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Fot�grafa nigeriana mostra cotidiano do pa�s, dominado pelo Boko Haram

Fati Abubakar/Reprodu��o
Mulher nigeriana retratada pela fot�grafa Fati Abubakar, dona do perfil Bits of Borno, no instagram
Mulher nigeriana retratada pela fot�grafa Fati Abubakar, dona do perfil Bits of Borno, no instagram

Fati Abubakar nasceu no Estado de Borno, na Nig�ria. O Boko Haram, grupo extremista isl�mico que se notabilizou por sequestrar meninas para transform�-las em escravas sexuais, tamb�m. Fati sabe do que eles s�o capazes.

Sob o lema "a educa��o ocidental � um pecado", abrem fogo contra escolas, executam civis e usam crian�as-bomba. Tudo nas mesmas ruas por onde ela andava, quando era crian�a, com sua bicicleta preta, presente do pai.

As a��es do Boko Haram contra o povo nigeriano explodiram h� seis anos, e o sequestro de 276 meninas em uma escola, em 2014, virou o cart�o de
visitas da fac��o.

Dito isso, Fati at� imagina: voc� est� com pena dela. Em tempos de Boko Haram, a impress�o que ela tem � a de o mundo v� sua terra como um lugar em que "todos vivemos malnutridos em campos de refugiados".

"A m�dia foca em apenas um �ngulo e corremos o risco de ser rotulados como um Estado de guerra e sem desenvolvimento, o que n�o � verdade. N�s temos problemas. Mas tamb�m h� pessoas que t�m neg�cios, v�o �
escola, vivem suas vidas."

Para mostrar a outra cara do conflito, Fati abastece h� um ano Bits of Borno (peda�os de Borno), perfil no Instagram inspirado no Humans of New York (humanos de Nova York), projeto em que o fot�grafo Brandon Stanton circula pelas ruas de sua cidade fotografando pessoas e contando suas hist�rias.

Na contrapartida africana, a jovem de 30 anos angariou cerca de 4.500 seguidores, clicando nas ruas de Maiduguri, capital do Estado e sua cidade natal. H� personagens como a "jovem fashionista" Maryam, de t�nica mu�ulmana rosa e �culos escuros de arma��o rosa-choque.

Fati Abubakar/Reprodu��o
Duas personagens nigerianas registradas pela fot�grafa Fati Abubakar, no perfil Bits of Borno, do instagram
As irm�s Maryam e Fatima, meninas nigerianas registradas pela fot�grafa Fati Abubakar

E tamb�m sua irm� Fatima, 5, "feliz em anunciar que se maquiou sozinha".

As trag�dias cotidianas tamb�m est�o l�, como o vendedor de castanhas que exibe um placar de quantas vezes fugiu de um tiroteio ou as mulheres preocupadas com a falta de �gua, de dinheiro para o aluguel ou de eletricidade para ligar o secador de cabelos.

H� ainda um time de futebol local, o El-Kanemi Warriors, que precisa viajar 700 km para jogar suas partidas em seguran�a (ordens do Boko Haram).

PARANOIA E RESILI�NCIA

O canto favorito de Fati em Maiduguri � o mercado, onde de tudo se acha: "roupas, sapatos, partes de carro, acess�rios para cabelo". "Por serem t�o cheios de vida, os mercados s�o um dos alvos favoritos dos terroristas." Por isso mesmo, diz, ela faz quest�o de voltar sempre. "Depois de uma bomba, as pessoas reerguem seus neg�cios. Sinto um orgulho danado quando vejo isso acontecer. � um sinal de coragem."

Desde o in�cio das a��es terroristas do Boko Haram, milhares escaparam do interior para Maiduguri e, em 2011, o governo baniu motocicletas, muito usadas em atentados.

A vida antes do grupo "era incr�vel" e repleta de "festas e casamentos coloridos", conta Fati, a partir da pr�pria experi�ncia. Na escola, ela escutava m�sica americana, europeia e congolesa.

O grande hit da sua juventude foi "7 Days", do brit�nico Craig David, que come�a assim: "A caminho para ver meus amigos, que vivem a algumas quadras de mim".

V�rios amigos n�o moram mais a algumas quadras dela: abandonaram cidade e emprego e hoje s� d�o sinal de vida por redes sociais.

A pr�pria Fati morou em Londres por um ano e meio, enviada pelo pai, um empres�rio que temia por sua seguran�a. No exterior, ficou deprimida ao acompanhar o notici�rio sobre seu pa�s, que, ela diz, virou um lugar "cheio de tens�o e paranoia", mas tamb�m "mais resiliente e disposto a olhar para o futuro", o que costuma passar batido na cobertura internacional do lugar.

O futuro de Fati a Al� pertence. Mu�ulmana, a fot�grafa n�o � casada e anda sozinha pelas ruas,ao contr�rio da maioria das amigas.

"As pessoas n�o est�o acostumadas a ver uma mulher perambulando com uma c�mera, e algumas at� me d�o serm�o sobre encontrar a alma g�mea e ter beb�s. � estranho para elas deparar com uma jovem ousada e que n�o se conforma com o 'tradicional'."

Ela tamb�m �, afinal, um pedacinho de Borno.

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