S�ndico corta �gua de moradores e ganha R$ 22 mil de b�nus na conta

�nio Cesar/Folhapress
O s�ndico Adaildo Oliveira ganhou R$ 22 mil em b�nus da Sabesp em 2015
Adaildo Oliveira, que administra um condom�nio de 196 apartamentos no Tucuruvi, na zona norte

O s�ndico Adaildo Oliveira, 65, passava f�rias em sua casa no Piau� quando foi acordado por uma liga��o �s 5h da manh�.

Era janeiro de 2015 e os moradores de seu condom�nio no Tucuruvi, na zona norte, estavam sem �gua, ap�s o abastecimento da rua ter secado durante a noite, fruto da redu��o de press�o na rede.

Diante da situa��o, Oliveira tomou uma decis�o radical. Ainda em Teresina, deu ordem para que o fornecimento de �gua nos pr�dios fosse suspenso entre 11h e 17h, de segunda a sexta, e entre 12h e 16h30 aos s�bados, domingos e feriados.

"Mandei fechar n�o s� pela economia, mas para as pessoas terem �gua para fazer a janta, tomar banho de noite. Disse que ia ficar assim at� a assembleia, quando a medida foi aprovada", lembra o s�ndico.

A ideia gerou pol�mica no conjunto de 196 apartamentos que fica em uma rua tranquila perto do Horto Florestal. "Tinha gente me xingando de tudo quanto � jeito, me ligando no Piau� falando que eu n�o podia fazer isso, mas fiz."

"No come�o, o pessoal chiou, mas depois foram aceitando. Era muito ruim chegar do trabalho e n�o ter �gua para nada", considera a moradora Roseli Ferreira, 52.

"Era complicado ter de acordar cedo no domingo para adiantar o almo�o", lembra Flora Silva, 57. "Mas era o jeito pra se proteger das surpresas da Sabesp."

Com essa e outras medidas radicais, Oliveira conseguiu receber R$ 22 mil de b�nus na conta de �gua ao longo de 2015, um dos recordistas da cidade, de acordo com a Sabesp.

Assim, foi poss�vel um abatimento de 25% do valor das contas e o ganho fez com que o valor do condom�nio ca�sse de R$ 330 para R$ 285.

Na guerra para economizar �gua, o s�ndico travou v�rias batalhas. Primeiro, lan�ou m�o de conversa e campanhas educativas para evitar o desperd�cio. Conseguiu baixar a conta de cada torre de R$ 1.900 por m�s para at� R$ 1.300.

Os edif�cios constru�dos na d�cada de 1980 possu�am, por�m, apenas um hidr�metro por pr�dio. Oliveira promoveu, ent�o, a instala��o de um medidor por apartamento -n�o sem dificuldades. A dez dias do prazo para terminar o trabalho, oito fam�lias se negavam a aderir.

Al�m do custo de R$ 650, parcelados em at� 12 vezes com juros, elas n�o queriam abrir seus im�veis para desconhecidos. "Informei que ia ligar a nova rede de �gua em dez dias e que as unidades que n�o aderissem ficariam sem abastecimento", conta Oliveira. "No nono dia, a �ltima pessoa que resistia aderiu."

A medida tamb�m recebe elogios. "Antes pagava pela �gua dos outros e a agora pago s� a minha", diz Elisabete Oliveira, 64, outra moradora.

Os novos hidr�metros ficam concentrados no �ltimo andar dos pr�dios, protegidos por grades. O acesso � restrito e Oliveira lacra pessoalmente o registro de quem atrasa o pagamento. "Mas se vier conversar e pedir uns dias, a gente at� segura."

O pacote de medidas para economizar incluiu colocar cadeados nas torneiras do jardim, para evitar que as crian�as brincassem com �gua, e instalar uma cisterna para captar �gua da chuva, usada na limpeza das �reas comuns.

DESCONTROLE

Nascido no interior do Piau�, Oliveira veio para S�o Paulo em 1979. Trabalhou v�rios anos como motorista de carreta e, quando suas filhas adolescentes "come�aram a dar problemas", ele deixou a estrada e passou a dirigir �nibus em S�o Paulo, profiss�o na qual se aposentou.

O cargo de s�ndico foi assumido h� cinco anos. "Essa crise n�o foi falta de �gua, mas descontrole do governo. Houve seca em 2004 e ficaram com os olhos fechados desde ent�o", diz Oliveira, que arrisca seus palpites sobre o que poderia ter sido feito. "Se fosse eu, teria criado um sistema de integra��o mais eficiente entre as represas."

Em janeiro deste ano, a meta exigida para ganhar o b�nus subiu muito e ele desistiu de persegu�-la, embora tenha mantido o gasto de �gua est�vel. O corte di�rio foi abandonado no Natal. J� a pol�tica de b�nus da Sabesp acaba em 1� de maio.

Oliveira pensa em voltar � Teresina de vez quando encontrar um substituto. "L� tenho meu canto, no centro da cidade, mas tamb�m falta �gua. Um dia por semana a press�o fica muito fraquinha", conta. O Nordeste n�o perde por esperar.

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