Cad�ver exposto na entrada de Mossul mostra crueza da luta contra EI
Yan Boechat - 19.jan.2017/Folhapress | ||
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Moradores de Mossul tiram foto ao lado de cad�ver semidecomposto pendurado na entrada da cidade |
De longe, parece um daqueles tradicionais bonecos de pano usados nas brincadeiras de malha��o de Judas no S�bado de Aleluia.
As pernas, cobertas por uma ceroula de algod�o, guardam a forma e a dimens�o dos membros inferiores de um ser humano. T�m a apar�ncia de serem fofas e, n�o fosse uma das meias faltando, tudo faria crer que estavam recheadas com palha.
O torso e a cabe�a, no entanto, lembram um esqueleto de brinquedo usado nas festas do Dia das Bruxas. Os membros superiores n�o est�o ali, e apenas as costelas e a espinha dorsal ainda preservam caracter�sticas humanas. O cr�nio escuro, com os dentes brancos, d� a impress�o de que h� um sorriso no rosto imagin�rio.
Pendurado na entrada da cidade iraquiana de Mossul, em um bairro arrasado pelos bombardeios a�reos, o corpo chama pouca aten��o de quem passa por ali. � s� de perto que se percebe o horror e a barb�rie que ele guarda.
Os nervos que saem das cavidades oculares, pendurados como se fossem pequenas cordas de barbante, e os peda�os de carne e m�sculo em decomposi��o que unem as costelas deixam � mostra de que se trata do cad�ver de um homem. Seu cr�nio tem um buraco do tamanho de um punho fechado.
Yan Boechat - 19.jan.2017/Reuters | ||
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O cad�ver pendurado ainda preserva alguns dos nervos e parte da carne em decomposi��o |
Tronco, quadril e pernas est�o unidos ainda pela coluna. Para evitar que se rompam pela for�a da gravidade, os homens que o penduraram ali usam um peda�o de metal retorcido do poste de luz como uma esp�cie de banco, onde assentaram as n�degas.
Sob ele, ao lado de um amontoado de tijolos, uma cal�a jeans ensanguentada. Vez ou outra, curiosos mais atentos param para checar o corpo. Quase todos fazem selfies em frente a ele. E terminam a breve visita, invariavelmente, comentando que esse � o destino que todos os combatentes da mil�cia terrorista Estado Isl�mico devem ter. Mas ningu�m sabe ao certo quem foi aquele homem.
� prov�vel que tenha sido um dos tantos combatentes da fac��o que morreram no lado leste de Mossul nos combates dos �ltimos tr�s meses.
As for�as iraquianas falam em 3.000 mortos desde que a opera��o para retomar a segunda maior cidade iraquiana come�ou, em 17 de outubro do ano passado.
Assim como o homem que agora d� boas-vindas macabras a quem chega a Mossul, muitos corpos permanecem espalhados pela cidade.
"Eu pedi v�rias vezes para o Ex�rcito recolher esses cad�veres. Eles n�o s�o bons para a sa�de das pessoas, tanto f�sica como mental", diz Ahmed Hamil, um dos oito m�dicos do �nico hospital civil em funcionamento na cidade.
Yan Boechat - 19.jan.2017/Folhapress | ||
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Corpo atirado em estrada de Mossul; cerca de 3.000 pessoas morreram na batalha para retomar cidade |
Como todos os outros profissionais que atuam ali, ele passou os �ltimos dois anos e meio trabalhando sob ordens do EI. "S�o cenas que vimos nesse tempo que passou e que, infelizmente, estamos vendo agora novamente", diz Hamil.
Corpos expostos � popula��o s�o um costume do EI. E, de certa forma, uma pr�tica comum �s for�as vencedoras em batalhas sangrentas no Iraque e no Oriente M�dio como um todo.
Isso talvez explique por que ainda � poss�vel encontr�-los nas ruas de Mossul. Os moradores parecem desaprovar a pr�tica, mas t�m medo de tocar os corpos pela suspeita de que possam estar com explosivos ou desrespeitar os soldados, que fazem quest�o de mant�-los nos lugares em que foram abatidos.
Quem agradece s�o os c�es, gatos e at� mesmo as galinhas de Mossul, que v�m se alimentando dos cad�veres. A reportagem da Folha viu ao menos dois c�es e algumas galinhas comendo corpos humanos em diferentes bairros.
"Quem pode julg�-los? As pessoas fugiram e deixaram os animais abandonados. � nojento, mas eles tamb�m precisam comer", diz Abdulah Abdulah, um pequeno comerciante de doces, chocolates e biscoitos da periferia de Mossul.
Quando recolhidos, os cad�veres s�o tratados como lixo, levados em caminh�es para grandes valas cavadas nos extremos da cidade. T�m o mesmo destino da sujeira que se acumula numa cidade que passou os �ltimos tr�s meses em guerra.
Yan Boechat - 19.jan.2017/Folhapress | ||
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Diversos cr�nios e ossos s�o vistos em uma vala comum onde os mortos foram atirados em Mossul |
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