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Obra que originou 'Mogli' apresenta mundo em que leis valem para todos

Como tantas outras f�bulas para o p�blico infantil, "O Livro da Selva", de Rudyard Kipling (1865-1936), tem bichos falantes e um her�i fisicamente fr�gil, mas capaz de vencer seus inimigos. Termina a�, entretanto, o que h� de comum entre a hist�ria de Mogli, o �rf�o criado por lobos na floresta indiana, e os contos de fadas tradicionais.

N�o h� "encantamento" ou "prod�gios" neste livro, publicado originalmente em 1893. Nenhum truque de m�gica poderia dissipar a sensa��o de perigo real, de amea�a permanente, que domina a selva e as aldeias ali por perto.

Manuela Eichner/Z� Vicente
Ilustra��o de Manuela Eichner para a mat�ria sobre o novo filme da Disney Mogli.Serafina de mar�o de 2016

Ao contr�rio das hist�rias que come�am com o cl�ssico "era uma vez", a narrativa de Kipling nos apresenta um mundo j� constitu�do, que dispensa convites a algum voo de fantasia. Vamos sendo familiarizados aos poucos com as v�rias prescri��es da "Lei da Selva", que regem, como uma esp�cie de tratado internacional, as rela��es entre os diversos "povos" de animais.

Para ser admitido na comunidade dos lobos adultos, Mogli tem de contar com a ajuda de Balu, o urso, e de Baguera, a pantera. N�o se trata dos am�veis e dan�antes personagens de desenho animado recriados por Walt Disney, no filme de 1967.

Uma seriedade tr�gica predomina nas atitudes de ambos, que se decidem a proteger Mogli mais por reflex�o e empatia do que por efus�o sentimental. Piedade e fofura n�o s�o o forte de ningu�m naquela selva: valores mais graves, como lealdade, coragem e respeito � palavra dada est�o em jogo o tempo todo.

Escrito no apogeu do Imp�rio Brit�nico (Kipling nasceu em Mumbai, na �ndia sob dom�nio ingl�s), "O Livro da Selva" parece corresponder, sem d�vida, aos ideais c�vico-militares de uma civiliza��o que mal e mal se equilibrava entre o dom�nio pela for�a bruta e certo senso de respeito distante pela realidade "nativa"; entre a f� na pr�pria superioridade e o medo do desconhecido.

Pode-se ca�ar outro animal –mas nunca se ele estiver ferido. A lei vale para todos. Somente um "povo" se mostra vol�vel e ca�tico a ponto de n�o seguir lei nenhuma: s�o os "bandar-log", macaquinhos que raptam Mogli no conto mais significativo de todo o livro.

Escrevo "significativo", mas o problema � justamente saber o que significam, o que representam, aqueles bichos simp�ticos e brincalh�es, mas capazes de, reunidos aos milhares, assustar at� mesmo a serpente Kaa.

Os "bandar-log" mudam de ideia a cada momento, seus projetos e compromissos n�o t�m validade nenhuma –seriam a pura animalidade "sem lei", uma humanidade que desconhece o contrato social, o impulso puro do inconsciente? Ou uma na��o de ap�tridas, incapaz de constituir-se segundo costumes reconhecidos pelos demais?

"O Livro da Selva" cont�m outras hist�rias de bichos, sem a presen�a de Mogli: uma delas se passa entre as focas do �rtico. Mas n�o trazem a bela obscuridade, o poder gr�cil e silencioso de pantera, o mist�rio hipn�tico de serpente que a escrita de Kipling sabe infiltrar, admiravelmente, nas aventuras de seu menino-lobo.

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