Jornalista portuguesa Joana Gorj�o contesta teoria luso-tropicalista
Marcus Leoni/Folhapress | ||
Joana Gorj�o, rep�rter que pesquisa racismo colonial |
Foi a partir de uma reportagem feita em 2014 e intitulada "Quem quer ser negro no Brasil?" que a jornalista portuguesa Joana Gorj�o, 42, decidiu expandir sua investiga��o para a heran�a da coloniza��o de Portugal em �frica no campo das rela��es raciais.
"Fiz entrevistas com negros em posi��es de destaque na sociedade brasileira, mas percebi que eles eram praticamente casos �nicos! Passei a me questionar: como pode um pa�s onde mais de 50% da popula��o � negra ter tamanha segrega��o racial?", afirma.
"Basta olhar a Flip. Se o p�blico do evento fosse um espelho da sociedade deste pa�s, metade dele seria formado por negros. Mas, mesmo numa edi��o que introduz a representatividade negra, eles ainda s�o a exce��o."
Ela viajou para as cinco ex-col�nias lusitanas em 2015, celebra��o de 40 anos de descoloniza��o de Angola, Mo�ambique, S�o Tom� e Pr�ncipe, Guin� Bissau e Cabo Verde.
O resultado deu origem a "Racismo em Portugu�s " e"O Lado Esquecido do Colonialismo", s�rie de reportagens publicada no jornal lusitano "P�blico" e convertida em livro, que chega agora ao pa�s pela editora Tinta da China.
Na Flip, a jornalista divide o audit�rio da pra�a com o ator L�zaro Ramos na manh� desta sexta-feira (28) no debate "A pele que habito".
"O livro desconstr�i a vers�o de colonialismo brando com a qual eu cresci, em que os portugueses foram dar mundos ao mundo, civilizar pa�ses africanos, e de que nos misturamos com popula��es locais, criando na��es mesti�as e democracias raciais."
Para ela, o conceito luso-tropicalista de Gilberto Freyre (1900-87) liga esses pa�ses e o Brasil. "Essa ideia � um embuste. Grande parte da mistura foi feita por meio de viol�ncia, do estupro. A rela��o inter-racial consentida, quando existia, era escondida".
Na �frica lusitana, Gorj�o encontrou uma gera��o em S�o Tom� e Pr�ncipe abandonada pelos pais portugueses, que retornaram � Europa com a descoloniza��o.
� o caso de Manuel Jorge do Rio, um de seus personagens, filho de um branco portugu�s e de uma negra africana, que n�o pode requisitar a cidadania europeia porque n�o foi reconhecido pelo pai, que retornou � Portugal e � fam�lia.
Gorj�o apontou diferen�as entre os modelos de coloniza��o dos cinco pa�ses, mas detectou como tra�o comum a segrega��o racial em modelos que emularam o sistema sul-africano do apartheid.
Angola e Mo�ambique tinham como regra social a separa��o f�sica em espa�os p�blicos de brancos e negros, que s� podiam usar a parte traseira dos �nibus. Em Guin� Bissau, havia um toque de recolher para negros.
Para ela, de l� para c�, evoluiu muito pouco a consci�ncia dos brancos de seus privil�gios.
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