Jornalista vira motorista do Uber e ganha R$ 1,2 mil em tr�s meses

No in�cio, nem a fam�lia acreditava. Enviava ao nosso grupo do WhatsApp a tela do meu aplicativo e logo algu�m reagia: "Como assim? Virou taxista de Uber?". E para explicar que, primeiro, n�o � taxista; segundo, � parceiro e dA Uber, assim, no feminino!?

De qualquer forma, quem n�o precisa de uma graninha a mais? Nunca pensei em deixar de ser jornalista, pelo contr�rio! Renderia boas hist�rias —a come�ar por este depoimento.

Fato � que, heavy user da Uber, comecei a ficar fascinado por seu universo da busca pela excel�ncia ao unir via tecnologia motoristas e gente que quer ser transportada. O condutor n�o pode ter m�dia inferior a 4,6; eu mesmo s� dava quatro estrelas antes de saber disso, pois cinco teria de ter sido o auge dos bons servi�os.

No meu caso, a maior motiva��o foi recomenda��o m�dica. "Uberar" seria terap�utico, uma forma de exercer de maneira menos compromissada algo de que gosto, que � dirigir e conversar com pessoas diferentes, mas sobretudo fugir de balada, �lcool e rem�dio.

Ser Uber de responsa n�o requer um investimento astron�mico, se a m�xima de que "use o carro que est� em sua garagem" for colocada em pr�tica. N�o foi o meu caso. Investi R$ 45 mil num Volkswagen Up! que serviria para a categoria X (a mais b�sica). A Audi topou emprestar um sed� A4 preto para viagens do tipo Black.

O Audi A4 impressionava. "Como ele investe num carro desses [coisa de mais de R$ 120 mil] para ser Uber?", parecia pensar o primeiro casal que peguei, ele americano, ela brasileira. Com frio na barriga, levei-os da Barra Funda � Vila Mariana. Contei ser a primeir�ssima vez da minha "carreira". O raro cumprimento veio pelo aplicativo: "Perfect first ride" (primeira viagem perfeita).

� interessante como "virar Uber" o deixa mais disciplinado no tr�nsito, por uma raz�o muito simples: voc� est� sendo observado e ser� avaliado. Portanto nada de avan�ar um pouco mais na faixa de pedestres, acelerar quando v� o amarelo ou teclar no celular nem mesmo nas paradinhas no sinal. � preciso ser "100% civilizado".

"O que � isto? Um parque de divers�es?", perguntou a passageira ao constatar que no meu Uber ofere�o Dadinho, iguaria cult servida at� por Alex Atala no cafezinho do D.O.M. Os taxistas fitam o tempo todo o aplicativo da Uber na tela de seu smartphone. Uns fazem cara de poucos amigos. Outros amea�aram, n�o a mim, mas a um colega: "Uber, n�? Voc�s v�o ver s�...", ao que o colega respondeu: "Todos t�m de trabalhar, n�o � mesmo!?"

Depois do carro e do smartphone, itens mais caros (mas que muitos j� t�m), v�m despesas, digamos, mais burocr�ticas, como exame psicot�cnico, segundo via da CNH, seguro para passageiro, suporte para celular, saco de balas, caixa com copos d'�gua e bolsa t�rmica. Investimento total: R$ 300,39.

Vale a pena? A resposta �: depende. � preciso ser estrat�gico, ir atr�s dos grandes eventos (s� um final de jogo no Allianz Parque, em um domingo, rendeu tr�s boas corridas, uma delas para Santana de Parna�ba...). Vale tamb�m pelo tanto de gente com quem se conversa.

Explico: sou chamado a uma casa no Alto da Lapa. A senhorinha, de 80 anos, embarca. Parece, ent�o, apertar o "play". Foi contando toda a luta do marido, que morreu h� seis anos e convivera durante 11 com mal de Alzheimer. "Come�amos estranhando quando ele entregou a chave do carro ao nosso filho. Logo ele, que era um excelente 'chauffeur'..."

Ao final da aventura, realizei 96 viagens, com pontua��o m�dia de 4,86 (a dos principais parceiros � 4,84). Total faturado: R$ 1.201,61. D� pra fazer uma graninha...

* Lu�s Perez tem 44 anos, trabalhou por 13 na Folha e editou o caderno "Ve�culos", entre outras fun��es. Mant�m um blog com o seu nome no UOL

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