Aos 300 anos, imagem de Aparecida j� foi atacada e explorada politicamente
Lalo de Almeida/Folhapress | ||
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Fieis participam de novena no Santu�rio Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em S�o Paulo |
Em 300 anos, Nossa Senhora Aparecida j� foi roubada, espatifada, chutada e usada a bel-prazer de governantes dispostos a tirar uma casquinha do mais forte s�mbolo religioso nacional, da princesa Isabel aos generais da ditadura.
Chega numa redoma � prova de balas para seu jubileu de tr�s s�culos, a ser celebrado nesta quinta-feira (12), no santu�rio e na cidade paulista que levam o seu nome. "S� duas pessoas t�m acesso [ao caixote de vidro]", conta o padre Jo�o Batista de Almeida, reitor do Santu�rio Nacional de Aparecida e uma das pessoas com a chave no bolso (a outra � o arcebispo local).
"Nem os padres ficam sabendo" quando a est�tua original da santa deixa seu casulo para a manuten��o anual, diz Almeida. Todo cuidado � pouco ao se tratar da Aparecida que por pouco n�o desapareceu, quatro d�cadas atr�s.
No dia 16 de maio de 1978, Rog�rio Marcos, um jovem de 19 anos com dist�rbio mental, invadiu a bas�lica e roubou a est�tua da m�e de Jesus "aparecida" (da� o nome) na rede de tr�s pescadores em outubro de 1717 –estava havia sabe-se l� quantos anos submersa no rio Para�ba do Sul, rachada em dois peda�os (cabe�a e corpo).
Na fuga, o lar�pio deixou a imagem cair no ch�o. A santa despeda�ada, com partes reduzidas a lascas e farelos, foi reconstru�da a duras penas, e justo com cola argentina.
Um detalhe biogr�fico curioso da representa��o de Maria promovida a padroeira do Brasil em 1931, no governo do bem pouco religioso Get�lio Vargas –que 24 anos antes atacava a "flor m�rbida do pessimismo crist�o".
O ga�cho podia at� achar que "a moral crist� � contr�ria � natureza humana", como disse no Natal de 1907, quando foi orador de sua turma de formatura na Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre. A exalta��o da Virgem Maria verde-amarela, contudo, veio a calhar para ele, que viu na Igreja Cat�lica uma aliada ap�s dar o golpe de Estado em 1930.
Aparecida (nova Edi��o - 300 Anos) |
Rodrigo Alvarez |
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Em seu di�rio, registrou ter participado da prociss�o "consagradora de Nossa Senhora Aparecida", s�mbolo importante de identidade nacional –fen�meno catalisado ap�s a princesa Isabel doar uma coroa para a est�tua, em 1868.
Um s�culo passou, e a imagem permaneceu como instrumento pol�tico. "A revolu��o vem a�!", escreveram os padres do santu�rio no di�rio "�nuas de Aparecida", dias antes do golpe militar de 1964, como conta Rodrigo Alvarez em "Aparecida - A Biografia da Santa que Perdeu a Cabe�a, Ficou Negra, Foi Roubada, Cobi�ada pelos Pol�ticos e Conquistou o Brasil" (Globo Livros).
J� o derradeiro discurso do presidente Jo�o Goulart, na Central do Brasil, n�o agradou os cl�rigos: "Ajuntou-se nesse com�cio a fina flor da canalha esquerdista do Brasil".
Rivaldo Gomes-10.jul.2013/Folhapress | ||
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Imagem de Nossa Senhora Aparecida, na Bas�lia de Nossa Senhora Aparecida, no munic�pio de Aparecida, no interior de SP |
MARIA VAI COM AS OUTRAS
As representa��es da m�e de Jesus ganham tempero local. No Brasil � a negra Aparecida. A de Copacabana, guardi� da Bol�via, tem tra�os ind�genas. M�xico cultua a latina Nossa Senhora de Guadalupe.
Para evang�licos, Maria existiu, mas n�o � santa coisa nenhuma. Esse segmento religioso, que foi de 1% da popula��o brasileira em 1890 para os atuais 30%, evoca um dos dez mandamentos ("n�o far�s para ti �dolo de escultura") para explicar por que rejeitam a adora��o cat�lica a santos e suas imagens.
A avers�o rendeu um dos epis�dios mais pol�micos envolvendo Nossa Senhora Aparecida (uma r�plica, no caso).
Cid Moreira, ent�o �ncora do "Jornal Nacional", falava num tom mais grave do que seu habitual sobre o epis�dio que causou "indigna��o em todo o pa�s", justo no "dia da padroeira do Brasil".
Um dia antes, 12 de outubro de 1995, um pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, em programa da emissora do bispo Edir Macedo, deu sopapos e pontap�s em Aparecida. O bispo S�rgio Von Helder apresentava seu "Despertar da F�", na Record, quando golpeou um �cone de Aparecida.
Os murros foram literais e tamb�m verbais. "Estamos mostrando �s pessoas que isso aqui, �, isso aqui n�o funciona, isso aqui n�o � santo coisa nenhuma, n�o � Deus coisa nenhuma. R$ 500 reais, meu amigo, cinco sal�rios m�nimos, � o que custa nos mercados essa imagem –e tem gente que compra!" [...] Ser� que Deus, o criador do universo, pode ser comparado a um boneco desses, t�o feio, t�o horr�vel, t�o desgra�ado?"
A como��o foi nacional, e a pr�pria Universal o condenou. Em 1998, por�m, o hoje prefeito do Rio e bispo licenciado da igreja, Marcelo Crivella, gravou "Um Chute na Heresia" para o CD "Como Posso Me Calar?" ("Aparecida, Guadalupe ou Maria/ Tudo isso � idolatria de quem vive a se enganar/ Mas n�o se ofenda, meu irm�o, n�o me persiga/ Se ela � Deus, ela mesmo me castiga").
Crivella nega a rela��o entre a m�sica e o caso de 1995.
Expulso da Universal, Von Helder foi e voltou dos EUA. Lan�ou o livro "Um Chute na Idolatria" e usa redes sociais para distribuir v�deos que "detonam o mal", na s�rie "Mentiras que Parece Verdades", que divulga uma conta banc�ria para receber contribui��es.
Arcebispo em�rito de Aparecida, dom Raymundo Damasceno diz que "� problema deles" se evang�licos n�o creem em santos, "que para n�s s�o justamente os que viveram o Evangelho e seguiram Jesus".
Livraria da Folha
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