Governo Trump j� acelera deporta��es de imigrantes nos Estados Unidos
Guadalupe Garc�a de Rayos, 35, apresentou-se periodicamente na representa��o do Departamento Federal de Imigra��o e Alf�ndegas em Phoenix por oito anos —exig�ncia desde que ela foi flagrada em blitz em 2008 no parque aqu�tico onde trabalhava, usando n�mero falso de Seguridade Social.
Todos os anos desde ent�o, ela entrou e saiu de reuni�es em que seu caso passava por uma revis�o breve e ela respondia a algumas perguntas.
Mas este ano foi diferente.
Na quarta-feira (8), agentes da imigra��o a prenderam e iniciaram procedimentos para deport�-la para o M�xico, pa�s que ela n�o v� desde que partiu, 21 anos atr�s.
Quando uma van que a transportava deixou o pr�dio da Imigra��o, manifestantes estavam � espera. Eles cercaram o ve�culo, gritando "Liberta��o, n�o deporta��o".
A filha de Rayos, Jacqueline, segurava um cartaz que dizia "Nem mais uma �nica deporta��o". Outro manifestante, Manuel Salda�a, amarrou-se �s rodas dianteiras da van e disse: "Vou ficar aqui pelo tempo que for preciso".
Rayos era uma de v�rios detidos que estavam no furg�o. N�o ficou claro se as autoridades pretendiam lev�-los ao M�xico ou a um local de deten��o.
Rayos foi detida dias depois de a administra��o Trump ter ampliado a defini��o de "estrangeiro criminoso", um qualificativo que, segundo defensores dos direitos de imigrantes, pode facilmente ser aplicado � maioria dos imigrantes ilegais nos Estados Unidos.
"Estamos vivendo em uma nova era —uma era de guerra aos imigrantes", disse o advogado de Rayos, Ray A. Ybarra Maldonado, na quarta-feira depois de deixar o pr�dio da ag�ncia federal de imigra��o, conhecido por sua sigla, ICE.
O governo Barack Obama priorizou a deporta��o de pessoas vistas como uma amea�a � seguran�a p�blica, que tinham v�nculos com gangues criminosas ou que tivessem cometido crimes graves ou uma s�rie de delitos menores.
Rayos n�o se enquadra em nenhum desses crit�rios, raz�o por que p�de permanecer nos Estados Unidos mesmo depois de um juiz ter emitido uma ordem de deporta��o contra ela, em 2013.
Tudo isso mudou com a chegada do presidente Donald Trump. Um dos 18 decretos que ele assinou desde chegar ao poder, em 20 de janeiro, estipula que imigrantes ilegais condenados por qualquer delito sejam alvos priorit�rios de deporta��o –mesmo os que ainda n�o foram acusados criminalmente, mas que se acredite que tenham cometido "atos que constituam um delito criminal imput�vel".
Yasmeen Pitts O'Keefe, uma porta-voz do ICE, disse em comunicado � imprensa que Rayos "est� detida pelo departamento de Imigra��o e Alf�ndega com base em uma ordem de remo��o emitida pelo Escrit�rio Executivo do Departamento de Justi�a para a Revis�o de Imigra��o".
Ap�s a deten��o de Guadalupe Rayos, seu advogado, Ray Maldonado, encaminhou um pedido de suspens�o de deporta��o, mas o comunicado do ICE n�o faz men��o ao pedido nem � cronologia de sua deporta��o.
Advogados de dois dos maiores grupos nacionais de defesa dos direitos civis disseram que, desde que Trump chegou ao poder, Rayos talvez seja a primeira imigrante ilegal a ser detida em uma reuni�o programada com autoridades imigrat�rias.
Milhares de outros correm esse risco quando se apresentam para suas verifica��es peri�dicas de status imigrat�rio, em grande medida porque agora agentes federais t�m o poder de decidir quem constitui ou n�o uma amea�a � seguran�a p�blica, disseram os advogados.
"� exatamente esse o problema preocupante do decreto de implementa��o imigrat�ria interna emitida por Trump", disse Cecillia Wang, vice-diretora jur�dica da Uni�o Americana de Liberdades Civis (ACLU), entrevistada na quarta-feira.
Trump, disse ela, "liberou esses agentes para perseguirem imigrantes, sem levar em conta seus la�os com os Estados Unidos e a contribui��o que tenham feito ao pa�s".
Guadalupe Rayos tinha 14 anos quando deixou a cidade de Acambaro, numa parte pobre do Estado mexicano de Guanajuato, e atravessou ilegalmente a fronteira americana, indo para Nogales, no Arizona, a tr�s horas de carro de Phoenix.
Ela se casou com outro imigrante ilegal e teve um filho e uma filha, que j� s�o adolescentes.
Ela estava trabalhando no parque aqu�tico Golfland Sunsplash, em Mesa, pr�ximo a Phoenix, no Arizona, quando agentes do xerife do condado de Maricopa invadiram o local em 16 de dezembro de 2008, prendendo-a e detendo v�rios outros funcion�rios por suspeita de roubo de identidade e uso de documentos forjados para conseguir emprego.
A opera��o foi uma das primeiras desse tipo ordenada pelo ent�o xerife Joe Arpaio sob os termos de uma lei estadual que autoriza a imposi��o de san��es a empregadores que contratam imigrantes ilegais, cientes de que o s�o.
Rayos passou tr�s meses numa cadeia do condado e mais tr�s meses em um centro de deten��o de imigrantes, como contou a um rep�rter.
Em 2013, um tribunal de imigra��o ordenou sua deporta��o para o M�xico, mas o caso dela ficou em suspenso desde que as autoridades federais —sob a administra��o Obama— decidiram n�o aplicar a ordem de deporta��o.
Ela foi presa n�o por ter entrado ilegalmente nos Estados Unidos, o que � um delito civil, mas por ter sido criminalmente condenada pelo uso de um n�mero falso de Seguridade Social, um subterf�gio frequentemente utilizado por imigrantes ilegais � procura de trabalho no pa�s.
"Tenho f� em Deus", disse Rayos, fazendo for�a para n�o chorar.
Ela se dirigiu para os port�es que cercam o pr�dio do ICE, seguida por Garcia e um pequeno ex�rcito de volunt�rios, o mesmo grupo que promoveu v�rios protestos contra Joe Arpaio no auge da persegui��o movida pelo xerife contra os imigrantes irregulares.
Os volunt�rios gritavam "No est�s sola" —"voc� n�o est� sozinha".
Tradu��o de CLARA ALLAIN
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