Edimilson de Almeida Pereira segue trilha de Jo�o Cabral de Melo Neto
Bruno Santos/Folhapress | ||
O poeta Edimilson de Almeida Pereira, autor de "Qvasi", em Paraty |
A mesa "Arqueologia de um Autor", �s 12h desta quinta (27), pode acabar desencavando n�o s� os tra�os de um, mas de dois escritores.
Dela participa, ao lado dos estudiosos de Lima Barreto Beatriz Resende e Felipe Botelho Corr�a, Edimilson de Almeida Pereira, 54 –como eles professor de letras, mas, � diferen�a deles, poeta.
N�o se pode bem dizer que E.A.P. –como esse gentil professor da Universidade Federal de Juiz de Fora �s vezes assina– estivesse escondido. Afinal, vem publicando poesia, de forma constante, desde 1985, quando estreou com "Dormundo".
Seu lan�amento mais recente � "Qvasi", que sai pela 34. Sua obra reunida, publicada pela Mazza, de Belo Horizonte, soma cerca de mil p�ginas.
"De fato, trata-se de um paradoxo porque, embora seja 'obra reunida', os poemas aparecem em quatro volumes. De certo modo, essa edi��o aponta para as 'personae' que me habitam e que, para cada momento, me oferecem uma experi�ncia diferenciada de cria��o e de an�lise do discurso", diz E.A.P. fala � Folha por e-mail, na v�spera de sua chegada a Paraty.
"Gosto de trabalhar dois ou tr�s textos ao mesmo tempo. Lido assim com a poesia, procurando arquitetar os textos a partir de perspectivas est�ticas e tem�ticas diferenciadas."
Ele explica que esse trabalho de constru��o paralela lhe d� a sensa��o de "dividir a cria��o" entre essas diferentes 'personae'.
"Quando estou trabalhando em poemas, estou produzindo tamb�m algum texto de ensaio", diz o escritor, que lan�a tamb�m dois volumes do g�nero, pela Azougue. "A Saliva da Fala" e "Entre Orfe(x)u e Exunouveau".
Em linhas gerais, ambos se dedicam a aspectos da produ��o cultural dos descendentes da di�spora africana no pa�s, tema que est� na base de sua pesquisa acad�mica.
DENSIDADE
O resultado do trabalho que ele, resumindo, diz ser pautado pela "reflex�o" � uma obra densa e apreciada por seus pares.
"Ele publica muita coisa, e mant�m um n�vel de qualidade muito elevado", diz o poeta e tradutor Paulo Henriques Britto, que j� o incluiu no curso de poesia brasileira contempor�nea que ministra na p�s-gradua��o da PUC-Rio.
"A poesia dele n�o � de f�cil leitura; � densa, cerebral, com uma musicalidade que n�o se capta de imediato", define. "Mesmo quando aborda a quest�o �tnica, jamais resvala para o panflet�rio, e nunca � confessional ou sentimental; pelo contr�rio, tem uma secura, uma dureza que lembra alguns momentos de Drummond."
O pr�prio Pereira tem uma leitura semelhante de seu trabalho. "Gosto de alimentar o contato l�rico, amoroso e afetivo com a realidade. Mas, quando a escrita se imp�e, prefiro ser rigoroso na sele��o dos motivos e formas que demarcam o poema".
E complementa, lembrando outro poeta consagrado: "Para mim continua valendo o norte cabralino do escrever cortando palavras, ou do escrever como quem cata feij�es". "Tento puxar as r�deas da linguagem, na expectativa de armar o poema de modo contido e econ�mico."
Com essa conten��o, E.A.P. trata de temas que, embora entranhados na nossa forma��o pelo passado colonial escravocrata, podem soar distantes, mesmo ex�ticos, nas grandes capitais.
Cantos e tradi��es, como o congado, comparecem, bem como evoca��es familiares e mem�rias, em certos momentos, coletivas –a hist�ria de Minas refigurada aqui e ali–, em outros, pessoais.
"Devo minha aproxima��o � pr�tica da escrita e � percep��o de sua relev�ncia na experi�ncia social �s professoras que tive nas escolas p�blicas que frequentei", diz ele.
Al�m de escritos da m�e, perdidos em sucessivas mudan�as, ele diz que foi uma dessas professoras, �ngela, no segundo ano, quem despertou nele o desejo de ser escritor, ao lhe um livro "como sinal de bom aproveitamento nas aulas de escrita".
Desde cedo, diz, soube que o rumo seria o da poesia, descoberto nas "conversas nas ruas e nas casas, os cantos sagrados, os enunciados de vendedores ambulantes, as narrativas e os jogos de palavras" do bairro onde cresceu, "entre as heran�as rurais e o um processo incipiente de urbaniza��o".
Pereira se assume devedor de Drummond e Jo�o Cabral, bem como de Garc�a Lorca "e outros". Mas n�o menos do que de narradores orais, "uma roda de pessoas do interior das Gerais", da MPB e dos textos acad�micos. "Muitos dos poemas que escrevo s� me parecem poemas porque oscilam entre a poesia e a prosa, a fala e a escrita, a hist�ria e a fic��o."
� de esperar, como diz Paulo Henriques Britto, "que a presen�a dele na Flip atraia mais aten��o para a sua obra".
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QVASI
AUTOR Edimilson de Almeida Pereira
EDITORA 34
QUANTO R$ 43 (152 p�gs.)
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MESA 2 - ARQUEOLOGIA DE UM AUTOR
CONVIDADOS Beatriz Resende, Edimilson de Almeida Pereira e Felipe Botelho Corr�a
QUANDO 12h, no Audit�rio da Matriz; transmiss�o no site do evento
Livraria da Folha
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