CR�TICA: For�a do coreano Hong Sang-soo vem dos tempos, atores e di�logos
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Cena do filme 'O Dia Depois', de Hung Sang-soo |
O DIA DEPOIS (�timo)
(GEU-HU)
DIRE��O Hong Sang-soo
ELENCO Yunhee Cho, Ki Joabang
PRODU��O Coreia do Sul, 2017
QUANDO nesta quinta (19), �s 22h40 (CineSesc); 21/10, �s 21h15 (Marab�); 22/10, �s 15h30 (Espa�o Ita� - Frei Caneca); 25/10, �s 21h40 (Espa�o Ita� - Augusta); 26/10, �s 20h (Splendor Paulista)
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Certa manh�, bem cedo, um homem, Bongwan, toma caf�. Sua mulher entra, senta do outro lado da mesa, e come�a a interpel�-lo. Por que sair t�o cedo? Por que est� emagrecendo? Por que mal come? Est� namorando algu�m?
Bongwan hesita, nega, esquiva-se. Tudo � feito em um �nico plano: podemos observar os dois, suas rea��es, seus sil�ncios. A for�a da cena vem dos tempos, da perman�ncia da c�mera, do di�logo, dos atores e suas rea��es. Basta para notar que Hong Sang-soo � um cineasta muito especial.
Pouco depois, Bongwan recebe em sua editora a bela jovem Areum, sua nova assistente. Ele � tamb�m um c�lebre cr�tico liter�rio. Eles almo�am juntos. Areum pergunta-lhe por que vive. Bongwan diante dela est� t�o desarmado quanto diante da mulher.
Bongwan diz a horas tantas que as palavras n�o conseguem traduzir a realidade. Areum lan�a-lhe novas quest�es. O que � realidade? N�o ser� a realidade um sonho?
A essa altura j� nos perguntamos se essa � a garota que ele namora secretamente. A mulher de Bongwan n�o perde tempo fazendo tais perguntas: acha que � e pronto. Vai at� a editora e come�a a surrar a outra. S� que n�o era ela a namorada secreta do cr�tico. Ele, de fato, tinha se afastado dela, sua ex-secret�ria, diga-se de passagem.
J� estava bem para um primeiro dia no emprego. Mas a coisa n�o termina a�. A antiga namorada (eles estavam separados) reaparece. Temos ent�o tr�s mulheres e um homem.
A conta n�o importa: nos filmes de Hong � mais ou menos assim que funciona. Aqui h� um tanto mais de Yasujiro Ozu no grande mestre coreano: um qu� de melodrama, outro tanto de com�dia.
Mas de um para outro o mundo muda. Em Ozu, o homem era senhor do mundo. Hong nos coloca diante de um sujeito fr�gil, question�vel, mas nunca questionador, ainda senhor do mundo, mas de um mundo em que seu dom�nio j� � uma fic��o.
Ser� ent�o o mundo das mulheres? Pode ser. N�o que Hong veja grande futuro nisso. Entre si ou em rela��o aos homens elas podem chorar, mas nunca em v�o: partem para cima sem sutilezas.
Como a namorada, que ao ressurgir aconselha o editora demitir a nova secret�ria e ainda sugere que ele deva entreg�-la � esposa como sua amante...
Para ficar num exemplo. Mundo real ou sonhado, com Deus ou sem, as hip�teses propostas pelas personagens levam a um mundo nem de santos, nem de dem�nios. Somos mais seres levados por correntes, por acasos. Podemos chorar ou rir (tamb�m o filme: pode ser melodram�tico ou c�mico, conforme o momento).
Nesse discreto turbilh�o, Bongwan far� suas escolhas. Ficar� com isso e abrir� n�o daquilo. A vida � um pouco decepcionante, dizia Ozu, o fabuloso mestre japon�s. � sim, responde Hong. N�o como um eco: com suas pr�prias e magn�ficas imagens.
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