar sobre um dos trechos da reportagem, que relatava o per�odo em que o senhor Artur trabalhou como chofer do Servi�o Sanit�rio.
Isso foi em 1918, quando a gripe espanhola se espalhou por S�o Paulo. Contei um pouco sobre seu trabalho de transportador de corpos.
Artur levava os mortos para serem enterrados em valas comuns. Tinha destacado alguns momentos delicados que ele enfrentou, mas o Geraldo mandou eu tirar essa parte. Obedeci a ordem.
Mesmo sem ter meu nome, fiquei bastante orgulhoso quando vi a reportagem impressa. Acho que, at� hoje, todo jornalista gosta de ter em m�os um jornal com sua reportagem, n�o �?
Gabriel Cabral/Folhapress | ||
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Credencial do jornalista aposentado Luiz Carlos Cordeiro |