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Silva abra�a de vez o som popular com um �lbum em que canta Marisa Monte

Pablo Saborido
O cantor e m�sico Silva, em ensaio para a revista Serafina de dezembro de 2016
O cantor e m�sico Silva, em ensaio para a revista Serafina de dezembro de 2016

A m�e decidiu que o ca�ula L�cio iria ser violinista. Ele gostava de piano, mas chegou tarde, a fam�lia capixaba j� tinha muitos pianistas. Chorava para n�o ir � aula de violino, mas depois pegou gosto.

O destino do futuro concertista mudou depois de um tempo na Europa, de onde voltou decidido a ser m�sico popular. Tanto que escolheu para essa miss�o o nome brasileiro mais popular: Silva. Ele nasceu com o nome, mas transform�-lo em r�tulo art�stico levou tempo.

"Eu demorei a me enxergar como cantor, sempre fui m�sico, tocava os instrumentos todos. Por isso queria achar o nome para um projeto. Pensei em v�rias op��es, mas tenho at� vergonha de falar", conta L�cio Souza Silva, 28, que a cada temporada vai chegando mais perto da popularidade almejada.

Em tempos de buscas di�rias na internet, ser apenas Silva � complicado. No Google, � preciso associar seu nome a palavras como "cantor", "m�sico", ou ao t�tulo de um de seus discos ou de suas can��es. "Ningu�m usa s� Silva. O dif�cil foi registrar site. Eu uso 'listentosilva', coisas agringalhadas, � o que d�."

Agora, uma op��o � procurar por "silva + marisa monte". Ele acaba de lan�ar um �lbum no qual faz vers�es para m�sicas da cantora. Se a cada um de seus tr�s primeiros discos autorais a popularidade aumentou, agora deve disparar com "Silva Canta Marisa". Das 12 faixas, uma � in�dita, "Noturno (Nada de Novo na Noite)", escrita por ele com o irm�o mais velho, Lucas, parceiro constante, e a pr�pria Marisa.

Em 2015, Silva foi convidado para participar do programa "Vers�es", do canal BIS, que coloca artistas emergentes para tocar m�sicas de nomes consagrados. Pensou em Caetano e Chico Buarque, mas, com medo das compara��es, escolheu Marisa.

Depois da exibi��o do programa, veio o convite do Sesc, em S�o Paulo, para que aquilo fosse transformado em show.

Ent�o Silva e Marisa se conheceram pessoalmente. Na primeira vez em que foi � casa da cantora, j� fizeram m�sica juntos.

N�o uma, mas logo duas.

"A Marisa � muito fominha. Voc� vai na casa dela, come�a a conversar e daqui a pouco ela diz: 'Vamos sentar no piano?'. Ela � muito pr�tica, cheia de ideias. Se deixar, cada vez que voc� a visitar sai uma m�sica. Ela � workaholic, eu admiro isso, porque sou pregui�oso." Agora o disco deve virar show, come�ando turn� no dia 17 de dezembro, em S�o Paulo.

PREGUI�A PRODUTIVA

Para quem se define pregui�oso, a produ��o de Silva impressiona. S�o quatro discos lan�ados nos �ltimos cinco anos: "Clarid�o" (2012), "Vista pro Mar" (2013), "J�piter" (2015) e o projeto com Marisa. Escut�-los em ordem cronol�gica permite a percep��o clara de uma evolu��o.

Ele foi de um som mais eletr�nico, no qual sua voz se escondia entre os instrumentos, a um formato de can��o, com letras rom�nticas simples e diretas.

"Acho que minha carreira foi acompanhando a minha evolu��o pessoal. Eu sou bem sincero, n�o tenho muito talento para essa coisa de ser personagem." Mas a timidez n�o veio da inf�ncia ou da adolesc�ncia. Era desinibido quando tocava em orquestras, talvez sob a prote��o da figura do maestro, � frente de todos. Essa coisa de virar cantor � que o deixou t�mido. Quando essa responsabilidade de ser "frontman" surgiu, veio junto a timidez. "Fui construindo uma nova confian�a aos poucos, fiz terapia, fa�o at� hoje e me ajuda � be�a."

