'N�o basta fundar grupo e ficar no bl�-bl�-bl�', diz estrategista de Macron
Avener Prado/Folhapress | ||
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Guillaume Liegey, um dos estrategistas da campanha do presidente franc�s, Emmanuel Macron |
O franc�s Guillaume Liegey tornou-se um s�mbolo de inova��o no meio pol�tico.
Um dos fundadores da empresa de tecnologia eleitoral Liegey Muller Pons, ele coordenou a atua��o do movimento En Marche!, que desbancou os tradicionais partidos de direita e esquerda da Fran�a e levou � Presid�ncia do pa�s um nome de centro, Emmanuel Macron, em maio.
Liegey elaborou uma estrat�gia de campanha que mesclava entrevistas de porta em porta com os cidad�os e o uso de tecnologia para explicar o voto das pessoas. Ele defende esse modelo como forma de reconquistar a confian�a da popula��o e reverter o descr�dito em que se encontram os pol�ticos tradicionais.
Em visita ao Brasil no come�o desta semana para prospectar clientes, Liegey disse � Folha que a vit�ria de Macron tem boas li��es a oferecer ao Brasil.
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Folha - O que podemos aprender com a vit�ria de Macron na Fran�a?
Guillaume Liegey - H� boas li��es que podem ser �teis ao Brasil. Macron prometeu mudar a pol�tica e fez isso. Orientou seu movimento, o En Marche!, a ouvir os cidad�os franceses. Os membros volunt�rios foram �s casas das pessoas perguntar a elas como viam o pr�prio pa�s, quais as suas principais preocupa��es. Com isso, Macron provou ser diferente dos outros pol�ticos.
Que papel as redes sociais e a tecnologia desempenharam nesse processo?
Foram muito importantes. Eu descobri isso na primeira campanha de Barack Obama para a presid�ncia dos EUA, em 2008, na qual fui volunt�rio. Eu aprendi naquela ocasi�o que uma boa campanha une tecnologia e pessoas. O contato humano � fundamental.
Mas � muito importante relembrar: a campanha de Macron foi muito moderna, mas guiada por uma ideia muito simples.O m�todo era ficar cara a cara com os cidad�os e escut�-los. Isso � simplesmente ter contato humano, n�o h� tecnologia nisso.
� claro que tempo de TV e dinheiro s�o elementos muito importantes numa campanha. No entanto, � preciso saber utilizar esses recursos.
Voc� pode mandar um e-mail e atingir, de uma s� vez, 10 milh�es de pessoas. Mas a pergunta que devemos fazer �: qual o efeito dessa mensagem? Eu diria que � zero. Voc� n�o vai ganhar nenhum voto por e-mail.
As melhores campanhas s�o aquelas que conseguem reunir diferentes canais de comunica��o: redes sociais, TV, mensagens por telefone, pessoas nas ruas.
H� no Brasil uma prolifera��o de nomes situados mais ao centro do espectro pol�tico para a elei��o de 2018. A pulveriza��o pode favorecer candidatos extremistas?
Sim, esse � um risco real. Se h� muitos candidatos de centro, a estrat�gia que eu aconselho a eles �: provem que essa posi��o pol�tica � a melhor para o pa�s. E ent�o tentem criar conex�o com a sociedade. A partir da� ser� poss�vel combater os extremismos.
Mas como criar esse v�nculo, engajar as pessoas, quando a classe pol�tica est� em profundo descr�dito?
N�o h� um passe de m�gica que resolva essa situa��o do dia para a noite. Em grande parte do mundo ocorre o mesmo.
O que podemos fazer? H� um longo caminho para reconectar as pessoas com a pol�tica. Isso exige trabalho n�o apenas durante a campanha, mas tamb�m depois dela.
Na campanha do ex-presidente Fran�ois Hollande, muitas a��es interessantes foram tomadas. Depois da campanha, contudo, tudo foi interrompido. Hollande parou de falar com seus eleitores.
Os pol�ticos, em geral, param de ouvir os cidad�os depois da elei��o. � um grave erro. Na pr�xima disputa, eles j� ter�o perdido toda a conex�o com grande parte da sociedade.
Creio que a solu��o passa por, depois da campanha, tentar preservar seu grupo de volunt�rios, sua base, continuar ouvindo as pessoas.
Outra medida � trazer novos nomes para a disputa. Precisamos de sangue novo.
V� no Brasil algum nome capaz de liderar um processo parecido ao de Macron?
N�o conhe�o tanto a pol�tica brasileira para poder responder a essa pergunta. Mas sei que h� novos movimentos, como o Agora!, e partidos, como o Novo. Isso � �timo, muito interessante.
Na Fran�a, antes de Macron, tivemos cinco ou seis movimentos semelhantes, mas todos falharam. O principal motivo � que n�o eram de fato profissionais. N�o perceberam que para construir um grupo s�lido � preciso montar uma opera��o profissional de capta��o de recursos e atrair as pessoas.
Eu vejo com bons olhos os movimentos no Brasil. N�o basta, por�m, fundar um grupo e ficar apenas no "bl�-bl�-bl�". Macron, quando come�ou o En Marche!, entendeu que era preciso construir uma s�lida campanha em todo o pa�s. Ent�o, quando a disputa come�ou, o movimento dele estava l�.
Com quais grupos o senhor se encontrou no Brasil?
Infelizmente, n�o posso revelar com quem falei. Tivemos, de toda forma, �timas conversas. H� muitas coisas importantes mudando na pol�tica brasileira, e isso ser� fundamental no pr�ximo ano. Seria �timo poder participar desse processo.
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