Saltar para o conte�do principal Saltar para o menu

Brasileira faz retratos para catalogar todas as cores da humanidade

A artista Ang�lica Dass gosta de dizer que nasceu numa fam�lia cheia de cores. Sua av� tem pele de porcelana e cabelo de algod�o, enquanto sua m�e tem um tom de canela com mel e seu pai, de chocolate amargo. "Sou como uma dessas barras com pouca porcentagem de cacau, mais doce", brinca a carioca radicada em Madri h� dez anos.

Se as cores nunca foram problema dentro de casa, Dass percebeu logo cedo que o mesmo n�o se aplicava da porta para fora. "O Brasil � um dos piores lugares do planeta para nascer negro. H� um racismo institucionalizado e escondido", afirma Ang�lica, 37, ap�s dar uma palestra que emocionou a audi�ncia e ser aplaudida de p� no TED, um evento de ideias inovadoras que ocorreu em Vancouver, em fevereiro.

Os tons da pele s�o o centro de seu projeto mais ambicioso, Humanae, para o qual j� fotografou mais de 3.000 pessoas em 13 pa�ses.

A jornada foi iniciada em 2012 e n�o tem data para acabar. A miss�o? Catalogar todas as cores da humanidade. "Quero captar as nossas cores de verdade, no lugar de sermos etiquetados como branco, preto, amarelo, vermelho, associados a ra�as. � como um jogo para questionar nossos c�digos", diz a carioca, que retratou de ricos nos EUA a refugiados na Europa e pobres na �ndia, passando por estudantes su��os e brasileiros que vivem em favelas.

Formada em belas-artes pela UFRJ, ela se mudou para Madri ap�s fazer um est�gio em um museu espanhol e conhecer seu futuro marido, um f�sico "com pele de lagosta queimada ao sol".

A ideia do Humanae surgiu quando come�ou a ser perseguida pela pergunta sobre qual seria a cor de seus filhos. Em um exerc�cio pessoal, resolveu fotografar sua fam�lia e a ela mesma. A m�e de Ang�lica � descendente de �ndios e seu pai, negro, foi adotado por uma fam�lia de brancos no Rio.

Depois, a artista passou a registrar seus amigos, logo passando para desconhecidos. Em pouco tempo, estava sendo convidada para expor os resultados em museus e pra�as p�blicas do mundo, como aconteceu em S�o Paulo, em 2013, numa pra�a do centro da cidade.

"Uma das coisas mais bonitas que me aconteceu foi uma mulher de 60 anos, ao olhar as fotos que eu coloquei na porta de uma ONG no Rio. Ela dizia: 'T� entendendo o que voc� t� falando. � que, se cortar aqui na pele, vai ser tudo igual, vai ser tudo vermelho."

MODUS OPERANDI

O processo fotogr�fico � simples e, segundo ela, transcorre quase como uma terapia. Ang�lica monta um est�dio tempor�rio e cada retratado passa 15 minutos com ela. As fotos seguem um padr�o, com as pessoas sempre de frente, encarando a lente, diante de um fundo branco. Na sequ�ncia, a artista "tira" um pedacinho da cor do nariz e a usa para "pintar" o fundo. Por fim, � colocada sob a imagem o n�mero da cor de refer�ncia –retirada da paleta industrial Pantone, esp�cie de B�blia das cores.

"Toda vez que tiro uma foto, sinto que estou na frente de um terapeuta. Todas as frustra��es, medos e solid�o que senti viram amor." Ao passar por pa�ses t�o diferentes, a artista percebeu que a discrimina��o racial tem um ponto em comum. "Infelizmente, o mais claro � o bom, e o mais escuro, o ruim."

Questionada sobre os pa�ses mais "coloridos" que visitou, cita de cara o Brasil. "� um pa�s muito especial", diz, lembrando que, no entanto, ainda h� muito o que fazer para acabar com a discrimina��o. "N�o acho que seja um tema que as pessoas estejam muito dispostas a discutir. Acham que esse preconceito n�o existe, mas � uma coisa di�ria da qual sempre sou lembrada quando vou ao Brasil. Estou louca? Acho que n�o."

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Envie sua not�cia

Siga a folha

Livraria da Folha

Publicidade
Publicidade
Voltar ao topo da página