Ele foi morar na Europa aos 20 anos, uma forma de se emancipar da fam�lia conservadora e protestante. Passou um ano e meio em Dublin, na Irlanda, com um grupo musical de rua. "�ramos eu e mais cinco m�sicos, a gente pagava o aluguel tocando na rua. Todos hippies, completamente diferentes de mim. Eram largados, e eu ali, todo arrumado pela av�, todo certinho. Eu estava no meio do meu curso superior de violino, tocando Mozart e empolgado para ser um concertista. A� uma amiga me convenceu a cantar com ela."

AMOR PELO MAR

De volta ao Brasil com tr�s demos, mostrou suas primeiras composi��es a alguns amigos do Rio de Janeiro, que o elogiaram. Em 2011, colocou m�sicas na internet, que chamaram a aten��o dos produtores do festival espanhol S�nar. Antes que assinasse com uma gravadora, foi escalado para a edi��o brasileira do festival, em 2012.

O garoto que chorava na aula de violino hoje toca tamb�m piano, seu favorito, e viol�o. Fala que "arranha" contrabaixo e brinca com violoncelo em casa. Hoje comp�e no piano, mas j� usou bastante o computador. "Fui bem rob� no come�o, usava softwares. 'Clarid�o" e 'Vista pro Mar" s�o discos que eu fiz como produtor de m�sica eletr�nica".

No primeiro, aproveitou as poucas m�sicas que tinha lan�ado na internet e construiu o resto do disco em volta delas. Depois, quis que o segundo disco tivesse "uma cara de mar". Al�m de morar em Vit�ria, cidade praiana, conheceu pessoas que contavam a ele sobre candombl�, coisas de cultura e religi�o ligadas ao mar. Ficou encantado com Iemanj�. Fez um disco menos eletr�nico.

"J�piter" veio numa �poca em que admite estar menos reprimido, "pessoalmente, sexualmente, musicalmente". Uma fase de mais seguran�a.

"N�o era mais novinho, j� tinha tido mais experi�ncias amorosas e quebrado a cara. Na �poca do 'Clarid�o' ainda n�o tinha sofrido. Acredito que � um disco assexuado, uma coisa muito et�rea, viajante. Quando fui para a Europa, era muito certinho. L� tive experi�ncias com drogas, usei LSD. Isso abriu a minha cabe�a de uma forma impressionante."

MAIS PELE

Em "J�piter", Silva quis fazer uma coisa mais "pele". Pele � o que n�o falta no clipe de "Feliz e Ponto", que o exibe num tri�ngulo de beijos e abra�os com uma garota e outro homem, os tr�s nus. "Quis falar de amor de uma forma mais direta, sem tantos rodeios, e eu tinha mais viv�ncia para falar, era uma coisa sincera."

A cada disco ele reduziu a quantidade de instrumentos na grava��o. Diz que sua vontade � compor uma can��o legal, sem a pretens�o de fazer algo que nunca fizeram antes.

Dedica agora bom tempo a coisas antigas que n�o ouvia h� anos, como Billie Holiday, Chet Baker, jazz, muito Jo�o Gilberto. Gente que trabalha com instrumental enxuto, da� veio um pouco dessa "limpeza". "Alguns evoluem no sentido de agregar mais. A minha maturidade como produtor vem de enxugar o som."

Silva ainda mora em Vit�ria porque � um lugar barato, comparado com Rio e S�o Paulo. Segundo ele, isso lhe d� um poder de escolha. "Em S�o Paulo, por exemplo, voc� paga um aluguel car�ssimo e recebe muito convite. Voc� vai acabar topando coisas que n�o quer muito fazer, s� pela grana. Quero ter o poder de escolha de dizer n�o."

Ele mora com os pais. Seus dois irm�os est�o casados, ent�o foi "promovido" a filho �nico. "Minha fam�lia � supercoruja comigo, at� depois do clipe de 'Feliz e Ponto' n�o torceram o nariz. Minha m�e, apesar de ser evang�lica, � muito hippie, toca flauta numa orquestra barroca, � professora universit�ria, muito zen. Meu pai tem 70 anos, eu gosto de estar perto deles por enquanto."

Silva diz que as viagens constantes o castigam. Dorme mal, n�o se alimenta direito. "Fiz exames e minhas taxas estavam todas ruins. Comecei a ficar preocupado, sou muito novo para ter esses problemas. Voltei a nadar, fa�o ioga, umas coisas assim".

A tal da natureza pregui�osa que ele aponta em si, mas � dif�cil de ver de fora, pode atrapalhar a nova rotina. Ou ele pode mudar sem perceber, como foi com seu som. "Eu estou tentando."

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