Se tiv�ssemos ouvido Lima Barreto errar�amos menos, diz autora na Flip
Se a milit�ncia de Lima Barreto contra os absurdos do racismo tivesse sido ouvida no s�culo 20, a discrimina��o n�o assassinaria milhares de jovens negros e pobres todos os anos no Brasil, disse a jornalista e escritora Luciana Hidalgo.
A fala fez parte da mesa "Moderno Antes dos Modernistas", primeira da programa��o principal da Flip desta sexta-feira (28). O encontro foi mediado pela doutora em Literatura Brasileira Rita Palmeira.
Durante o debate, que lotou a Igreja Matriz, Luciana e o pesquisador e cr�tico liter�rio Antonio Arnoni Prado discutiram a situa��o de marginaliza��o de Barreto e o uso que fez da linguagem como forma de resist�ncia.
Para Luciana, o autor foi o que mais for�ou os limites do que poderia se dizer no Brasil no s�culo 20, e talvez at� hoje. A escritora citou como exemplo o romance "Clara dos Anjos" (1922), possivelmente o primeiro a apresentar como protagonista uma mulher negra.
Seguindo a linha tem�tica do debate, os participantes discutiram o vanguardismo de Barreto. Ele acabou antecipando a linguagem modernista ao ir contra a escrita rebuscada dos literatos de sua �poca e produzir textos com linguagem simples e fragmentada.
Isso acabou refor�ando o isolamento do autor, j� discriminado na �poca por ser negro e pobre.
Alguns exemplos dessa marginaliza��o foram apontados por Luciana, como o caso, ocorrido em 1920, em que Barreto foi internado como indigente em um hosp�cio devido a problemas de alcoolismo.
Nessa �poca, ele j� havia escrito todos os seus grandes romances —incluindo "Triste Fim de Policarpo Quaresma"— e era reconhecido pela cr�tica. Ao inv�s de se lamentar, no entanto, aproveitou para escrever um di�rio, onde descrevia a vida no hosp�cio e criticava a psiquiatria da �poca.
A marginaliza��o e o racismo tamb�m foram os motivos pelos quais Barreto foi obrigado a abandonar seus estudos na Escola Polit�cnica da USP.
Ali�s, a curadora da festa, Joselia Aguiar, leu antes do in�cio da mesa uma carta em que conselho de diretores e a associa��o de ex-alunos da Polit�cnica se desculpavam tardiamente pelas situa��es de discrimina��o que levaram o autor a abandonar os estudos.
Em outro ponto da conversa, Luciana Hidalgo descreveu Lima Barreto como o pioneiro da autofic��o no Brasil e um t�pico flan�ur —que caminha observando e registrando a cidade.
Essa, inclusive, foi sua inspira��o para escrever o romance "O Passeador" (Rocco, 2011) que apresenta o autor como protagonista e espectador das mudan�as por que passava o Rio de Janeiro durante a pol�tica de higieniza��o do prefeito Pereira Passos (1902-1906).
Observando a demoli��o dos corti�os e a urbaniza��o da cidade, Barreto se sente pertencer cada vez menos � realidade carioca.
Para Prado, mais do que um registrador de seu tempo, o escritor enxergava al�m do horizonte sem perspectivas da classe dominada e lutava pela liberdade dos oprimidos por meio da literatura.
Tendo como centro de seu trabalho as contradi��es urbanas, sociais, econ�micas e humanas, Barreto usava a escrita como uma forma de "se libertar e se vingar da sociedade que oprimia os que nada tinham", diz Prado.
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