Advogado acusa amigo de Moro de intervir em acordo
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O advogado Carlos Zucolotto Jr. (� esq.) com Sergio Moro, o vocalista do Skank, Samuel Rosa, e a mulher de Moro, Rosangela, em show da banda em Curitiba |
O advogado Rodrigo Tacla Duran, que trabalhou para a Odebrecht de 2011 a 2016, acusa o advogado trabalhista Carlos Zucolotto Junior, amigo e padrinho de casamento do juiz Sergio Moro, de intermediar negocia��es paralelas dele com a for�a-tarefa da Opera��o Lava Jato.
A mulher de Moro, Rosangela, j� foi s�cia do escrit�rio de Zucolotto. O advogado � tamb�m defensor do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima em a��o trabalhista que corre no STJ (Superior Tribunal de Justi�a).
As conversas de Zucolotto com Tacla Duran envolveriam abrandamento de pena e diminui��o da multa que o ex-advogado da Odebrecht deveria pagar em um acordo de dela��o premiada.
Em troca, segundo Duran, Zucolotto seria pago por meio de caixa dois. O dinheiro serviria para "cuidar" das pessoas que o ajudariam na negocia��o, segundo correspond�ncia entre os dois que o ex-advogado da Odebrecht diz ter em seus arquivos.
Jaime Casal/El Pais | ||
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O advogado Rodrigo Tacla Duran |
As informa��es e a transcri��o da suposta correspond�ncia est�o em um livro que Duran est� escrevendo e que pretende lan�ar at� outubro. A Folha teve acesso � �ntegra do texto, que foi publicado e depois retirado da internet.
A assessoria de Tacla Duran confirma que a obra � dele. Diz que o texto foi postado na rede por engano mas que ser� republicado em breve e sem altera��es substanciais em seu conte�do.
Zucolotto nega as acusa��es. Os procuradores citados por Tacla Duran afirmam que nem sequer conhecem o advogado amigo de Moro.
O juiz diz que Zucolotto � "s�rio e competente" e afirma ser "lament�vel que a palavra de um acusado foragido da Justi�a brasileira [Tacla Duran] seja utilizada para levantar suspeitas infundadas sobre a atua��o da Justi�a".
Tacla Duran foi acusado de lavagem de dinheiro e de forma��o de organiza��o criminosa pelo Minist�rio P�blico Federal. O advogado tentou fazer dela��o premiada, mas as negocia��es fracassaram.
Ele teve a pris�o decretada por Moro. Chegou a ser detido na Espanha em novembro de 2016. Em janeiro, foi libertado. O Brasil pediu a sua extradi��o, mas a Espanha negou –Tacla Duran tem dupla cidadania.
Desde ent�o, ele vem dando entrevistas com acusa��es � Lava Jato e � Odebrecht. Conforme a Folha publicou, ele diz que a empreiteira fraudou documentos apresentados em seu acordo de dela��o premiada.
NA PARALELA
No texto publicado na internet, ele afirma que, entre mar�o e abril de 2016, tratou das investiga��es da Lava Jato com Zucolotto. O escrit�rio do advogado atuava havia dois anos como correspondente da banca Tacla Duran Advogados Associados, no acompanhamento de audi�ncias trabalhistas e execu��es fiscais.
"Carlos Zucolotto ent�o iniciou uma negocia��o paralela entrando por um caminho que jamais imaginei que seguiria e que n�o apenas colocou o juiz Sergio Moro na inc�moda situa��o de ficar impedido de julgar e deliberar sobre o meu caso, como tamb�m exp�s os procuradores da for�a-tarefa de Curitiba", escreveu Duran.
Ele diz que estava nos EUA e que, por isso, a correspond�ncia entre os dois ocorria atrav�s do aplicativo de mensagens Wickr, que criptografa e pode ser programado para destruir conversas.
"Ao se prontificar a me ajudar", segue, "Zucolotto explicou que a condi��o era n�o aparecer na linha de frente. Revelou ter bons contatos na for�a-tarefa e poderia trabalhar nos bastidores".
