Autor de 'S�o Paulo nas Alturas' relembra era de ouro da arquitetura
Uma combina��o de pol�ticas p�blicas equivocadas e conjuntura econ�mica negativa acabou com a era de ouro da arquitetura modernista no Brasil e explica, em parte, o caos urbano da S�o Paulo atual.
Em debate na Casa Folha para o lan�amento do livro "S�o Paulo nas Alturas - A Revolu��o Modernista da Arquitetura e do Mercado Imobili�rio nos Anos 1950 e 1960", do selo Tr�s Estrelas, o rep�rter especial da Folha Raul Juste Lores disse que sua obra tenta mostrar como a arquitetura brasileira, que nas d�cadas de 1950 e 60 era refer�ncia mundial, acabou degringolando.
"Se voc� caminha e visita esses pr�dios em S�o Paulo, como o Copan, It�lia e o Conjunto Nacional, constru�dos durante o apogeu da arquitetura modernista na cidade), percebe o quanto a gente piorou, n�o s� esteticamente", disse, em conversa mediada pela rep�rter especial da Folha Fernanda Mena. O Conjunto Nacional re�ne em um mesmo pr�dio farm�cias, lojas, resid�ncias e consult�rios e � bastante acess�vel a pedestres.
"Passadas algumas d�cadas, temos a avenida Lu�s Carlos Berrini ou a marginal, onde h� in�meros pr�dios iguaizinhos, recuados da cal�ada, n�o se sabe nem onde � a entrada para pedestres; h� andares e andares de escrit�rios. Onde todas essas pessoas v�o almo�ar? Isso explica por que S�o Paulo virou uma cidade t�o invi�vel, para tudo � preciso pegar o carro."
No livro, Lores faz uma esp�cie de arqueologia afetiva dos pr�dios, arquitetos e incorporadores da cidade ao mesmo tempo em que revela as din�micas e pol�ticas que permitiram seu florescimento e decretaram seu fim.
Nas d�cadas de 1950 e 60 houve uma associa��o entre empreendedores incorporadores inovadores, como Octavio Frias de Oliveira (1912-2007) –que depois viria a se tornar publisher da Folha– e Jos� Tjurs, e arquitetos talentosos como Rino Levi, David Libeskind, Franz Heep e Oscar Niemeyer.
"Os anos 1940 e 50 foram um raro momento: quem tinha dinheiro investia em quem tinha talento", disse o jornalista.
O pa�s passava por um boom econ�mico e a arquitetura tornou-se t�o representativa do Brasil no exterior quando Carmen Miranda ou Villa-Lobos.
Ao mesmo tempo, houve o maior desenvolvimento de financiamento imobili�rio, que permitiu � classe m�dia comprar seus apartamentos em in�meras presta��es. Octavio Frias de Oliveira foi um dos pioneiros e, junto com Orozimbo Roxo Loureiro, criou um banco de cr�dito imobili�rio e produziu 4.000 im�veis em pouco mais de quatro anos, entre eles o Copan.
"Era uma �poca de otimismo. Se voc� faz um banco do zero e produz um pr�dio como o Copan, n�o tem como n�o ser otimista."
Mas uma s�rie de mudan�as freou esse avan�o da arquitetura. Autoridades aprovaram leis que dificultavam a verticaliza��o de S�o Paulo no centro, limitando o n�mero de metros quadrados que se podia construir em um determinado terreno. Dessa maneira, havia menos incentivo para construir apartamentos pequenos no centro, que cabiam no bolso de pessoas de menor renda.
"As pessoas de renda menor foram empurradas mais e mais para as bordas da cidade, n�o importa se era manancial, represa", diz Lores. "A legisla��o que n�s aprovamos n�o s� prejudicou o mercado imobili�rio, como fez de S�o Paulo uma esp�cie de Los Angeles do terceiro mundo, uma maravilha s� para a ind�stria automobil�stica."
Posteriormente, a alta da infla��o inviabilizou os longos financiamentos a juros tabelados (pela lei da usura) e que haviam permitido � classe m�dia comprar seus apartamentos. Tudo isso abalou o modelo de neg�cios e muitos incorporadores quebraram.
Na gera��o seguinte, o mantra era: construa o pr�dio bem r�pido, com materiais baratos e entregue no prazo. O resultado � a arquitetura padronizada de hoje em dia. "A elite gasta R$ 5 milh�es em apartamentos com janelas min�sculas, que parecem pris�es", diz.
Para o livro, Lores dedicou quase dois anos de pesquisa exaustiva, muitas vezes sobre arquitetos virtualmente desconhecidos, sobre os quais n�o havia nada publicado.
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