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Liniers desenha em shows de rock e quer aposentar 'Macanudo' no auge

"Os nerds s�o os novos rockstars", prenuncia o m�sico argentino Kevin Johansen no palco de um centro cultural de Buenos Aires. Ao seu lado, tamb�m sob holofotes e luzes quentes, est� o quadrinista portenho Ricardo Siri.

Conhecido como Liniers, o autor da tirinha Macanudo e dos personagens Olga, Enriqueta e Fellini pode n�o ser uma estrela do rock propriamente dita, mas se tornou um �dolo pop para os f�s de quadrinhos. Em um de seus shows, no qual ilustra as m�sicas de Johansen, chegou a ser carregado pelo p�blico, jogou-se � plateia e, deitado, foi passado de m�o em m�o, num tradicional "stage dive".

Nas apresenta��es, Liniers, 42, atrai tanto ou mais f�s que o cantor. Trabalha sobre uma mesa colocada ao lado do vocalista enquanto seus desenhos s�o transmitidos em um tel�o disposto atr�s da banda. No final, as folhas estampadas com bonequinhos s�o transformadas em avi�es que voam sobre a plateia. A disputa por um exemplar � selvagem.

Em quase oito anos participando desses shows, Liniers come�a a se cansar das piadas ligadas �s m�sicas. "Fico entediado de fazer sempre o mesmo. Os shows mudam, mas tem brincadeira que j� fiz 3 milh�es de vezes e, para mim, n�o tem mais gra�a." Inquieto, est� em busca de algo diferente. J� fez humor�stico em formato de talk show no qual conversava com atores e m�sicos argentinos, publicou "entrevistas desenhadas" (um de seus entrevistados foi o ator Ricardo Dar�n) e desenhou � m�o o gato Fellini na capa dos 5.000 exemplares do livro "Macanudo 6".

Agora, inventou um novo modo de se apresentar. Em maio, estrear� um "stand-up ilustrado" com o colega e ilustrador chileno Alberto Montt. "Somos o salto evolutivo do stand-up", brinca. Ap�s ensaiarem ao vivo no M�xico em dezembro, eles est�o prontos para se revezarem entre desenhos e piadas na Argentina. A inten��o � fazer uma turn� pela Am�rica do Sul. Ainda n�o h� negocia��es para levar o show ao Brasil.

Tamb�m est� nos planos uma mudan�a —com a mulher e suas tr�s filhas— para os EUA, onde deve ficar cerca de 18 meses. Ele foi convidado para uma temporada de estudos no CCS, um centro de pesquisas em quadrinhos no Estado de Vermont.

ANTES DE MACANUDO

Liniers largou a faculdade de direito e a carreira de publicit�rio para se dedicar aos quadrinhos. Come�ou no jornal "Pagina 12" aos 26 anos com a tira "Bon Jour". De l� para c�, os tra�os se aperfei�oaram e o humor tornou-se menos c�nico e mais surrealista. Para o autor, "'Bon Jour' era mais punk. Eu queria chamar aten��o."

O trabalho no "Pagina 12" durou tr�s anos e acabou em 2002 quando Liniers foi para o jornal "La Naci�n", um dos principais do pa�s, ap�s ser apresentado � dire��o pela cartunista Maitena. Nessa nova fase, criou a tira "Macanudo", algo como bacana em espanhol. "O pa�s estava em um momento terr�vel, com uma crise econ�mica gigante, e eu queria dizer que, apesar das not�cias horr�veis dos jornais, nem tudo estava t�o mal. Algo como: n�o se assustem."

LINIERS

Os personagens de "Macanudo" s�o fofos, sens�veis e, em sua maioria, otimistas. Assim, atravessaram a depress�o argentina, completaram 13 anos, foram reunidos em 12 livros na Argentina e publicados em 17 pa�ses. Liniers n�o consegue explicar o sucesso. "N�o sei se � um detalhe. H� muitos personagens e diferentes tipos de humor. N�o sei se � a soma de tudo ou se � algo espec�fico. Na d�vida, continuo fazendo."

OTIMISMO

O argentino admite, no entanto, que o otimismo, onipresente em "Macanudo" e raro no humor, � um dos diferenciais de suas hist�rias. "Sei que � mais 'cool' ser c�nico e dizer que tudo � uma merda. Mas vivo rodeado de pessoas de que gosto e trabalho com algo que me apaixona. Se fizesse uma tira dizendo que o mundo � uma merda seria falso", diz.

"Acho que tem muita gente procurando e precisando de otimismo. Alguns procuram em uns lugares estranhos, como na religi�o, que afirma: 'Voc� vai morrer e vai para um lugar m�gico'. Outros v�o por outro lado e procuram na arte."

Ver as coisas de forma positiva poderia ser considerado, assim, a alavanca do quadrinista � fama. O sucesso do "nerd star" fez com que dezenas de marcas procurassem se associar a sua imagem. Seus desenhos estampam canecas, meias, camisetas, capas de discos e r�tulos de vinhos. J� houve pol�tico que tentou usar os personagens em sua campanha. Liniers n�o autorizou. "N�o quero me meter com essa gente nem de longe".

Em suas tiras h� piadas relacionadas � pol�tica, mas sem remeter a um partido ou a uma pessoa espec�fica. Assim tamb�m � sua atua��o p�blica: n�o defende ningu�m, mas apoia algumas ideias. No dia em que o Senado argentino votou —e aprovou— o casamento homossexual, em 2010, ele esteve diante do Congresso com seus desenhos, ao som de Johansen, pelos direitos dos gays.

Mas o otimismo de Liniers tem limites. O artista n�o acredita que far� nada mais marcante que "Macanudo" —"parece que esse foi meu teto"— e come�a a pensar em aposentar a tirinha para se despedir com eleg�ncia. "N�o quero que se transforme em uma caricatura ou em algo que j� n�o � t�o interessante."

Quando come�ou, o autor sonhava em conhecer Quino (o criador de Mafalda), publicar um livro pela de La Flor (editora argentina tradicional na �rea de humor gr�fico) e ter seus quadrinhos lidos no Uruguai ("j� poderia dizer que era internacional"). Conquistou os tr�s e foi mais longe. "N�o acho que mere�a mais alguma coisa na vida. Mas, se me derem algo extra, eu agarro."

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