Saltar para o conte�do principal Saltar para o menu

Alban�s Anri Sala vem ao Brasil verter som em obras de arte arquitet�nicas

Divulga��o
O artista alban�s Anri Sala
O artista alban�s Anri Sala

Ningu�m mora mais ali, mas Anri Sala n�o deixa de buscar ecos de uma atmosfera dom�stica na casa modernista onde um dia viveu a fam�lia Moreira Salles, na G�vea. Transformado em centro cultural, o lugar perdeu os fluxos originais de movimento e a din�mica distinta de suas alas �ntimas e sociais. Tamb�m j� n�o preserva a mesma rela��o entre dentro e fora, do p�tio e da piscina com suas salas mais reservadas. � como se esse palacete moderno, uma das resid�ncias mais luxuosas j� constru�das no Rio, esbarrasse agora no anonimato est�ril de um museu contempor�neo, de cubos brancos e superf�cies alisadas.

Quando foi chamado para montar uma exposi��o ali, o artista alban�s estudou cada mil�metro da casa desenhada nos anos 1940 por Olavo Redig de Campos. N�o por obsess�o ou fixa��o, mas pela vontade de trazer � tona, ou de volta ao presente, a mem�ria dos passos e respiros dessa constru��o.

N�o � a primeira vez que Sala tenta parasitar a arquitetura, fazendo de seus intervalos, detalhes e singularidades menos um cen�rio e mais uma extens�o viva de suas obras.

No in�cio do ano, ele ocupou todo o New Museum de Nova York com uma grande retrospectiva, desconstruindo ali toda a aud�cia arquitet�nica do Sanaa, firma japonesa respons�vel pelo projeto de museu que lembra uma pilha de caixotes met�licos no sul de Manhattan.

Mergulhando as salas brancas da constru��o na penumbra e enchendo os ambientes de m�sica, conseguiu criar uma din�mica de movimentos insuspeitados. De certa forma, � isso que ele quer fazer no Instituto Moreira
Salles, que abriga sua primeira grande mostra no Brasil a partir de 10/9.

"N�o � s� discutir a minha rela��o com a arquitetura, mas destacar detalhes f�sicos que passariam despercebidos, momentos fugidios, cantos invis�veis, sentimentos, ideias pol�ticas", diz Sala, por telefone, de seu ateli� em Berlim.

"Gosto de produzir a realidade das minhas obras n�o no lugar de onde elas v�m, mas no lugar onde elas encontram o p�blico. Nesse sentido, a arquitetura da mostra � essencial. Muitas vezes tem a ver com a maneira que escuto o lugar que me oferecem, tentando escolher e amplificar o que quero ressaltar e descartar o que � s� ru�do. No fundo, � recusar um espa�o dado."

Sala n�o fala em som e ru�do por acaso. Sua obra � atravessada pela m�sica, mas n�o enquanto melodia, letra, timbre ou sonoridade. Embora todos esses elementos estejam presentes, como nos seus tambores rob�ticos que parecem tocados por fantasmas, o artista est� mais interessado nos sil�ncios, nos ecos, nos buracos da malha sonora, que, na sua obra, ganham corpo e peso. "Trabalho com os valores r�tmicos. � um olhar mais escultural, em que o intervalo entre as notas se torna muito importante."

S�o sil�ncios que tamb�m sublinham o deslocamento f�sico. Nascido na Alb�nia em 1974, radicado na Fran�a e hoje vivendo na Alemanha, Sala se apropriou do cl�ssico "Should I Stay or Should I Go?" como um hino do nomadismo numa s�rie de trabalhos que ajudam a entender sua rela��o com os espa�os. A can��o do Clash tocada em vers�o instrumental por um realejo na Cidade do M�xico ou entreouvida nos escombros de um dos templos do punk em Bordeaux serve de trilha sonora de dois trabalhos do artista, que fez dos rastros da fuga e do abandono uma das pe�as-chave de sua obra.

A M�SICA DA DR

Um trabalho de Sala, ali�s, embala essa dimens�o f�sica do som na pele de uma estranha DR. No filme rodado num pr�dio do arquiteto Buckminster Fuller, que funcionou como base de espionagem dos Aliados na capital alem� durante a Segunda Guerra, uma mulher aparece fora de foco querendo saber por que um rapaz decidiu terminar o namoro. Suas palavras, da mesma forma que sua imagem, s�o afogadas por uma tempestade ruidosa. Em vez de responder, seu par rom�ntico toca furioso uma bateria, transformando o discurso em viol�ncia, da mesma forma que o tr�fego radiof�nico que um dia atravessou aquele espa�o carregava ordens b�licas.

Outro filme na mostra retrata um saxofonista tocando uma mesma can��o triste dentro e fora de uma casa. "A m�sica � uma negocia��o do personagem com o espa�o ao seu redor", diz Sala. "Meu objetivo � criar uma hist�ria que torne f�sicas as qualidades ac�sticas de um lugar."

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Envie sua not�cia

Siga a folha

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Voltar ao topo da página