Com relatoria da Lava Jato, Fachin enfrenta maior desafio da carreira
Pedro Ladeira - 14.fev.2017/Folhapress | ||
O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato, em reuni�o da 2� Turma do STF |
Edson Fachin estava com a mulher, de f�rias, na Alemanha, quando recebeu o aviso. O casal fazia uma temporada de estudos no renomado Instituto Max Planck, mas interrompeu a programa��o de s�bito para voltar ao Brasil. Abalado, lamentava ter perdido o seu "irm�o de bancada". Era 19 de janeiro, dia em que morreu o ministro Teori Zavascki.
Fachin fazia quest�o de usar dois substantivos na mesma frase para se referir a Teori: "meu colega", em refer�ncia � conviv�ncia na Corte, e "amigo", para explicitar o v�nculo afetivo.
At� ali, o ministro de 59 anos achava que j� tinha passado pela maior prova de sua vida. Jurista renomado no Paran�, Estado em que fez carreira, considerava a nomea��o ao Supremo o grande sonho a ser alcan�ado.
A oportunidade veio pelas m�os da ex-presidente Dilma Rousseff, que o indicou � Corte em 2015. Os amigos resumem a situa��o dizendo que ele era, na ocasi�o, o "nome certo na hora errada".
Dilma j� vivia a crise pol�tica que, no ano seguinte, lhe custaria o mandato. Houve forte rea��o ao nome de Fachin. As teses progressistas defendidas por ele como acad�mico e advogado se tornaram armas para questionar sua capacidade de atua��o.
De perfil ameno, nunca havia sofrido ataques. Naquele momento, diante dos holofotes, quase sucumbiu.
Foi criticado por suas liga��es hist�ricas com MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) e PT. Havia lido um manifesto em apoio � elei��o de Dilma em 2014.
O clima pol�tico fez da sabatina de Fachin no Senado a mais longa da hist�ria. Ele havia se preparado. Antes de se sentar diante dos parlamentares, assistiu �s entrevistas de nomes que o antecederam. Fachin � descrito como um homem inteligente, mas acima de tudo, met�dico e estudioso.
No dia do embate, levou um discurso que escreveu de pr�prio punho. "Sou um sobrevivente", disse aos senadores. "Tive muitos desafios. Perdi meu pai muito cedo, jovem ainda aos 17 anos, e tendo que tornar-me pai de mim mesmo, sobrevivi com a m�o firme de minha fam�lia."
"Sobrevivi ao voluntarismo, sobrevivi a mim mesmo, fazendo autocr�tica."
Antes da sabatina —foi o �ltimo ministro do Supremo a ser nomeado, em processo pelo qual passa agora Alexandre de Moraes—, fez uma esp�cie de corpo a corpo com os senadores. Contou com a ajuda de pol�ticos.
O ex-senador Delc�dio do Amaral, na �poca l�der do governo e filiado ao PT, se fazia de mestre de cerim�nias. Meses depois, com Fachin j� no Supremo, ele seria preso acusado de obstru��o de Justi�a e perderia o mandato.
Hoje presidente do Senado, Eun�cio Oliveira (PMDB-CE) tamb�m apoiou sua nomea��o. �lvaro Dias (PV-PR) foi um dos poucos advers�rios de Dilma a deixar a disputa com a petista de lado para defender seu conterr�neo.
No auge da tens�o, o jurista repetia que, se fosse nomeado, resumiria seu curr�culo em uma frase: "ministro do Supremo Tribunal Federal". Foi a f�rmula que encontrou para prometer que, uma vez na Corte, n�o teria mais compromisso com o passado.
LAVA JATO
A posse ocorreu em junho de 2015. De l� para c�, em menos de dois anos Fachin consolidou a fama de homem discreto, moderado e conciliador. As credenciais foram imprescind�veis para que, ap�s a morte de Teori, ele fosse escolhido para substitu�-lo na relatoria da Lava Jato.
O ministro teve que manobrar dentro do Supremo para ter o processo mais complexo do pa�s em suas m�os.
Ele integrava uma turma diferente da que julga a��es relativas � opera��o.
�s v�speras da mudan�a, repetia em privado que qualquer atitude s� seria tomada com o aval da presidente do STF, C�rmen L�cia, e um consenso entre os colegas de Corte. Foi o que houve.
Uma vez na turma da Lava Jato, Fachin foi sorteado para ficar com a relatoria da opera��o. A sincronia dos acontecimentos gerou uma onda de piadas na internet —um dos memes trazia uma foto de v�rios pedacinhos de papel, e em todos havia o nome dele.
Amigos do ministro dizem que agora sim � que ele est� diante do processo de sua vida. Fachin nunca foi afeito ao direito penal. � especialista em direito civil e de fam�lia. Mas passou a estudar o tema com afinco.
Advogados que atuam na Lava Jato ironizam a situa��o. Dizem que ele vai aprender o criminal justo em meio ao "maior processo de corrup��o da hist�ria" e que ser� "extremamente dependente de sua assessoria".
J� os amigos garantem que os que apostarem que ele vai se embaralhar com a Lava Jato v�o quebrar a cara. Quem conhece Fachin diz que ele est� disposto a fazer o contr�rio: acelerar no limite do poss�vel o andamento das a��es relativas � opera��o.
O ministro colocou em sua equipe pessoas com as quais tem confian�a e intimidade. Seu bra�o direito na an�lise das a��es � o juiz auxiliar Ricardo Rachid de Oliveira, tamb�m do Paran�. Rachid � visto como linha dura e essencialmente t�cnico. "Voa no criminal", nas palavras de um advogado de Bras�lia.
O ministro tamb�m tem boa rela��o com pessoas chaves dentro da for�a-tarefa em Curitiba. � visto como uma pessoa pr�xima ao juiz Sergio Moro. Os dois lecionaram na Universidade Federal do Paran� —a filha de Fachin tamb�m � professora de direito na institui��o. J� o procurador Deltan Dallagnol, por exemplo, foi seu aluno.
Fachin nasceu no interior do Rio Grande do Sul, no munic�pio de Rondinha. Aos dois anos se mudou para o Paran�, onde construiu a vida. Aos senadores destacou sua origem humilde e disse ter sido alfabetizado pela pr�pria m�e. Com os amigos, brinca que ele e a mulher, juntos h� quase 40 anos, anteciparam o casamento porque perceberam que, dividindo o mesmo teto, gastariam menos dinheiro.
Costuma descer com sua equipe para almo�ar no bandej�o do Supremo. O h�bito virou piada. Come comida simples, arroz, salada e suco. H� quem diga que o local melhorou depois que ele passou a frequent�-lo.
Quem acompanhou a trajet�ria do ministro at� o STF reconhece que ele � disciplinado. Mas ressalta que Fachin � do tipo que "se sente confort�vel em temperatura morna" e sofre sob press�o. A Lava Jato ser� o teste de sua vida.
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