Antes que Zucolotto entrasse no circuito, segundo ainda o texto de Duran, o procurador Roberson Pozzobon teria proposto que ele pagasse uma multa de US$ 15 milh�es � Justi�a. Duran diz que n�o aceitava a proposta.
"Depois de fazer suas sondagens, Zucolotto conversou comigo pelo Wickr", afirma o ex-advogado da Odebrecht.
Na suposta correspond�ncia, Zucolotto afirma ter "como melhorar" a proposta de Pozzobon. Diz tamb�m que seu "contato" conseguiria "que DD [Deltan Dallagnol]" entrasse na negocia��o.
Ainda segundo Duran, a ideia de Zucolotto era alterar o regime de pris�o de fechado para domiciliar e diminuir a multa para um ter�o do valor, ou seja, US$ 5 milh�es.
"E voc� paga mais um ter�o de honor�rios para poder resolver isso, me entende?", teria escrito Zucolotto, segundo a suposta transcri��o da correspond�ncia entre eles. "Mas por fora porque tenho de resolver o pessoal que vai ajudar nisso."
Duran diz ent�o que, "de fato, os procuradores Julio Noronha e Roberson Pozzobon enviaram por e-mail uma minuta de acordo de colabora��o com as condi��es alteradas conforme o que Zucolotto havia indicado em suas mensagens".
RECUSA
Ele teria recebido a proposta no dia 27 de maio de 2016, uma sexta-feira. Teria que voltar ao Brasil tr�s dias depois, para assinar o acordo.
"Sozinho na minha casa na Fl�rida, pensei muito sobre isso e decidi que n�o assinaria nem voltaria ao Brasil", afirma Duran. Ele diz ter enviado um advogado para represent�-lo na reuni�o.
"Ao serem informados da minha recusa em admitir crimes que n�o cometera, os procuradores de Curitiba n�o quiseram mais conversa e encerraram as negocia��o", diz. "Foi nosso �ltimo contato", afirma Duran na �ltima linha de seu texto.
OUTRO LADO
O juiz Sergio Moro saiu em defesa do advogado Carlos Zucolotto Junior e disse, por meio de nota, ser "lament�vel que a palavra de um acusado foragido da Justi�a brasileira seja utilizada para levantar suspeitas infundadas sobre a atua��o da Justi�a".
"A alega��o de Rodrigo Tacla Duran de que o sr. Carlos Zucolotto teria prestado alguma esp�cie de servi�o junto � for�a-tarefa da Lava Jato ou qualquer servi�o relacionado � advocacia criminal � falsa", disse o magistrado.
Moro admite que os dois s�o amigos –Zucolotto foi padrinho de casamento dele e os dois v�o juntos a programas como um show do Skank, em Curitiba.
"O sr. Carlos Zucolotto � pessoa conhecida do juiz titular da 13� Vara Federal [o pr�prio Moro] e � um profissional s�rio e competente", afirma o magistrado.
"O sr. Carlos Zucolotto atua na �rea trabalhista e jamais advogou em mat�ria criminal", disse ainda o juiz.
O pr�prio Moro, ao receber os questionamentos da Folha, entrou em contato com o advogado e enviou as explica��es dele ao jornal.
"A partir das perguntas efetuadas, o sr. Carlos Zucolotto, consultado, informou que foi contratado para extra��o de c�pias de processo de execu��o fiscal por pessoa talvez ligada a Rodrigo Tacla Duran em raz�o do sobrenome (Fl�via Tacla Duran) e por valores m�dicos", diz Moro.
Fl�via � irm� de Rodrigo Tacla Duran.
Moro afirmou ainda que sua mulher, Rosangela, participou "de uma sociedade de advogados" com Zucolotto, mas "sem comunh�o de trabalho ou de honor�rios".
Segundo ele, Rosangela "jamais trabalhou em processos do escrit�rio do sr. Carlos Zucolotto e vice-versa".
Na manh� deste domingo (27), o magistrado divulgou nota reiterando as afirma��es feitas � Folha.
Ele acrescentou que "o relato de que o advogado em quest�o teria tratado com o acusado foragido Rodrigo Tacla Duran sobre acordo de colabora��o premiada � absolutamente falso".
