General diz que n�o pode ser punido pelo caso Riocentro
Denunciado pelo Minist�rio P�blico Federal na reabertura das investiga��es sobre o atentado do Riocentro, cometido em 1981, o general reformado Newton Cruz, 89, diz que n�o pode mais ser punido por causa do epis�dio.
Na primeira entrevista desde o pedido de abertura de a��o penal, em fevereiro, ele disse � Folha que se considera protegido pela Lei da Anistia, que perdoou crimes praticados na ditadura militar.
O general admite que foi avisado com duas horas de anteced�ncia de que militares estavam deixando a sede do DOI-Codi carioca para detonar uma bomba no centro de eventos, onde centenas de jovens assistiriam a um show pelo Dia do Trabalho.
Ele diz que n�o tomou nenhuma atitude por entender que a explos�o ocorreria na casa de for�a do Riocentro, sem machucar ningu�m.
Cruz tamb�m afirma que estava em Bras�lia, onde chefiava a ag�ncia central do SNI (Servi�o Nacional de Informa��es), e n�o teria como impedir as explos�es � dist�ncia. Sua defesa ainda argumenta que os supostos crimes prescreveram, depois de 33 anos.
O atentado do Riocentro foi um fiasco porque uma das bombas explodiu no estacionamento, num Puma ocupado por dois militares. O sargento Guilherme do Ros�rio morreu no local.
O inqu�rito original, que correu na Justi�a Militar, tentou culpar organiza��es de esquerda pelo epis�dio. A farsa foi desmontada, mas ningu�m foi punido at� hoje.
Na nova den�ncia, o Minist�rio P�blico Federal pede que Cruz seja condenado a ao menos 36 anos e seis meses de pris�o pela suposta pr�tica de quatro crimes: tentativa de homic�dio doloso, associa��o criminosa armada, transporte de explosivos e favorecimento pessoal.
Os procuradores do caso dizem que a Lei de Anistia n�o se aplica ao caso Riocentro, j� que foi promulgada em 1979, dois anos antes do atentado. Al�m disso, argumentam que o epis�dio foi um crime de lesa-humanidade, que n�o prescreve, segundo normas do direito internacional.
A acusa��o diz que o general se tornou coautor do atentado por n�o ter tomado atitudes para evit�-lo.
A den�ncia diz que, ao saber do plano e de sua execu��o, Cruz "omitiu-se" diante da possibilidade de que pessoas fossem mortas e feridas.
A Procuradoria denunciou outros cinco agentes da ditadura, incluindo o capit�o Wilson Machado, que estava no carro com Ros�rio. A Justi�a Federal ainda decidir� se abre a��o penal contra eles.
Leia os principais trechos da entrevista de Newton Cruz.
*
Folha - O Minist�rio P�blico Federal o denunciou na reabertura do caso Riocentro. O senhor participou do planejamento do atentado?
Newton Cruz - Eu n�o me envolvi. Em 30 de abril de 1981, era noitinha, mais ou menos 19h, o coronel Ary [Pereira de Carvalho], que era meu chefe de opera��es, recebeu um telefonema do Rio.
O [capit�o Freddie] Perdig�o foi ao DOI saber se havia alguma novidade. Quando chegou, viu um grupo que estava planejando partir para o Riocentro a fim de jogar uma bomba para marcar presen�a. Seria um protesto contra o que estava se passando l�.
O Ary saiu dali: "Chefe, eu acabei de receber um telefonema". Quando ele contou, eu raciocinei at� dez. O que fazer? Avisar a quem?
O sr. n�o poderia ter avisado um superior ou a pol�cia?
Como? Avisar o que, se eu n�o sabia para onde eles estavam indo, o trajeto que iam tomar, onde eles iam lan�ar a bomba? Como � que eu vou informar a algu�m para tomar alguma provid�ncia?
Ent�o, duas horas antes, o sr. sabia que uma equipe estava saindo com a inten��o...
De fazer aquilo que foi comprometido. N�o foi a bomba do estacionamento n�o [a que estourou no colo do sargento Guilherme do Ros�rio, que morreu no local].
