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Ap�s tumor e AVC, Ver�nica Hip�lito se tornou para-atleta de elite

O treinador, certo dia, aproximou-se de Ver�nica Hip�lito e perguntou por que ela n�o mexia direito os bra�os e as pernas para correr.

Certa de que estava levando bronca, ela logo pediu desculpas.

O que ouviu em seguida, no entanto, mudaria sua vida. N�o era bronca, era curiosidade. De quem achava que ela estava na equipe errada. "Ele me disse que eu era paraol�mpica. Tudo fez sentido, abriu um novo horizonte para mim".

Ver�nica, 20, era atleta do Sesi, clube de S�o Paulo, e estava dando a �ltima chance ao esporte.

Desde cedo, os pais a incentivaram a praticar atividade f�sica, uma forma de cuidar da sa�de e da timidez da filha.

Aos 10 anos, com 39 kg, j� lutava com grandalhonas de 80 kg nas aulas de jud�. "Eu queria ganhar delas, e elas n�o aliviavam para mim. Isso me ajudava."

Aos 12, no entanto, um tumor na cabe�a, descoberto em um exame de rotina, a levou para a mesa de cirurgia. Superou o baque, mas estava proibida de fazer esportes com impacto.

"Virei uma crian�a ranzinza. Eu havia me encontrado no jud� e n�o podia mais lutar."

Dois anos depois, o pai foi participar de um festival de corridas e chamou a filha. Ela foi contrariada porque n�o queria acordar cedo, mas o esfor�o valeu a pena. Entrou para a equipe do Clube Atl�tico
Arama�an, em Santo Andr�.

Logo teve de parar. Em 2011, prestes a completar 15 anos, sofreu um AVC. Ver�nica ficou com a parte direita do corpo paralisada. N�o conseguia falar.

Quando voltou ao atletismo, n�o era mais a mesma. Seus resultados pioraram, ela sentia dores e tinha dificuldade para realizar os movimentos. At� aquele treinador lhe explicar o que era o esporte paraol�mpico. Aos poucos, Ver�nica passou a entender suas sequelas f�sicas e aprendeu a lidar com elas.

"Em 2013, bati os recordes brasileiros dos 100 m e dos 200 m. Ganhei a medalha de ouro nos 200 m aos 17 anos [na sua categoria]", diz. "Ter treinado ao lado dos atletas ol�mpicos ajudou. Se tiver algu�m na minha frente, vou querer ultrapassar, n�o importa quem seja."

Panorama

Ver�nica � uma das estrelas da equipe de atletismo do Brasil que vai � Paraolimp�ada. Tem chances de conquistar quatro medalhas, nos 100 m, nos 400 m, no revezamento 4x100 m e no salto em dist�ncia.

"Se puder ganhar quatro de ouro, n�o vou reclamar", afirma. Ela integra uma delega��o que tem concorr�ncia mais dura para entrar do que vestibular de grandes universidades.

O Brasil tem muitos atletas paraol�mpicos de qualidade que atingem os �ndices m�nimos para participarem dos Jogos. Mas as vagas s�o limitadas.

Por isso, o CPB (Comit� Paraol�mpico Brasileiro) levou em conta o potencial de ganhar medalha de cada um dos atletas convocados. Ningu�m ir� ao Rio a passeio.

F�sico

O corpo de Ver�nica precisa de trabalho para ficar forte e veloz como o de qualquer outro atleta de alto rendimento. Mas exige cuidados mais espec�ficos por causa das limita��es de movimento que ela possui.
Os treinos acontecem de segunda a s�bado e alternam pr�ticas na pista, com trabalho f�sico e t�cnico, e muscula��o.

A aten��o � recupera��o, no entanto, � bem mais cuidadosa. A fisioterapia, companheira de segunda a quinta, ajuda a ter mais controle de for�a e equil�brio dos dois lados do corpo, j� que a mobilidade do lado direito est� comprometida.

Os dois lados do corpo s�o trabalhados simetricamente -a meta � que tenham o resultado mais similar poss�vel.

"A gente tem que cuidar dos m�nimos detalhes. N�o � fisioterapia tranquila, d�i tanto quando ir � academia", diz a atleta.

"Sexta � tarde, tenho folga, e a� geralmente entro no bald�o de gelo [que ajuda a diminuir a dor, o espasmo muscular e a recupera��o muscular]".

Em 2015, a atleta foi diagnosticada com uma s�ndrome rara, polipose adenomatosa familiar, e teve de fazer uma cirurgia no intestino grosso.

As dores e os rem�dios a levaram diversas vezes ao hospital com anemia. Perdeu peso e demorou nove meses para voltar a treinar. Acabou tendo de fazer em menos tempo a prepara��o para a Paraolimp�ada do Rio, que acontece em setembro.

Psicol�gico

Entender a defici�ncia ajudou Ver�nica a se aceitar. Antes, escondia o corpo em roupas tamanho G. Conforme os resultados foram aparecendo, o manequim foi diminuindo. "Neste ano, sa� do P e fui para o PP."

O caminho para reconstruir sua auto-estima foi feito com ajuda dos pais e trabalho psicol�gico. "Antes eu treinava para ser melhor do que as meninas na corrida, hoje � para ser a melhor do mundo. Tenho muita resili�ncia e competitividade", diz.

Ver�nica faz mentaliza��es que a ajudam a na hora das provas. Ela se imagina isolando sentimentos, bons ou ruins, em uma caixinha que depois possa resgatar. "Eu coloco num canto da pista e, cada vez que passo, � como se tivesse realmente algo ali."

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