N�o vamos arrochar sal�rios, diz Arminio Fraga, aliado de A�cio
"Nomeado" futuro ministro da Fazenda, caso A�cio Neves (PSDB) ven�a a elei��o, Arminio Fraga, 57, reclama do aparente patrulhamento, na sua opini�o, do atual debate sobre problemas econ�micos.
Ele diz que precisa "fazer um discurso" antes de tratar de temas relevantes, como o reajuste do sal�rio m�nimo e as mudan�as na previd�ncia. "Sen�o, voc� � acusado de ser assassino de velhinhas, o que obviamente n�o � o caso."
Falar da discuss�o muda a fisionomia do (quase sempre pacato) economista: "Eu tenho que fazer um pre�mbulo. Se n�o, imediatamente, o PT vai falar: 'Eles v�o arrochar os sal�rios, arrochar os aposentados'", afirmou.
Nesta entrevista � Folha, Arminio fala sobre uma quest�o que acerta em cheio os empres�rios, uma das bases de maior apoio pol�tico de A�cio: a diminui��o da oferta de empr�stimos do BNDES. "O empresariado tem que se engajar numa posi��o mais moderna."
Para ele, sua "nomea��o", sozinha, n�o representa um choque de confian�a. "Arminio Fraga n�o resolve nada."
Z� Guimar�es/Folhapress | ||
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Arminio Fraga, na G�vea Investimentos, no Rio |
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Folha - Se A�cio Neves vencer, qual ser� a regra de reajuste do sal�rio m�nimo?
Arminio Fraga- O A�cio j� declarou que a pol�tica de aumento real do sal�rio m�nimo continua. A regra, no m�nimo, vale por um ano e a essa altura n�o vejo por que mudar -a preocupa��o � que ele [o reajuste] fique at� baixo neste momento. Eu disse, e fui mal interpretado, que os sal�rios em geral tinham subido muito, e que para continuar a subir, o que � totalmente desej�vel e alcan��vel, o Brasil teria que mostrar tamb�m um crescimento da produtividade. Como acredito que, com A�cio, os sal�rios v�o subir, sinceramente, n�o tenho problema com essa f�rmula.
Economistas pr�ximos do sr. dizem que a regra atual onera a Previd�ncia e desequilibra as contas do governo.
O papel de um futuro ministro da Fazenda n�o � tanto ter uma opini�o a respeito disso, mas mostrar qual � o or�amento e qual � a tend�ncia no m�dio prazo. Eu acho que isso est� fazendo falta, o Brasil est� voando no escuro, em um ambiente de um populismo exacerbado.
Voc�s s�o cr�ticos � atua��o do BNDES, mas o banco oferece cr�dito barato para parte do empresariado. Como dizer para eles que isso tem de mudar?
O empresariado hoje entende que esse mercado de cr�dito dual, onde alguns privilegiados recebem cr�dito e a maioria n�o recebe, n�o � bom. Indiretamente p�e press�o no juro, tem implica��es distributivas perversas e, no fundo, existe porque outras coisas n�o est�o funcionando. Se outras coisas forem postas para funcionar, todo esse aparato de UTI pode ser removido. Fazer uma reforma tribut�ria que desonere a exporta��o, o investimento, simplifique o sistema [tribut�rio], tem um impacto enorme. Mobilizar capital para infraestrutura e arrumar a casa para ter um juro mais baixo para todo mundo tem um impacto enorme tamb�m. Essas pol�ticas, n�o s� o cr�dito subsidiado, mas muitas das desonera��es e do aparato protecionista, n�o s�o a resposta ideal. � medida que se possa corrigir essas falhas, ser� poss�vel desfazer esse caminho que n�o est� dando certo. Algu�m acha que a ind�stria no Brasil est� indo bem, com todo esse cr�dito, subs�dio e prote��es?
Um ajuste fiscal envolveria cortar quais gastos?
A sociedade tem que fazer op��es. O nosso papel � colocar essa discuss�o na mesa, de uma maneira que ela possa ser conclu�da com mais consci�ncia dos custos e benef�cios e quais s�o os efeitos do ponto de vista do crescimento, da distribui��o de renda. H� um imenso espa�o para fazer pol�ticas que teriam impacto redistributivo relevante. O caminho a seguir foi mapeado pelo FHC. Ele tomou a decis�o de delegar �reas que naquele momento faziam parte do governo para o setor privado, sob supervis�o, para focar em sa�de e educa��o. Foi um pacto extraordin�rio. Essa discuss�o tem que ser permanente.
O sr. falou em tirar subs�dios e focar na redu��o da desigualdade. Como os empres�rios reagiriam?
Eles temem que a corre��o dos fundamentos [da economia] n�o ocorra e eles fiquem no pior dos mundos. Mas acho que o empresariado tem de se engajar numa posi��o mais moderna. O melhor exemplo � o Pedro Passos [s�cio da Natura e colunista da Folha], que com muita coragem est� quebrando todos os tabus e defendendo posi��es muito parecidas com essas. Acho que esse esgotamento do modelo j� � entendido pela maioria. Ningu�m gosta de ficar indo a Bras�lia negociar alguma coisa. Mesmo os que se beneficiavam mais disso est�o vendo o Brasil parando. Eu tenho a convic��o de que arrumar a casa, fazendo ajustes, vai gerar crescimento. A recess�o j� chegou.
