Comiss�o da USP lista 664 perseguidos pela ditadura
Um levantamento da Comiss�o da Verdade da USP (Universidade de S�o Paulo) j� identificou 664 professores, alunos e funcion�rios que foram de alguma forma perseguidos durante a ditadura militar (1964-1985).
O trabalho do grupo, criado em maio de 2013 para mapear viola��es praticadas contra uspianos no per�odo, tamb�m encontrou informa��es de como os centros de pesquisas estrat�gicas de ci�ncia e tecnologia foram alvo de controle sistem�tico.
Segundo Laerte Apolinario, pesquisador da comiss�o, na rela��o de perseguidos h� pessoas que morreram, desapareceram, foram torturadas, presas, afastadas e fichadas. A lista ainda � conservadora porque h� casos em avalia��o. O relat�rio deve ser conclu�do em julho de 2015.
Al�m dos 664 nomes, a comiss�o ainda estuda outros casos de pesquisadores que n�o chegaram a sofrer a��o direta, mas foram monitorados de perto pelo regime.
Entre eles est�o intelectuais que nunca foram associados a movimentos pol�ticos de esquerda -tend�ncia combatida pelos militares.
Os f�sicos Oscar Sala (1922-2010) e Jos� Goldemberg, por exemplo, tiveram suas atividades de rotina controladas -como aus�ncias, licen�as m�dicas e consultorias.
Mas sobretudo suas pesquisas foram vigiadas e comentadas por integrantes dos servi�os de intelig�ncia, segundo documentos do SNI (Servi�o Nacional de Informa��es) em an�lise na comiss�o.
ATOR E ESCRITOR
Na rela��o de 664 nomes figuram alunos da �poca como o ator Edson Celulari.
Ele era estudante de teatro na Escola de Comunica��es e Artes, foi fichado e fotografado pelo Dops (Departamento de Ordem Pol�tica e Social).
O mesmo ocorreu com o escritor Milton Hatoum, que estudava na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Colunistas da Folha, o economista Eduardo Giannetti e o ge�grafo Dem�trio Magnoli foram igualmente fichados pelo �rg�o de repress�o.
Fl�vio Flores da Cunha Bierrenbach, ministro aposentado do Superior Tribunal Militar, estudava direito. Ele foi investigado por uma comiss�o criada em 1964, ano do golpe militar, e virou alvo de inqu�rito. Absolvido, colou grau e advogou para presos pol�ticos, registra a Comiss�o da Verdade da USP.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, professor de ci�ncias pol�ticas, depois do ex�lio em 1964, foi aposentado compulsoriamente em 1969, assim como o soci�logo Florestan Fernandes.
Na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, os professores e renomados profissionais Paulo Mendes da Rocha e Jo�o Batista Vilanova Artigas foram cassados. Na de Medicina, Luiz Hildebrando foi afastado e torturado.
Para o historiador Rodrigo Patto S� Motta, pesquisador da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o controle sobre a universidade trouxe preju�zos "graves" ao afastar l�deres de pesquisas. Do ponto de vista ideol�gico, os crit�rios eram vagos: "Como tinha muita gente de esquerda, eles acabavam vigiando todo mundo", diz Patto.
'SURPRESA'
Para a professora Janice Theodoro, integrante da comiss�o, o regime militar monitorava centros de pesquisas de ci�ncia e tecnologia porque diziam respeito a temas como a pol�tica nuclear.
A possibilidade de o Brasil fabricar uma bomba at�mica, aventada em 1974 pelo ent�o presidente Ernesto Geisel, se refletiria no controle das atividades universit�rias.
Ficha de 1976 do SNI relata que o Instituto de Energia At�mica vinha "sofrendo press�es por parte de elementos da USP, em particular do Instituto de F�sica, com respaldo do MDB [partido de oposi��o � ditadura]".
O SNI registra que o regulamento ent�o aprovado pelo instituto poderia "vir a comprometer as atividades do �rg�o, pela qualifica��o e vincula��o dos componentes".
Naquele per�odo, Jos� Goldemberg dirigia o Instituto de F�sica e era contr�rio � fabrica��o de bomba nuclear.
"N�o �ramos vozes isoladas, represent�vamos um grupo maior de cientistas", diz o professor, que se tornaria reitor da USP entre 1986 e 1990. Goldemberg disse nunca ter percebido a vigil�ncia nem ter sido convocado a depor. "� uma surpresa."
A espionagem na USP era feita por meio da Assessoria Especial de Seguran�a e Informa��o, vinculada ao gabinete do reitor e articulada com �rg�o similar do Minist�rio da Educa��o e Cultura.
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ESTUDANTES FICHADOS - Veja casos identificados pela comiss�o
A Comiss�o da Verdade da USP, formada em maio de 2013, est� pesquisando viola��es de direitos humanos na ditadura contra docentes, alunos e funcion�rios. O grupo j� identificou 664 casos de persegui��o, entre mortos, desaparecidos, presos, afastados, torturados e fichados; o relat�rio deve ser conclu�do em 2015
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- EDSON CELULARI - O ator era estudante da Escola de Comunica��o e Artes | Foto: Divulga��o/Secretaria de Seguran�a P�blica
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- DEM�TRIO MAGNOLI - Estudava na ECA (Escola de Comunica��es e Artes); � doutor em geografia e colunista da Folha | Foto: Divulga��o/Policia Civil
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- JOS� AM�RICO - Presidente da C�mara Municipal de SP, � ex-estudante da ECA (Escola de Comunica��es e Artes) | Foto: Divulga��o/Policia Civi
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- MARIA FACCIOLLA PAIVA - Filha de Rubens Paiva, morto pela ditadura, era aluna da ECA (Escola de Comunica��es e Artes) | Foto: Divulga��o/Policia Civil
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- MILTON HATOUM - Ex-aluno da Faculdade de Arquitetura, hoje � escritor | Foto: Divulga��o/Secretaria de Seguran�a P�blica
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- EDUARDO GIANNETTI - Estudava na FEA, � professor no Insper e colunista da Folha | Foto: Divulga��o/Secretaria de Seguran�a P�blica
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- LIDIA GOLDSTEIN - Ex-aluna da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administra��o e Contabilidade da Universidade de S�o Paulo), � doutora em economia | Foto: Divulga��o/Policia Civil
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- MARCUS SOKOL - Ex-estudante da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administra��o e Contabilidade da Universidade de S�o Paulo), integra a executiva nacional do PT | Foto: Divulga��o/Policia Civil
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