An�lise: Mugabe caiu, mas sua m�quina de roubar est� instalada no Zimb�bue
Robert Mugabe fez suspense com a popula��o zimbabuana at� o amargo final, mas seu reinado de 37 anos terminou, finalmente. Por�m, ele vai lan�ar uma sombra comprida sobre a pol�tica de seu pa�s por muitos anos ainda.
�nico l�der que a na��o conheceu desde o final do governo minorit�rio branco, em 1980, ele presidiu em meio � queda do Zimb�bue. De potencial pot�ncia regional o pa�s decaiu para Estado predat�rio que atende aos interesses apenas dos mais corruptos e venais.
Philimon Bulawayo - 21.nov.2017/Reuters | ||
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Manifestantes comemoram ren�ncia do ditador do Zimb�bue Robert Mugabe em Harare na ter�a (21) |
No passado o pa�s exportava alimentos, mas hoje metade da popula��o rural depende da generosidade internacional para sobreviver. Os enormes protestos do fim de semana foram uma rejei��o evidente a esse legado.
Mas, com a Uni�o Nacional Africana Zimbabuana (Zanu-PF) de Mugabe ainda firme no poder, as perspectivas de reformas reais s�o poucas, embora n�o totalmente inexistentes.
Algumas pessoas esperam que Emmerson Mnangagwa, ex-vice deposto por Mugabe que virou seu sucessor, forme uma autoridade de transi��o inclusiva para administrar o pa�s at� as elei��es, possivelmente j� em agosto de 2018.
Isso permitiria que os militares voltassem aos quart�is e que novas autoridades iniciassem negocia��es emergenciais com os credores do pa�s.
A economia zimbabuana se encontra quase em queda livre, sofrendo de uma escassez aguda de dinheiro vivo, mas essa situa��o n�o ser� corrigida enquanto n�o for saldada uma d�vida atrasada de cerca de US$ 5 bilh�es e o pa�s obtiver uma nova linha de cr�dito.
Para ter credibilidade, por�m, o governo de transi��o precisaria incluir figuras como o veterano l�der oposicionista Morgan Tsvangirai, o respeitado ex-ministro financeiro Tendai Biti, a ex-vice-presidente Joice Mujuru e o pol�tico veterano Welshman Ncube, entre outros.
Eles com certeza precisariam de garantias de que as autoridades de transi��o v�o exercer poder real, especialmente de reformar o sistema eleitoral.
Uma possibilidade mais pessimista, mas muito mais prov�vel, � que Mnangagwa simplesmente assuma o poder. O novo dirigente zimbabuano � um dos criadores desse sistema de repress�o e controle que enriqueceu um grupinho no topo, atrav�s de um vasto imp�rio de corrup��o.
Ele pode atrair um ou dois l�deres oposicionistas para exercerem pap�is cerimoniais, mas � pouco prov�vel que ceda influ�ncia real. Foi o que aconteceu no �ltimo governo de uni�o nacional, entre 2009 e 2013.
Na �poca, a oposi��o ganhou um lugar nominal no comando do pa�s ap�s Mugabe ter lan�ado uma campanha de assassinatos, tortura e estupros para influenciar indevidamente a elei��o de 2008.
Tsvangirai e outros t�m muita consci�ncia dessa armadilha, mas � poss�vel que sejam pressionados a participar, � espera de concess�es. Seria uma aposta altamente perigosa a fazer com Mnangagwa, apelidado de 'crocodilo' por ser t�o implac�vel como chefe de seguran�a.
CONCORD�NCIA
Esse cen�rio mais pessimista —de uma junta militar disfar�ada— s� sobrevive a longo prazo com a concord�ncia pelo menos t�cita da comunidade internacional. Infelizmente, a �frica do Sul e o Reino Unido j� teriam indicado prefer�ncia pela estabilidade de curto prazo.
Os pa�ses podem estar dispostos a deixar Mnangagwa no comando do Zimb�bue por cinco anos, para mostrar o que pode fazer. Como resultado, Londres e Pret�ria perderam sua credibilidade como mediadores entre o regime e a oposi��o —exemplo disso foi a reivindica��o de que a �frica do Sul ficasse de fora da transi��o.
Os EUA veem o Zimb�bue de outra forma. Uma lei de 2001 define condi��es r�gidas para a reaproxima��o entre os dois pa�ses e o novo dirigente e o chefe militar, Constantino Chiwenga, est�o na lista de alvos de san��es americanas.
A Casa Branca tamb�m tem influ�ncia em qualquer reestrutura��o de d�vida ou concess�o de novos cr�ditos. Antes de dar fim � d�vida, Washington � obrigada a exigir a realiza��o de elei��es livres, justas e com credibilidade.
A sobreviv�ncia em longo prazo de qualquer novo governo zimbabuano vai depender do fim da crise. Mas o Zanu-PF t�m uma capacidade surpreendente de resistir a reformas. Assim como Mugabe se aferrou ao poder at� o fim, a m�quina de saques que ele deixou pode continuar a funcionar, custe o que custar.
Tradu��o de CLARA ALLAIN
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