Numa exuberante floresta canadense, esferas de madeiras com janel�es de vidro se escondem entre as �rvores. � preciso atravessar a p� uma pequena ponte e subir uma escadinha em espiral para chegar at� uma delas, uma min�scula casa suspensa em forma de bola que tem tamb�m uma porta, uma cama de casal escondida e uma cesta de boas-vindas recheada com del�cias da regi�o, como queijos e doces.

Localizada em uma ilha a duas horas de balsa da cidade de Vancouver, a cria��o � obra do engenheiro e arquiteto Tom Chudleigh, que transformou suas constru��es esf�ricas no hotel Free Spirit Spheres.

"Vivemos em caixas r�gidas com funda��es de concreto, e nossa vida tende a refletir estas estruturas onde vivemos. Vamos envelhecendo e ficando muito r�gidos, n�o gostamos de mudan�as", diz Tom, canadense de 63 anos que trabalhou boa parte da vida nas ind�strias de energia, petr�leo e papel. "Quando voc� pisa numa esfera suspensa, � algo flex�vel, que se move suavemente, sem separa��es. Reflete a ideia de unidade e conex�o com o ecossistema."

Na propriedade de dois hectares perto da praia de Qualicum, h� tr�s esferas para hospedagem, sem contar o escrit�rio-bola de Tom e uma casa "normal" onde ele vive com a mulher, Rosey, que o ajuda a administrar o hotel. Os "quartos" ficam ocupados quase o ano todo, e as di�rias variam de US$ 160 a US$ 255 (de R$ 620 a R$ 985).

Melody, a esfera que abrigou a reportagem de Serafina, � feita de fibra de vidro e madeira de nogueira, tem pouco mais de 3 m de di�metro, pesa
500 kg e � suspensa por tr�s �rvores a 4 m do ch�o. H� cinco janelas e duas mesinhas que somem quando uma cama de casal � puxada de uma parede falsa, al�m de uma pia, aquecimento, prateleiras para livros e caixas de som.

Do lado de fora, na frente de um lago, h� um banheiro qu�mico de �ltima gera��o dentro de uma constru��o em forma de cogumelo. Outras mordomias, como chuveiros, cozinha com geladeira e uma sauna, ficam em outra parte do terreno, a dois minutos de caminhada.

"A esfera � um lugar m�gico. � como entrar numa casca de noz decorada como um pal�cio, como estar flutuando entre os passarinhos. Quando chove forte, pode ficar tenso, mas n�o se compara a uma tempestade no mar", afirma Tom, que antes de fazer as casinhas constru�a barcos para suas pr�prias viagens. "Muitas das solu��es vieram da tecnologia de veleiro e da arquitetura celta e escandinava. No come�o, queria fazer um barco com uma casa esf�rica, mas era muito caro."

A primeira esfera, apelidada de Eve e feita de cedro, levou quatro anos para ficar pronta e ser pendurada, em 1997.

Tom construiu apenas mais uma esfera fora do hotel, na Riviera Francesa, para um milion�rio que a encomendou para suas filhas. A bola de madeira ou fibra de vidro pode custar at� US$ 100 mil, mas Tom n�o aceita mais pedidos individuais. "Recebi v�rios do Brasil, especialmente do Sul e de eco-resorts. Mas nada foi para frente", comenta.

Tom tem outras duas esferas quase prontas na oficina do hotel e espera em breve poder se mudar para um terreno diferente, na pr�pria Vancouver Island, onde a lei de zoneamento permita mais acomoda��es para o empreendimento.

O arquiteto conversa com a reportagem do alto de seu escrit�rio-bola, com espa�o para uma mesa e seu computador, arm�rios embutidos e bancos para os visitantes. Ele veste uma camisa xadrez em flanela vermelha, algo que lhe d� um toque de lenhador apropriado para a ocasi�o, e passa uma ideia de uma pessoa p� no ch�o. Pelo menos at� come�ar a falar sobre suas inspira��es.

"Acredito que ideias originais como esta n�o v�m de pessoas, e sim do mundo dos esp�ritos. Quando digo isso me olham como se eu fosse um maluco", diz ele, rindo. "Foi uma ideia que me veio do outro lado e n�o ia embora, sabe? Acredito que seres humanos s�o muito mais do que corpos, temos essa liga��o espiritual."

Tom conta que teve muitos desafios com Eve, como, por exemplo, descobrir como construir uma porta numa esfera. "Ia dormir com uma d�vida e acordava com a resposta. Aconteceu muitas vezes, os esp�ritos me ajudavam."

Quando a bola foi suspensa, durante o ver�o, ele passava muitas noites por l� sozinho. "A Eve era um lugar muito doido naquela �poca. Dormia de porta aberta por causa do calor e todos esses esp�ritos da natureza vinham me visitar, era incr�vel", lembra. "Se voc� acredita nessas coisas, abre espa�os para pensamentos assim."