Serafina
Atriz Charlize Theron fala sobre maconha e o assassinato de seu pai
Emily Berl/The New York Times | ||
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Atriz Charlize Theron em Los Angeles, 22 de junho 2017. |
Durante as filmagens de "Advogado do Diabo" (1997), Charlize Theron se preparava para entrar em cena como a linda mulher do advogado vivido por Keanu Reeves. Ela observava um dos seus �dolos, Al Pacino, interpretando o dem�nio. Ele terminou a performance, olhou para a iniciante e disparou: "Posso fazer esse papel porque sou um ator e sei que nada de ruim acontecer� comigo". O conselho involunt�rio deixou uma marca que dura at� hoje na sul-africana.
"Pensei como aquilo era bacana e torci para que um dia interpretasse personagens desprez�veis e diferentes da minha personalidade. Temos passe livre para extrapolar sem prejudicar o carma", diz Charlize, batendo tr�s vezes na mesa de madeira. "Pelo menos � o que espero. Te conto em alguns anos o que aconteceu. Mando uma mensagem l� de cima para voc�".
N�o que uma das maiores estrelas de Hollywood esteja perto de conhecer seu destino final. Aos 43, Charlize Theron est� em plena forma, dedicada � cria��o dos filhos adotivos Jackson, 6, e August, 2, fatura milh�es, produz s�ries de sucesso como "Mindhunter", do Netflix, e interpreta personagens diferentes de si e entre si, como desejou h� mais de 20 anos.
Neste momento, ela pode ser vista nos cinemas como uma executiva inescrupulosa na com�dia "Gringo - Vivo ou Morto" (estreou em 3/5), de Nash Edgerton, e uma m�e lidando com depress�o p�s-parto em "Tully" (estreou em 24/5).
Os dois pap�is s�o opostos, mas exigem acesso ao lado mais sombrio da atriz.
"Parece que gosto de personagens dark, o que n�o � verdade. Prefiro filmes honestos, n�o importa o g�nero. N�o quero viver nas trevas, como pensam alguns."
Trag�dia familiar
Essa presun��o tem origem em sua biografia. Quando Charlize tinha 15 anos, em Benoni, na �frica do Sul, seu pai, Charles, e um tio chegaram b�bados � casa onde a menina vivia com a m�e, Gerda, e come�aram a atirar contra as paredes. Quando o homem atirou contra o quarto da filha, Gerda pegou um rev�lver, matou o marido e feriu o cunhado. O epis�dio, segundo Charlize, n�o a traumatizou, mas crescer com um alco�latra fez a menina procurar terapia aos 20 anos, quando j� tinha trocado as passarelas e as sapatilhas pela atua��o.
Cegonha
A atriz tamb�m conta que ter sido criada durante o regime de segrega��o racial do Apartheid lhe afetou. "Imposs�vel n�o deixar marca numa crian�a", diz ela, que n�o aceita trabalhos em determinados estados americanos contr�rios ao casamento gay ou sem pol�ticas firmes de igualdade.
"Cresci em um pa�s com muito tumulto, sofrimento e desigualdade. Isso me fez prometer que faria de tudo para que n�o acontecesse de novo em qualquer lugar que estivesse."
Mas agora ela est� focada em ser m�e, como sua personagem em "Tully", que v� a vida mudar nas primeiras semanas p�s-parto da terceira filha.
"N�o passei pela experi�ncia da gravidez. Uma cegonha trouxe meus beb�s", brinca Charlize sobre a escolha da ado��o, algo que tinha planejado desde cedo na vida.
A atriz, no entanto, cuidou de dois rec�m-nascidos e se identificou com a mulher nos limites que interpreta no filme.
"Com meu primeiro filho, s� pensava se estava fazendo tudo certo. Tinha noites em que ele n�o parava de chorar, eu me trancava no banheiro, olhava para o espelho e estava toda suada, com o cabelo grudado na pele. A segunda foi mais tranquila."
Outra coisa que ajudou na constru��o da personagem foi a mudan�a do corpo. A atriz engordou 22 quilos para fazer "Tully" e o peso extra n�o passou despercebido.
"Nunca tinha lidado com depress�o, mas mergulhei em uma profunda. N�o tinha energia, s� ficava sentada no sof�", diz ela, que chegou a tomar 12 latas de refrigerante por dia.
"Demorei um ano e meio para me livrar do peso."
Maconha
Uma preocupa��o que ela n�o tinha na adolesc�ncia e na juventude. "Eu era a maior maconheira". Ela afirma que parou de fumar depois dos 30 anos, mas que pode reconsiderar por causa da legaliza��o da maconha na Calif�rnia.
"Vi o que a maconha medicinal proporcionou para pessoas com problemas de sa�de. Ajudou at� a minha m�e, que tinha um problema no p� e melhorou com um creme � base de marijuana."
Declara��es assim raramente sa�am da boca da jovem Charlize Theron. Hoje em dia, ela nem quer saber do que esperam de um dos rostos mais famosos de Hollywood.
"A vida n�o � um ensaio. S� temos uma chance aqui e n�o quero chegar aos 80 anos e, no meu leito de morte, sussurrar: 'Deus, gostaria de ter sido eu mesma durante minha vida'".
Al Pacino e seu dem�nio devem estar orgulhosos.
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