Jo�o Victor ainda aprendia a se firmar sobre suas perninhas quando ganhou do pai seu primeiro cavalo. De t�o pequeno, n�o conseguia ficar sentado na sela. Tinha de ser preso ao animal para dar voltas pelo haras da fam�lia.

Quando j� estava na escola, sonhava acordado com os amigos de quatro patas, ansioso para voltar �s baias. As notas n�o iam muito bem, mas, cada vez que montava, mostrava mais destreza. O garoto j� era um cavaleiro.

Filho do empres�rio Jos� Victor Oliva e da ex-jogadora de basquete Hort�ncia, Jo�o Victor, 20, uniu duas grandes paix�es dos pais, cavalos e esporte, e as transformou em profiss�o.

� hoje um dos principais atletas do pa�s no adestramento —modalidade em que o cavaleiro conduz o animal fazendo-o executar movimentos coreografados. Campe�o sul-americano e bronze por equipes no Pan de Toronto, em 2015, � um dos favoritos a representar o Brasil na Olimp�ada do Rio, em agosto.

O atleta recebeu a Serafina no haras do pai, em Ara�oiaba da Serra (SP). Na sala, aberta para uma bela pista coberta e decorada com trof�us, medalhas e fitas, n�o h� mais espa�o livre nas estantes e nas paredes.

Jo�o Victor acabara de chegar de viagem e nem havia visitado a m�e. Pisou em S�o Paulo e foi direto para um festival de cavalos no interior. Montou, ganhou uma competi��o de berrante e terminou a noite ouvindo moda de viola. Os funcion�rios do haras dizem que � sempre assim: ele n�o para quieto.

Bem diferente do que mostrou em seguida, ao subir no cavalo. A personalidade agitada deu lugar � concentra��o. De uniforme, sereno e controlado, manejou o animal como um veterano. Duas facetas que t�m convivido em harmonia desde cedo.

"Quando estava na escola, de segunda a sexta eu s� pensava em montar no fim de semana", relembra Jo�o Victor.

Incentivado a competir desde cedo, o garoto come�ou a mostrar bons resultados treinado por Rog�rio Clementino, primeiro negro do Brasil a se classificar para a Olimp�ada no adestramento, em Pequim-2008. Antes de se tornar cavaleiro, ele trabalhava limpando as baias do haras.

"Meu sonho era ser igual a ele. Eu assistia ao que ele fazia e me encantava, acabou sendo uma inspira��o. Sou grato por tudo que me ensinou", diz Jo�o Victor.

A outra inspira��o � a m�e. "Voc� cresce vendo o hist�rico dela de campe� e acaba querendo fazer parte disso."

	Christian von Ameln

Hort�ncia sentiu um al�vio duplo ao perceber que o filho seria atleta. Primeiro, por acreditar que o esporte � importante para a forma��o e para a educa��o dos jovens. Segundo, porque a escolha n�o foi o basquete.

"A cobran�a seria muito cruel", diz a campe� mundial em 1994 e prata em Atlanta-1996. Hort�ncia n�o d� palpites no treinamento equestre do filho, mas o aconselha sobre a vida de atleta. "Ela me fala para ter cuidado com redes sociais e doping. Conta como � a rotina na Vila Ol�mpica e diz que n�o devo ficar s� jogando bilhar e pingue-pongue por l�. Fala para eu me concentrar, dormir cedo", afirma Jo�o Victor.

O principal passo para concretizar o sonho de ir a uma Olimp�ada foi dado h� cerca de dois anos, com sua mudan�a para a Alemanha. Na pequena M�hnessee, onde vive, ele teve de aprender a se virar sozinho. Ainda sai de casa com a roupa amassada e apela muito ao macarr�o nas refei��es, mas n�o passa apertos. Mais dif�cil foi se adaptar � nova rotina com o renomado t�cnico Norbert Van Laak. "Meu treinador foi militar, ent�o ele � bem r�gido. � alem�o ainda por cima! A� complica bem a situa��o do brasileiro", brinca.

A ideia da mudan�a foi tomada em conjunto pela fam�lia. Para os pais, foi dif�cil decidir tir�-lo da escola. "Mas esporte � momento, e achamos que l� ele teria as melhores chances. Quando voltar, pode pensar na faculdade. Se n�o, tudo bem. Que fique perto dos cavalos que � o que o faz feliz", diz Jos� Victor Oliva.

Na Europa, Jo�o Victor compete contra os melhores do mundo. Neste ano, ter� a companhia do irm�o, Antonio, 18. O mais velho j� tem a nota m�nima necess�ria para estar na Rio-2016, mas a equipe s� ser� definida nos pr�ximos meses.

Medalha, no entanto, � um sonho distante. No adestramento, os atletas ficam melhores com o tempo e h� at� idosos competindo. Jo�o Victor sabe disso e n�o tem pressa. Sobre o cavalo, pode esperar o tempo que for preciso.