Se o crescimento se recuperar, n�o diminui o �mpeto por reformas?
S� vai haver choque de confian�a se o governo mostrar servi�o. No gog� n�o vai.
O seu nome sozinho n�o basta para recuperar a confian�a?
Arminio Fraga n�o resolve nada. Quem tem de resolver � o Brasil. Se o governo n�o atrapalhar, j� ajuda bastante.
O programa do PSDB n�o trata de problemas da Previd�ncia como a necessidade de aumentar a idade m�nima, acabar com as pens�es. Voc�s v�o enfrentar essas quest�es?
Nossa estrat�gia j� est� bem mapeada. Come�ar com uma reforma pol�tica, uma reforma administrativa, e colocar na mesa uma proposta j� bem amarrada de reforma tribut�ria. Fazer uma blitz na infraestrutura, mobilizar capital privado e, com isso, deslanchar uma primeira etapa do investimento no Brasil que nos parece ser urgente. Em paralelo, acho que temos que declarar a guerra ao custo Brasil. O tema da Previd�ncia � importante, mas ele se presta tamb�m ao populismo. A nossa posi��o � que esse tema precisa ser debatido. Mas tenho de fazer um pre�mbulo, se n�o imediatamente o PT vai falar: "Eles v�o arrochar os sal�rios, v�o arrochar os aposentados". Isso tudo � mentira. Mas �, assim, n�s n�o temos medo de discutir. Na medida em que as pessoas vivem mais, voc� tem de pensar na idade de aposentadoria e na viabilidade atual do sistema. Outra coisa estranha s�o as pens�es. E acho que tamb�m merece ser discutido, sem preju�zo de quem j� tem o benef�cio. E outros temas: como um pa�s que est� com desemprego baixo tem um aumento colossal no seguro-desemprego? S�o �timos temas, mas para falar deles � preciso fazer um discurso antes, sen�o voc� vai ser acusado de "assassino das velhinhas", o que obviamente n�o � o caso.
O governo diz que est� fazendo um ajuste gradual e que chegaria aos mesmos objetivos sem dor.
Que ajuste? As contas fiscais est�o piorando. Eles est�o fazendo um desajuste gradual na �rea fiscal, e a infla��o est� em 6,5%, apesar dos pre�os reprimidos. Qual a credibilidade que o governo tem para dizer que vai fazer um ajuste gradual? Eu tamb�m acredito que o ajuste fiscal pode ser feito em dois anos. Eu tamb�m acredito que a meta de infla��o n�o precisa ser reduzida da noite para o dia, mas tem que acontecer. N�o � incorreto o que o governo diz, mas n�o corresponde ao que eles praticam.
Por que a independ�ncia do Banco Central n�o � bandeira do PSDB?
Esse � um tema antigo e pol�mico dentro do PSDB. O partido sempre gostou da ideia de dar autonomia ao Banco Central, mas com algum mecanismo de prote��o em rela��o a problemas extremos, como o Banco Central trabalhar mal. O A�cio deixou claro que vai dar a chamada autonomia operacional ao Banco Central e n�o est� fechado discutir a lei.
Olhando de fora, o atual Banco Central � aut�nomo?
Menos do que seria desej�vel. Sou amigo do [presidente do BC Alexandre] Tombini, mas acho que ele vem sofrendo porque h� de fato uma percep��o de que ele est� sob muita press�o.
Para aprovar uma reforma tribut�ria precisa construir uma maioria. Como voc�s fariam?
Precisa. Acho que o A�cio trabalharia isso.
Com quem?
Acho que com o pa�s todo. � tal a emerg�ncia nessa �rea que eu acho que tanto o Congresso quanto a sociedade, os empres�rios em particular, iam dar muito apoio. Acho que � algo que seria muito bacana. E, se o Executivo estiver disposto a trabalhar isso dando um m�nimo de garantia para os Estados, a coisa � bem vi�vel.
O que a proposta de reforma tribut�ria de voc�s tem de diferente?
Correndo o risco de soar um pouco agressivo, a nossa � a �nica. Teve proposta [do governo] de unificar as al�quotas do ICMS. N�s estamos falando em consolidar esses impostos, acabar com a cumulatividade, simplificar as regras. Estamos bem avan�ados nesse trabalho. Nossa ideia � abrir a discuss�o.
Voc�s ofereceriam propostas para uma reforma em um eventual governo Marina?
Sim, sim, claro. Acho que qualquer coisa que n�s fa�amos n�o � segredo.
Voc� participaria de um eventual governo Marina Silva?
Estou discutindo esses temas com A�cio h� quase dois anos e acredito que ele � o caminho. Eu n�o vou. N�o pretendo ir se n�o for com ele.
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RAIO-X ARMINIO FRAGA
IDADE 57 anos
FORMA��O Graduado em economia pela PUC-Rio e doutor pela universidade americana de Princeton
ATUA��O Foi diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central entre 1991 e 1992 e presidente do BC de 1999 a 2002. Em 2003 fundou a G�vea Investimentos, que administra R$ 16 bilh�es em recursos
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