A den�ncia diz que uma bomba foi jogada na casa de for�a e a que explodiu no Puma, seria jogada contra civis no show.
A bomba que foi lan�ada nas proximidades da casa de for�a � poss�vel que tenha sido apenas para marcar presen�a. Porque do jeito que ela foi lan�ada, e pela potencialidade de destrui��o, n�o podia fazer efeito nenhum.
E a bomba que explodiu no Puma e matou o sargento?
E essa, eu sei dessa? Eu n�o sei nada dessa. Vai perguntar para mim? Eu nem sabia que tinha algu�m l�. Tanto os dois podiam estar no grupo, e sa�ram para outra coisa, quando podiam n�o estar no grupo.
O sr. n�o poderia ter evitado o atentado do Riocentro?
Absolutamente! Era imposs�vel! Imposs�vel!
Fui escalado o bode expiat�rio da revolu��o de 1964. Avisar a quem? A� cerca tudo, e tal, e tinha um tumulto l�? Era o que eles queriam.
N�o havia nem celular nessa �poca. A bomba da casa de for�a n�o tinha possibilidade de prejudicar ningu�m. Tanto que n�o foi nem ouvida no audit�rio. Foi um ato de presen�a. N�o ia fazer nada.
Ningu�m podia fazer nada. Eu tinha que aguardar. Isso foi uma decis�o minha. Minha. Tomada por minha conta, e por que eu achava que para o caso era a melhor decis�o.
A bomba do Puma n�o poderia ter provocado um tumulto e a morte de pessoas civis?
Como � que eu vou saber? Os procuradores dizem que atingiu outras pessoas, quem tava perto. N�o foi ningu�m ferido! N�o aconteceu nada. Como eles p�em a�, era como se fosse para atingir a �rea toda. Ningu�m reclamou! Trinta anos depois, v�o reclamar?
O que o senhor acha que o capit�o Machado, denunciado com o sr., queria fazer com a bomba que explodiu no carro?
N�o sei. E se soubesse, n�o ia dizer. Ele est� denunciado. Quem tem que dizer o que sabe � o procurador. Eu acho que n�o era para matar ningu�m. Era um ato de presen�a.
O que � um ato de presen�a?
Estava no mesmo n�vel das bombas que jogavam nas bancas de jornal na �poca. Toda hora era bomba em banca de jornal. N�o era? Eles n�o estavam saindo do DOI para prejudicar ningu�m. Era apenas para marcar presen�a. Dezenas de bombas existiram.
Algumas das bombas mataram inocentes, como a secret�ria Lyda Monteiro, da OAB.
E da�? Descobriram? O que eu tenho com isso? Se pegarem o respons�vel, tinham que matar tamb�m. Matar n�o, mas punir rigorosamente. Ora bolas!
O que a linha dura queria com tantas bombas?
N�o queriam a abertura. � evidente. Exatamente aquela que eu queria. "Tem que ser assim, linha-dura. O regime � esse. Onde � que n�s estamos?". O [Jo�o] Figueiredo [presidente] ficou possesso.
O sr. se recusa a chamar o regime de ditadura militar?
Ditadura, propriamente, n�o era. Era um regime autorit�rio forte. Agora, que n�o era uma democracia, n�o era. N�o existe democracia em que o presidente pode editar ato institucional. Eu acho que a revolu��o escolheu bem a hora de entrar, mas n�o a de sair. Com o passar do tempo, o cachimbo entortou a boca. Por isso, saiu escorra�ada.
Qual � sua opini�o sobre a Comiss�o da Verdade?
Para mim, aquilo � a Comiss�o da Vingan�a. Eles est�o l� para ouvir s� um lado.
Qual seu voto para presidente?
Vou repetir meu voto na Dilma. Tem a Dilma no passado e a de hoje. Eu acho que ela est� conduzindo bem o pa�s. O pa�s voltou a ser soberano, coisa que n�o era at� o governo do Lula.
O sr. tamb�m votou nele?
Votei, mas n�o voto mais, porque o Lula se ajoelhou diante do Paulo Maluf na elei��o de S�o Paulo. Isso eu n�o posso admitir.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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