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Rep�rter de guerra, Susan Meiselas se emociona ao relembrar suas fotos

Susan Meiselas
Trabalho da fot�grafa Sudan Maiselas sobre viol�ncia dom�stica. ORG XMIT: MES1981016K014 ***DIREITOS RESERVADOS. N�O PUBLICAR SEM AUTORIZA��O DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Trabalho da fot�grafa Sudan Maiselas sobre viol�ncia dom�stica

Susan Meiselas para de falar por um segundo. Os olhos cheios d'�gua traem o que uma das rep�rteres fotogr�ficas mais importantes do planeta costuma conter. � dif�cil imaginar o que faz dobrar uma jornalista que h� 40 anos acompanha guerras nas quais produziu imagens ic�nicas como a do guerrilheiro da Nicar�gua no instante em que vai jogar um coquetel molotov ou o corpo de uma v�tima de grupos de exterm�nio jogado no mato de uma paisagem buc�lica, meio devorado por urubus e a espinha dorsal exposta.

Mas naquele momento, em Londres, ela quase chorou. Foi em maio, no lan�amento de seu livro mais recente, "A Room of Their Own", que assina "Susan Meiselas com mulheres em abrigos" porque, al�m das fotografias que tirou em um ref�gio para v�timas de viol�ncia dom�stica no interior da Inglaterra, as p�ginas reproduzem manuscritos, desenhos e depoimentos que as internas produziram ao longo de um per�odo de cerca de dois anos. Em muitas p�ginas, a maior emo��o pode estar no relato da hist�ria de uma dessas mulheres que, em pleno s�culo 21, em um pa�s do "Primeiro Mundo", sofre viol�ncia f�sica e toda sorte de amea�as, a ponto de sair de casa para morar em um ref�gio n�o identificado (as fotografias n�o mostram detalhes que permitam localizar a casa ou reconhecer as v�timas).

Ao lembrar a cena, na semana passada, j� em Nova York, onde mora, ela disse: "Eu tento manter minhas emo��es para dentro, mas elas se imp�em de maneiras imprevis�veis!"

Do in�cio de junho at� o final de agosto, Susan n�o parou um dia, viajando em diferentes trabalhos. Pergunto quantos quil�metros roda por ano: "N�o tenho a m�nima ideia. Eu costumava fazer viagens de 6 a 8 semanas, ficar totalmente desconectada por um tempo, sem celular ou internet. Perdi a conta mas viajo muito".

Seu nome provoca entusiasmo em amantes de fotografia e das causas que abra�a, como o combate � viol�ncia contra a mulher. Os eventos em Londres tiveram ingressos esgotados semanas antes. "Esses encontros fora da comunidade fotogr�fica s�o vitais para mim", diz.

Sua agenda este ano tem sido potencializada tamb�m pelos muitos eventos de comemora��o dos 70 anos da ag�ncia Magnum, a cooperativa fundada por Robert Capa (1913-54) e Cartier-Bresson (1908-2004), da qual � s�cia desde 1976, quando tinha 28 anos.

Ser parte da Magnum �, em si, uma prova de grande reconhecimento. At� a morte de Capa, s� entrava na ag�ncia quem ele convidava, pessoalmente. Depois, os s�cios passaram a indicar nomes que devem ser aprovados por todos os outros, uma esp�cie de "dream team" da fotografia.

Susan Meiselas
Trabalho da fot�grafa Sudan Maiselas sobre viol�ncia dom�stica. ORG XMIT: MES2015010G10160055 ***DIREITOS RESERVADOS. N�O PUBLICAR SEM AUTORIZA��O DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Trabalho da fot�grafa Susan Meiselas sobre viol�ncia dom�stica

Com toda essa aura em torno, o primeiro convite para entrar na Magnum ningu�m esquece. Susan lembra o seu: "Gilles Peress (um franc�s) foi uma das pessoas que me convidou, em 1976. Lembro-me desse dia e n�o fazia ideia de como me tornar parte da Magnum iria moldar minha vida, o que de fato aconteceu". Hoje ela � uma das refer�ncias da ag�ncia, "uma comunidade din�mica, sempre evoluindo".

Susan se tornou mundialmente conhecida por seu trabalho na Nicar�gua, desde antes do in�cio da guerra civil. Ela passou seis semanas no pa�s em 1978, observando e fotografando. Sentiu que algo iria acontecer. Foi para Nova York e prop�s um contrato com a revista "Time". De volta a Man�gua, capital do pa�s, antes da imprensa internacional acordar, testemunhou o in�cio da guerra civil. Quando a tribo dos correspondentes baixou por l�, a marca daquela guerra j� era ela.

Naqueles anos, correu muitos riscos. Pergunto se alguma vez se sentiu ultrapassando o limite da seguran�a. "Eu sobrevivi � explos�o de uma mina, tive muita sorte", conta. Foi em El Salvador, em 1981. No carro, viajavam tr�s colegas. O sul-africano Ian Mates dirigia, Susan ia no banco de passageiro e atr�s estava o fot�grafo John Hoagland (1947-84). Seguiam por uma estrada de terra quando passaram sobre uma mina e ela explodiu. Os tr�s se feriram: Mates morreu, Susan foi internada com ferimentos na cabe�a e no pesco�o e Hoagland perdeu dois dedos da m�o.

Se pudesse levar s� uma de suas fotos para uma ilha deserta, qual seria? Ela aponta uma composi��o de duas imagens feitas em um mesmo filme, no fim dos anos 1970: numa, sua irm�, gr�vida, mergulha nua em um lago; ao lado, uma foto feita na Nicar�gua, em uma plan�cie verdejante, onde se v� a cruz de um t�mulo (uma v�tima da repress�o pol�tica).

Ao explicar a escolha, a dama de ferro da fotografia deixa escapar a emo��o mais uma vez: "Para nunca esquecer de onde eu vim, antes de encontrar o meu fim. � a imprevisibilidade desse tipo de vida, que demanda paci�ncia, resili�ncia e paix�o".

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