Venezuela cobi�a regi�o gerida pela Guiana ap�s descoberta de petr�leo
O vice-presidente da Venezuela, Jorge Arreaza, e a chanceler, Delcy Rodr�guez, passaram o fim de semana em giro por pa�ses caribenhos em busca de apoio � rec�m-ressuscitada pretens�o de Caracas de anexar o Essequibo, territ�rio em disputa administrado pela Guiana.
A turn� diplom�tica, aparentemente infrut�fera, ecoa a agita��o que toma conta do governo venezuelano desde maio, quando a empresa americana Exxon descobriu grandes quantidades de petr�leo no subsolo marinho das �guas territoriais do Essequibo.
O presidente Nicol�s Maduro promete lutar at� o fim para provar que a prospec��o da gigante petroleira ocorreu, em realidade, em �guas venezuelanas. E que, portanto, o petr�leo � propriedade de Caracas, que j� possui as maiores reservas mundiais de �leo bruto.
Al�m de petr�leo em sua costa, o Essequibo tem jazidas de ouro e min�rios, gra�as �s quais o governo guian�s espera desenvolver esta regi�o de selva pobre e in�spita.
A reivindica��o do vizinho irrita o rec�m-eleito presidente guian�s, David Granger, especialmente depois que Maduro ordenou exerc�cios militares na fronteira e assinou decreto para incluir a �rea das reservas petroleiras dentro das �guas territoriais da Venezuela.
Como a escalada surge �s v�speras da elei��o parlamentar venezuelana de 6 de dezembro, na qual o governo Maduro chega com aprova��o inferior a 25%, diplomatas e analistas temem que a situa��o fuja do controle. Muitos se lembram que a Guerra das Malvinas, que op�s Argentina e Reino Unido em 1982, foi deflagrada por uma junta militar argentina em profunda crise econ�mica e social.
"A situa��o atual decorre do contexto eleitoral, no qual Maduro joga a cartada do nacionalismo, algo muito perigoso", adverte o ex-embaixador e advogado Em�lio Figueredo, mediador venezuelano na disputa com a Guiana at� meados dos anos 1990.
Discursos nos dois lados, por�m, at� agora se abst�m de amea�as expl�citas.
O almirante Elias Daniels, que foi emiss�rio do governo venezuelano para o Essequibo durante duas d�cadas, minimiza risco de guerra e lembra que as rela��es bilaterais eram boas at� a elei��o de Granger, dias antes do an�ncio da Exxon.
"A Venezuela sabia da prospec��o naquela regi�o h� muito tempo. Mas Granger, ao contr�rio do governo antecessor, n�o � do mesmo grupo ideol�gico que os chavistas", diz Daniels, destitu�do do cargo em 2014.
ARGUMENTOS
O argumento central do pleito venezuelano � que a demarca��o atual � fruto de um laudo arbitral de 1899 comprovadamente manipulado em favor dos brit�nicos, colonizadores do Essequibo naquela �poca.
A Guiana aceitou retomar negocia��es em 1966, meses antes de se tornar independente. O di�logo resultou num pacto amb�guo que reconheceu a nulidade do laudo, mas manteve o status quo at� uma "solu��o satisfat�ria" para ambos os lados.
Para a Guiana, isso significa que o Essequibo permanece sob seu total controle. Granger diz que as manobras de Caracas s�o "atos de agress�o".
J� Maduro diz que � hora de p�r fim ao impasse —leia-se, obter ao menos parte do Essequibo.
Daniels v� boas chances de um acordo em que a Guiana ser� obrigada a fazer concess�es. "Mas a Venezuela precisa apresentar propostas concretas".
J� Figueredo aposta em projetos econ�micos ou ecol�gicos comuns como forma de reaproximar as agendas venezuelana e guianesa.
At� agora, por�m, prevalecem demandas maximalistas por parte dos dois pa�ses, cujas estrat�gias se op�em.
Enquanto Maduro quer atrair a ONU com mais vigor na disputa, Granger prefere o Tribunal Internacional de Justi�a de Haia, onde aposta no apoio do Commonwealth (a Guiana � o �nico pa�s angl�fono da Am�rica do Sul).
Na disputa diplom�tica, a Guiana leva vantagem. Nem pequenos pa�ses beneficiados pelo petr�leo venezuelano a pre�o irris�rio se posicionaram em favor de Caracas. Isso explica a viagem do vice-presidente Arreaza e da chanceler Rodr�guez a Trinidad a Cuba, Antigua e Barbuda e Santa L�cia, entre outros.
Analistas atribuem o isolamento da Venezuela � percep��o de que o pa�s afunda numa crise pol�tica e econ�mico que o torna mau parceiro.
No plano interno, pesquisas indicam que a maioria dos venezuelanos apoia a ideia de soberania sobre o Essequibo, mas n�o houve nenhuma mobiliza��o significativa por parte de uma popula��o absorvida pelo desabastecimento e pela crise econ�mica.
J� moradores do Essequibo consultados pela Folha por telefone pareciam mais interessados na possibilidade de um "boom" econ�mico movido a petr�leo do que nos documentos de identidade venezuelana oferecidos por Maduro.
"Que interesse eu poderia ter em ganhar cidadania de uma pa�s onde n�o h� papel higi�nico e as pessoas saqueiam lojas para poder comer?", disse a gerente de hotel Salina Balklaend, 50.
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PERGUNTAS E RESPOSTAS
1) Por que o tema ressurgiu?
Porque a petroleira americana Exxon anunciou a descoberta de grandes reservas de petr�leo nas �guas territoriais do Essequibo. Cr�ticos dizem que o presidente venezuelano, Nicol�s Maduro, infla ret�rica nacionalista de olho na elei��o parlamentar de dezembro e que o guian�s David Granger aposta na escalada para se fortalecer ap�s vencer elei��o apertada em maio.
2) O que diz a Venezuela?
Caracas diz que o Acordo de Genebra (1966) reconheceu que a demarca��o atual � fruto de fraude na arbitragem de 1899. O pa�s alega que o acordo pro�be grandes projetos de desenvolvimento na �rea em disputa at� solu��o definitiva.
3) O que afirma a Guiana?
O Acordo de Genebra manteve a regi�o sob sua gest�o e o pacto n�o a impede de tocar grandes projetos na �rea.
4) Qual a posi��o da ONU?
A ONU defende solu��o pac�fica e negociada e mantinha um representante para o caso, que morreu em 2014. A Guiana n�o quer um sucessor.
5) Qual a posi��o do Brasil?
Pede o di�logo, mas analistas corroboram a avalia��o da Venezuela de que o Itamaraty tende a apoiar vis�o da Guiana.
6) E os moradores da regi�o?
Acenos venezuelanos a essa regi�o pobre e isolada eram bem vistos no passado. A viol�ncia e desabastecimento no pa�s vizinho o tornaram impopular. A perspectiva de petr�leo ajuda Georgetown.
7) Quem apoia quem?
Apesar da afinidade ideol�gica e dos cr�ditos financeiros da Venezuela, quase todos os pa�ses do Caribe (mesmo Cuba) apoiam a Guiana, al�m dos EUA. Bol�via e Equador silenciam, e Aruba � pr�-Caracas.
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