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'Neymar do r�gbi', brasileira tem pouco mais de 1,5 m, mas sonha alto

Do quintal de casa em S�o Jos� dos Campos, aos dez anos, Edna via, no clube em frente, uns meninos treinando um esporte que ela n�o entendia bem. Os garotos, em vez de chutar a bola, corriam com ela na m�o e a lan�avam longe com pontap�s. E se trombavam muito. Edna quis brincar tamb�m. E eles deixaram.

"O pessoal da escola achava estranho eu jogar r�gbi, diziam que eu estava doida. Muitos pensavam que seria algo tempor�rio. Mas eu sabia que era aquilo que eu queria, e que n�o era loucura."

O r�gbi � um esporte bret�o, que surgiu no s�culo 19 como uma vertente do futebol. O objetivo � marcar o maior n�mero de pontos, o que se d� basicamente de duas maneiras: atravessando o campo at� a linha final carregando a bola oval com as m�os ou chutando-a entre as traves paralelas dispostas nessa mesma �rea do campo.

Edna Santini ent�o entrou num projeto social, promovido no tal clube, o S�o Jos� Rugby, para encontrar garotos que pudessem formar um time de base no esporte. "At� os 15 anos, joguei com meninos. Todos me incentivavam e diziam que eu podia competir com eles de igual para igual", diz.

Ca�ula de quatro irm�os, Edna morava com a m�e, costureira, e o pai, aut�nomo. A m�e, por um tempo, ganhou um extra lavando os uniformes do time, para o qual o pai alugava um quartinho onde guardavam o material esportivo.

A jovem tamb�m gostava de futebol e, por vontade do pai, at� chegou a tentar uma vaga no time feminino do Santos. "Mas faltei no teste final porque a data coincidiu com a de um torneio de r�gbi", diz. �quela altura, Edna j� tinha trocado os p�s pelas m�os.

Descoberta entre os meninos, aos 16 anos passou a jogar no time adulto feminino do S�o Jos�. Aos 17, chegou � sele��o brasileira. Hoje, aos 23, � um dos destaques da equipe que vai disputar a Olimp�ada do Rio em 2016.

Edna mede 1,52 m e pesa 55 kg, f�sico que a faz parecer mais uma ginasta ol�mpica do que uma jogadora de "rugby sevens" (varia��o ol�mpica do esporte, com sete jogadores por time e dois tempos de sete minutos cada um).

"Sempre me perguntam como � que eu, com esse tamanho, jogo um esporte em que todo mundo tromba e cai em cima dos outros", ela diz, rindo sem jeito da ignor�ncia geral sobre o esporte. "No r�gbi, tem alto, baixo, magro, gordo... Cabem todos os biotipos." H� outras baixinhas na sele��o ol�mpica, mas Edna � a menor delas.

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TAMANHO N�O � DOCUMENTO

Eleita a melhor jogadora do pa�s em 2013 pela Confedera��o Brasileira de Rugby, a atleta integra a sele��o que acaba de voltar com uma in�dita medalha de bronze do Pan-Americano, disputado em Toronto. "Quer�amos a medalha que fosse e estamos felizes, mas podia ser melhor", diz.

Na World Rugby Women's Sevens Series, campeonato mundial que o Brasil passou a disputar h� dois anos, como convidado, para se preparar para a Rio-2016, Edna ganhou o apelido de "pocket rocket" por ser, al�m de pequena, muito �gil. No ano passado, terminou a temporada entre as 15 maiores pontuadoras.

Sua convoca��o para a Olimp�ada do Rio ainda n�o est� garantida. Mas depende apenas da escolha do t�cnico da sele��o, o neozeland�s Chris Neill, que n�o esconde suas prefer�ncias.

No campo de treinamento da sele��o, na Associa��o Atl�tica Banco do Brasil, no Campo Limpo, em S�o Paulo, Chris nem pensa antes de responder quem s�o suas melhores jogadoras: "Edna Santini", solta, antes de listar outros nomes.

Al�m dela, 36 atletas formam a sele��o brasileira feminina de "rugby sevens". O esporte voltar� a ser modalidade ol�mpica, nos Jogos do Rio, depois de um hiato de 92 anos. Desde 2013, a confedera��o brasileira adotou como estrat�gia concentrar todas elas em S�o Paulo e profissionaliz�-las.

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A CASA DAS OITO JOGADORAS

Passaram a receber sal�rios, via Bolsa Atleta, benef�cio dado a esportistas de alto rendimento pelo governo federal. Algumas, como Edna, somam o subs�dio (de R$ 1.500 a R$ 2.500) a uma ajuda da confedera��o. As jogadoras de fora da cidade vieram ent�o dividir tr�s casas na zona sul da capital. E "pocket rocket" trocou a morada dos pais para viver com sete colegas do time.

"Eu divido a �nica su�te com uma amiga. Mas s� porque chegamos primeiro", diz a jogadora. "Funciona igual a uma rep�blica. Quando fizemos nossa primeira festa, deu at� pol�cia. Mas foi s� dessa vez mesmo." As saudades, incluindo a que sente de ter um quarto s� seu, Edna distrai concentrando-se na rotina de treinos di�rios, das 8h �s 15h.

Nos fins de semana de folga, volta a S�o Jos� dos Campos (SP) e frequenta com a m�e, como antigamente, a Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo. "Na falta de amiga dispon�vel, como n�o tenho namorado, � ela que me acompanha para o que for."

S� tem um medo: o de que uma les�o a deixe de fora dos Jogos —no fim do ano passado, ela quebrou a f�bula e rompeu os ligamentos do tornozelo durante uma partida. Teve que fazer duas cirurgias, mas j� est� recuperada.

Mesmo vivendo um momento hist�rico do r�gbi brasileiro, ela ressalta que, a longo prazo, "o esporte ainda n�o d� futuro nem renda no Brasil".

Pensa em jogar at� uns 35 anos, fazer faculdade de fisioterapia ou de educa��o f�sica e, se der, passar uma temporada atuando fora do pa�s.

"Onde for, est� valendo, mas seria legal na Fran�a, na Austr�lia, na Nova Zel�ndia ou no Canad�, onde o 'sevens' � mais desenvolvido." Nesse cen�rio, o Brasil � quase caf� com leite. Neill, o treinador, diz que um bom resultado ol�mpico para as suas meninas seria chegar entre os oito finalistas —12 times disputam o t�tulo. Edna � mais otimista. Acredita num sexto lugar e at� numa medalha.

"Para n�s, o Chris n�o fala isso. S� pra voc�", ri Edna. "Ainda temos um ano de trombadas pela frente. Quem sabe? Como � que eu vou dizer pra voc� que eu n�o vou ganhar?"

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