'O samba pode agonizar mas nunca vai morrer', diz Nelson Sargento na Flip
Marcus Leoni /Folhapress | ||
O escritor Lira Neto, o jornalista Andr� Barcinski e o sambista Nelson Sargento na Casa Folha |
O samba pode at� agonizar com a cria��o de novos ritmos e a apropria��o cultural, mas nunca vai morrer, afirmou o sambista e presidente honor�rio da Mangueira, Nelson Sargento, na mesa N�o Deixa o Samba Morrer, da Casa Folha, nesta sexta (27).
A declara��o foi uma resposta � provoca��o do jornalista Andr� Barcinski, mediador da mesa, que citou um trecho da m�sica "Agoniza, mas N�o Morre" de Nelson. "Samba/ Agoniza mas n�o morre/ Algu�m sempre te socorre/ Antes do suspiro derradeiro."
Uma Hist�ria Do Samba - (vol. 1) |
Lira Neto |
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Durante o debate, Sargento e o jornalista Lira Neto –que lan�ou neste ano o livro "Uma Hist�ria do Samba: As Origens", primeira parte de uma trilogia sobre o g�nero– reconstru�ram o in�cio do samba, que nasceu nas periferias pelas m�os dos negros e pobres.
Em raz�o da discrimina��o e do racismo sofridos por grande parte dos sambistas durante as origens do g�nero, Lira Neto conta que recorreu a registros policiais para reconstituir o caminho do samba no Brasil.
"Quantos No�is, quantos Cartolas, quantos grandes sambistas n�o foram discriminados, presos e morreram na cadeia, impedidos de serem imortalizados e cantados at� hoje?", perguntou o jornalista.
Ao falar sobre discrimina��o, Lira Neto citou um projeto de lei recente, de autoria do empres�rio paulista Marcelo Alonso, que prev� a criminaliza��o do funk. "Isso � um absurdo, n�o tem sentido uma coisa dessas".
� reclama��o se seguiu um grito de "Fora, Temer" vindo do meio do p�blico, que lotou o espa�o da Casa Folha. Lira Neto riu e fez coro ao protesto. "Fora, Temer." A plateia aplaudiu.
O jornalista tamb�m criticou a situa��o pol�tica do pa�s, em especial o caso de um pr�dio que foi demolido ainda com os moradores dentro durante uma opera��o na cracol�ndia em maio deste ano.
"Temos um prefeito em S�o Paulo adotando uma pol�tica higienista que n�s pensamos que tivesse acabado no s�culo 20 com [o ent�o prefeito do Rio de Janeiro] Pereira Passos". A plateia aplaudiu outra vez.
De acordo com o jornalista, a populariza��o do r�dio e a cria��o da ind�stria do entretenimento foram decisivas para que o samba fosse menos discriminado e se firmasse como um g�nero v�lido na cena musical do pa�s.
Em outro momento do debate, os participantes apontaram uma imprecis�o hist�rica que se repete na literatura sobre samba. Ao contr�rio do que � dito na maior parte dos livros, o primeiro samba brasileiro n�o � "Pelo Telefone" (1917), de Donga.
"Em meu livro, eu cito pelo menos vinte sambas que vieram antes de 'Pelo Telefone'. Esses sambas foram lan�ados entre 1902 e 1917, quando tem in�cio a grava��o de m�sicas no Brasil", disse Lira Neto.
Quando perguntado sobre a situa��o atual da disputa entre as escolas de samba, que envolve grande investimento financeiro, Sargento desconversou dizendo que n�o competia porque j� tinha produzido seu hino, "C�ntico � Natureza", e ganhado pr�mios "porque merecia, n�o porque tinha colocado dinheiro".
Nos �ltimos dez minutos da mesa, m�sicos substitu�ram Lira Neto e Andr� Barcinski no palco, celulares se ergueram acima das cabe�as e Nelson Sargento cantou "A Voz do Morro", "Falso Amor Sincero", "Agoniza mas N�o Morre" e "Eu Agora sou Feliz".
Na �ltima m�sica, a maior parte largou o celular no banco, levantou e ensaiou alguns passos de samba. Quando percebeu que o bis n�o vingaria, o p�blico transformou os pedidos em um "Parab�ns a Voc�". Nelson completou 93 anos h� dois dias.
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