Espanha subestimou nacionalismo, diz l�der catal�o anti-independ�ncia
Um dos defensores mais en�rgicos de que a Espanha destitua o governo regional da Catalunha em resposta aos anseios separatistas deste � justamente um catal�o: Albert Rivera, 37, l�der do influente partido de centro-direita Cidad�os.
Pe�a fundamental na forma��o do governo atual do Partido Popular, do premi� Mariano Rajoy, ele pediu repetidas vezes que o Artigo 155 da Constitui��o fosse acionado — o que ocorreu no �ltimo s�bado (21).
Pau Barrena/AFP | ||
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O catal�o Albert Rivera, l�der do partido Cidad�os, defende dissolu��o do governo pr�-independ�ncia |
Essa medida deve ser aprovada pelo Senado na sexta-feira (27) e acarretar� a cassa��o do poder do presidente catal�o, Carles Puigdemont , e a antecipa��o das elei��es regionais.
Rivera critica a condu��o das negocia��es com a Catalunha pelo governo central. "Perdemos muito tempo com cartas, enviando fax", afirma, em refer�ncia � longa troca de missivas p�blicas entre Rajoy e Puigdemont.
"O governo atual e o de Jos� Luis Zapatero [2004-2011] foram os que mais subestimaram o poder do nacionalismo, de propaganda e de comunica��o. N�o deram import�ncia enquanto crescia o nacionalismo catal�o."
O fato de Rivera ter nascido em Barcelona torna sua cr�tica ainda mais inc�moda aos ouvidos dos partid�rios da secess�o.
A fam�lia dele ainda vive no entorno da cidade. Em setembro, a loja de quitutes de sua m�e foi pichada com a mensagem "Cidad�os, esta n�o � a sua terra nem a sua luta".
"Eu sei o que � ser um catal�o que quer ser espanhol na Catalunha. Sei o que � ser amea�ado de morte, ter a fam�lia amea�ada, ter que andar com seguran�a", afirma � Folha no Congresso dos Deputados, em Madri.
"O nacionalismo est� gerando uma ruptura da conviv�ncia. Essa � uma ideologia que evidencia o distinto, o diferente. O paradoxo � que, na Catalunha, os dissidentes, os que n�o apoiam o independentismo, s�o maioria. Somos dissidentes em nossa pr�pria terra", diz Rivera.
Ele compara a crise catal� com o populismo da ex-candidata da direita nacionalista Marine Le Pen na Fran�a e com o presidente dos EUA, Donald Trump.
"Seremos mais altos, mais bonitos, teremos mais dinheiro. N�o deixa de ser uma solu��o m�gica", diz, em refer�ncia � plataforma de candidatos de perfil populista.
"O que surpreende na Catalunha � que isso aconteceu [essas promessas encontraram eco] em uma sociedade pr�spera. Foi uma esp�cie de revolu��o p�s-moderna de celulares, fotos e propaganda."
'RESET'
A Catalunha � uma regi�o espanhola j� dotada de alguma autonomia. Mas o projeto de independ�ncia tem ganhado for�a e culminou em um plebiscito em 1� de outubro. Considerado ilegal por Madri , teve 43% de participa��o e 90% dos votos no "sim".
Rivera foi um dos primeiros pol�ticos a exigir que o governo de Rajoy freasse os independentistas. Quando ainda se falava em convencer o presidente regional Puigdemont a voltar atr�s na separa��o, o Cidad�os fazia campanha pela ativa��o do Artigo 155.
Esse artigo da Constitui��o prev� interven��es pontuais na autonomia de uma regi�o para for��-la a abandonar um curso considerado ilegal pelo governo central.
"Esse processo n�o ter� fim at� que haja um 'reset' institucional", diz Rivera. "Mas o objetivo n�o � a suspens�o sem prazo, para sempre. � para recompor a democracia. Temos que devolver a voz ao povo catal�o para que escolha suas institui��es. Acreditamos que em janeiro vamos �s urnas."
O risco, para parte do governo central, � que os separatistas ganhem ainda mais for�a nas elei��es antecipadas —a princ�pio, s� haveria pleito no fim de 2019.
"Vejo o contr�rio. Eles t�m perdido for�a", afirma o l�der do Cidad�os.
Eleitores separatistas podem ser convencidos, acredita ele, pelas derrotas das �ltimas semanas: mais de mil empresas deixaram a comunidade aut�noma desde o in�cio de outubro, e a Uni�o Europeia declarou n�o reconhecer uma Catalunha independente.
H� tamb�m outra perspectiva desalentadora para a lideran�a separatista. Caso o presidente regional Puigdemont v� adiante na declara��o de independ�ncia , desafiando Madri, deve ser acusado de rebeli�o –o que, no pa�s, rende 30 anos de pris�o.
A reportagem pergunta a Rivera se tal cen�rio n�o teria impacto muito severo na percep��o popular."O Minist�rio P�blico tem a obriga��o institucional de processar os delitos. N�o � uma op��o."
Puigdemont insiste em que a crise seja resolvida com o di�logo. "Mas o limite � a lei", afirma Rivera.
"Voc� me leva a um quarto e me diz 'ou me d� o que quero, ou explodo esse lugar'... N�o posso aceitar a chantagem como m�todo. Eles sabem que est�o come�ando a perder a batalha e apelam � palavra m�gica: di�logo."
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