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Com show marcado no Lollapalooza, Rincon Sapi�ncia une rock afro e rap

Renato Stockler
Rapper Rincon Sapi�ncia.
Rapper Rincon Sapi�ncia.

O sonho de menino de Danilo Albert Ambrosio era o mesmo de muitos outros: ser jogador de futebol. Levava jeito com a bola e seus pais acreditavam que ele poderia ter sucesso em uma carreira profissional no esporte.

No final dos anos 1990, ele vivia sua adolesc�ncia na Cohab, habita��o popular em Itaquera, zona leste de S�o Paulo. Uma onda de bandas de garagem, que surgiu entre jovens do bairro, o influenciou.

J� em 2000, Danilo criou um grupo musical. Tomou gosto pela arte, deixando de lado as chuteiras e a bola para soltar a voz no microfone. "A maioria das bandas [criadas em Itaquera] faziam cover, mas eu j� tinha minhas letras", contou o agora rapper Rincon Sapi�ncia, 32.

A busca pela autenticidade musical � uma marca de Sapi�ncia e o levou a misturar rap com ritmos africanos, afro-brasileiros e batidas eletr�nicas. "Eu chamo isso de afro rap. Minha base � mais a m�sica afro do que as tend�ncias norte-americanas", afirma.

A diversidade de g�neros que o rapper coloca em suas m�sicas o ajuda a abra�ar um p�blico tamb�m diverso. No carnaval de rua paulistano deste ano, se apresentou para 50 mil pessoas na regi�o central de S�o Paulo.

Tamb�m em fevereiro, ele fez parceria com Sidney Magal na m�sica "Um brinde � vida". A can��o faz parte das comemora��es dos 50 anos de carreira do cantor de "Sandra Rosa Madalena". No single, que fala sobre amor, conquista e sensualidade, Sapi�ncia canta: "Um brinde � vida � sempre legal. E como disse Magal: quero v�-la sorrir".

Na sexta-feira, dia 23, � a vez do Lollapalooza receber as batidas e os versos do rapper. Ele vai se apresentar no Palco Budweiser, pouco antes de Chance The Rapper e Red Hot Chili Peppers. "A gente est� se preparado muito para se divertir e n�o sentir a press�o [em estar em um grande evento]", diz o cantor que se apresenta pela primeira vez no festival.

�rea de confronto

As novidades continuam na carreira do rapper. No �ltimo dia oito, ele colocou no ar o single "�rea de Confronto". Acompanhado de videoclipe com est�tica carnavalesca, a m�sica fala sobre representatividade na maior festa popular do Brasil.

Galanga Livre

O lan�amento de seu primeiro �lbum, "Galanga Livre", pelo selo Boia Fria Produ��es, foi no ano passado, depois de 17 anos de carreira, e direcionou novamente os olhos e ouvidos do p�blico ao cantor, que volta a ter protagonismo na cena musical, depois do sucesso de "Eleg�ncia", single de 2009.

A est�tica musical que caracteriza o rapper, presente em trabalhos anteriores, ganhou plena forma no �lbum. As can��es foram gravadas em seu quarto. Para evitar ru�dos do tr�nsito, tapava a janela com cobertores.
Nas 11 faixas e mais duas b�nus tracks, � poss�vel perceber o encontro do rap com funk, samba, ciranda (ritmo pernambucano), capoeira, afrobeat e rock africano.

A cr�tica gostou do ouviu e viu. Em 2017, Sapi�ncia, com "Galanga Livre", levou tr�s categorias do Pr�mio Multishow de M�sica Brasileira (melhor capa, artista revela��o, melhor produtor). O �lbum foi eleito o melhor do pa�s pela revista Rolling Stone e ele foi escolhido artista do ano pela Associa��o Paulista de Cr�ticos de Artes.

Rei do Congo

O encontro com a africanidade aconteceu em 2012, quando visitou o continente africano e encontrou inspira��o para dar forma ao afro rap. "Toda essa ousadia de fazer o que fa�o ganhou for�a nessa viagem", conta Sapi�ncia, que visitou Senegal e Maurit�nia.

O interesse pela sua ancestralidade africana o levou a fazer "intensa pesquisa sobre as monarquias do continente africano". Da investiga��o, saiu seu segundo nome art�stico, Manicongo, "como eram chamados os reis do Congo", conta.

afro rep

A sua viv�ncia reflete em seu trabalho. O ritmo empolgante que marca a batida de Sapi�ncia se une as letras carregadas de cr�tica social.

A quest�o racial � colocada de diversas formas em suas can��es, muitas vezes com humor e malemol�ncia. Como no single "Afro Rep", lan�ado em dezembro, em um dos versos ele manda "um salve para o William Waack", jornalista que deixou a TV Globo depois de vazamento de v�deo de conte�do racista.

A inf�ncia de Sapi�ncia "foi pobre e feliz", mas ele cresceu sofrendo situa��es racistas. "S�o epis�dios que n�o tem como esquecer".

Senhor de engenho

O "Galanga", que d� nome ao novo disco, � Chico- Rei. Conhecido na hist�ria oral mineira, o personagem � um rei do Congo que veio para o Brasil como escravo. Na releitura de Sapi�ncia, o monarca congol�s cometeu um "Crime B�rbaro" (nome da segunda faixa do �lbum): matou o senhor de engenho para conseguir a liberdade. "Escravos apoiam meu desempenho. Fui eu que matei o senhor de engenho", diz a m�sica.
Ainda � necess�rio "matar o senhor de engenho", afirma. "� preciso matar a estrutura que tira sua liberdade". Para ele, o racismo, homofobia e o mercado de trabalho desigual s�o exemplos de senhores de engenho atuais.

Sapi�ncia se junta a outros nomes, como Emicida e Criolo, e leva o rap para um p�blico mais amplo, al�m da periferia. "Al�m de consumir, jovens de classe m�dia tamb�m est�o fazendo rap", diz."Acho interessante. N�o sou contra um branco fazer ou consumir rap, desde que ele consiga ouvir e identificar com m�sica preta, cultura preta".

O novo sonho de Sapi�ncia � ouvir o rap tocar nas r�dios da mesma forma que o sertanejo ou o samba. De acordo com ele, isso � quest�o de tempo. "A gente precisa se preparar para que quando isso acontecer, os beneficiados sejamos n�s, que estamos movimentando a engrenagem, saca?".

Por enquanto, Sapi�ncia, que se considera "um cara espiritual", com passagens pelo Budismo, Movimento Rastaf�ri, Seicho-no-ie e crente em extraterrestres, "se esfor�a para ter um �cio criativo" em seu quarto, onde recebeu a reportagem, na procura de inspira��o para novas m�sicas.

Em meio a uma cama de solteiro e um guarda-roupas, ele montou seu est�dio. A escrivaninha aloca um computador de mesa e um notebook. Do lado est� o microfone, teclado e alguns instrumentos de percuss�o.
Alguns discos de vinil em uma caixa de papel�o encostada no canto do quarto completam o espa�o onde o cantor pesquisa, cria, comp�e e grava suas can��es.

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