"Nenhum dos membros do Minist�rio P�blico Federal da for�a-tarefa em Curitiba confirmou qualquer contato do referido advogado sobre o referido assunto ou sobre qualquer outro porque de fato n�o ocorreu qualquer contato", diz a nota do magistrado (leia a �ntegra abaixo).
'PERFIL FALSO'
O advogado tamb�m nega ter feito qualquer negocia��o paralela com a for�a-tarefa da Opera��o Lava Jato para aliviar a situa��o de Rodrigo Tacla Duran.
"N�o tem o m�nimo de verdade nisso. N�o existe", diz Zucolotto. "Eu n�o conhe�o ningu�m [da for�a-tarefa]. Nunca me envolvi com a Lava Jato. Sou da �rea trabalhista. N�o tenho contato com procurador nenhum", diz.
Ele afirma ainda que nunca se encontrou nem conversou com Tacla Duran, muito menos por meio do aplicativo Wickr, que destr�i as mensagens recebidas.
"Nunca baixei esse aplicativo no meu telefone. N�o tinha nem ouvido falar que existe", afirma.
Ele diz ainda que Duran n�o pode ter registros de conversas entre os dois porque elas "nunca existiram. S� se ele inventou um perfil falso".
Segundo Zucolotto, "muita gente quer se livrar da caneta do Moro", e Tacla Duran tenta atingi-lo com essa finalidade.
Ele diz que de fato seu escrit�rio foi correspondente da banca Tacla Duran Advogados Associados, na �rea de execu��o fiscal e trabalhista.
O contato de trabalho, no entanto, era Fl�via, irm� do ex-advogado da Odebrecht. "Eu nem sabia que ele [Rodrigo Tacla Duran] fazia parte do escrit�rio. Nem sabia quem era a pessoa dele."
A for�a-tarefa de Curitiba disse, por meio da assessoria de imprensa, que nenhum dos procuradores citados no di�rio de Tacla Duran conhece o advogado Zucolotto.
Eles refor�am ainda que Duran � acusado de cometer 104 crimes de lavagem de dinheiro e organiza��o criminosa, com desvios de bilh�es de reais.
S�CIO
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou, tamb�m por meio da assessoria, que seu advogado na a��o trabalhista que corre no STJ (Superior Tribunal de Justi�a) �, na verdade, Vicente Paula Santos. O nome de Carlos Zucolotto aparece na a��o porque ele j� foi s�cio de Paula Santos.
Em um coment�rio publicado nas redes sociais na semana retrasada, Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou que Rodrigo Tacla Duran chegou ao Minist�rio P�blico "cheio de mentiras" e fugiu ap�s ter sua proposta de colabora��o recusada.
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Leia a �ntegra da nota divulgada pelo juiz Sergio Moro neste domingo (27):
- "O advogado Carlos Zucolotto Jr. � advogado s�rio e competente, atua na �rea trabalhista e n�o atua na �rea criminal;
- O relato de que o advogado em quest�o teria tratado com o acusado foragido Rodrigo Tacla Duran sobre acordo de colabora��o premiada � absolutamente falso;
- Nenhum dos membros do Minist�rio P�blico Federal da for�a-tarefa em Curitiba confirmou qualquer contato do referido advogado sobre o referido assunto ou sobre qualquer outro porque de fato n�o ocorreu qualquer contato;
- Rodrigo Tacla Duran n�o apresentou � jornalista respons�vel pela mat�ria qualquer prova de suas inver�dicas afirma��es e o seu relato n�o encontra apoio em nenhuma outra fonte;
- Rodrigo Tacla Duran � acusado de lavagem de dinheiro de milh�es de d�lares e teve a sua pris�o preventiva decretada por este julgador, tendo se refugiado na Espanha para fugir da a��o da Justi�a;
- O advogado Carlos Zucolotto Jr. � meu amigo pessoal e lamento que o seu nome seja utilizado por um acusado foragido e em uma mat�ria jornal�stica irrespons�vel para denegrir-me; e
- Lamenta-se o cr�dito dado pela jornalista ao relato falso de um acusado foragido, tendo ela sido alertada da falsidade por todas as pessoas citadas na mat�ria."
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