Em livro de mem�rias, L�zaro Ramos reflete sobre racismo no Brasil
Diego Padgurschi /Folhapress | ||
O ator L�zaro Ramos, no escrit�rio de sua editora, em S�o Paulo |
Senta, que l� vem text�o. N�o � assim que se fala, na internet, antes escrever sobre um debate que mobiliza paix�es? Pois agora � a vez de L�zaro Ramos publicar o seu, e o assunto � racismo.
Convidado para a sess�o de abertura da Festa Liter�ria Internacional de Paraty, ao lado da historiadora Lilia Moritz Schwarcz, com dire��o de cena de Felipe Hirsch, o ator baiano lan�a "Na Minha Pele". No livro de mem�rias, reflete sobre ser negro no Brasil.
Esta hist�ria come�a em uma ilhazinha cercada de �guas verdes na Ba�a de Todos os Santos.
Para visitar a Ilha do Paty, onde L�zaro nasceu, � preciso chegar perto da �gua e gritar "Tomaqu�!"(em baian�s, isso quer dizer "me tome aqui, do outro lado da margem"). Logo aparece um volunt�rio para ajudar na travessia.
Como quase todo mundo descendia de negros ou �ndios no lugar, conta o ator, ele n�o precisou pensar na cor de sua pele -pelo menos n�o t�o cedo. Nem ouvia a palavra negro dentro da casa. A fam�lia dizia apenas "a gente, que � 'assim', tem que andar mais arrumadinho."
L�zaro s� foi se dar conta de que havia racismo no mundo ao ir morar em Salvador -fosse ao se sentir exclu�do na escola particular, que a fam�lia fazia esfor�o para pagar, ou quando encontrava a patroa da m�e, que trabalhava como empregada dom�stica.
"Quero um di�logo com o jovem negro que n�o teve ningu�m para conversar sobre o assunto, mas tamb�m com quem nunca pensou sobre ele", diz L�zaro.
� curioso quando o ator lembra de comportamentos autom�ticos que s�o fruto da inf�ncia. Para ele, feijoada s� podia ter uma calabresa -uma rodinha para cada um. Mesmo mais velho, com a carreira bem-sucedida, demorou para se dar conta que isso n�o fazia sentido.
"Comida na geladeira tamb�m � milit�ncia", ri.
A forma��o pol�tica mais s�lida, contudo, s� veio quando ele entrou para o Bando de Teatro Olodum, grupo formado por atores negros. A Companhia se dedicava a escrever pe�as sobre o racismo, a escravid�o, Zumbi dos Palmares e temas afins.
Passou a prestar aten��o em sutilezas. Um exemplo: diz ter percebido que, no notici�rio, a diferen�a entre "crian�a" e "menor" costumava ser a cor da pele.
"N�o escrevo por talento, mas por necessidade. Identifiquei na minha hist�ria elementos que n�o vi em outros livros. � a voz desse menino que morou em um bairro popular de Salvador e entrou num grupo de atores negros que queria escrever sua pr�pria hist�ria", afirma.
Envolvido na milit�ncia, portanto, desde os anos 1990, L�zaro tenta se atualizar acompanhando os debates na internet. Na sua �poca, lembra, n�o se falava de feminismo negro. Os s�mbolos est�ticos eram apenas o black-power e as trancinhas.
Como a maior parte dos militantes contra o racismo, L�zaro traz um discurso que se alinha � esquerda do espectro pol�tico. O rep�rter o questiona sobre o que acha de Fernando Holiday (DEM -SP), vereador negro que costuma se opor �s a��es afirmativas.
O clima pesa.
"Voc� acha mesmo que eu vou dar espa�o para o Fernando Holiday na minha entrevista?", afirma L�zaro, acrescentando que n�o vai responder � pergunta (e, a seu modo, respondendo).
Mas, em termos gen�ricos, um negro pode ser de direita? "Claro que � poss�vel. H� dores e del�cias que nos aproximam, mas cada negro � um indiv�duo. N�o posso fazer uma an�lise acusat�ria de quem n�o conhe�o, � isso que defendo o tempo todo."
A rea��o se repete em um questionamento sobre a ideia de apropria��o cultural -segundo a qual seria errado brancos se usarem de s�mbolos da cultura afro-brasileira- e a controv�rsia do turbante.
"Voc� adora uma frase feita, n�? Voc� quer que eu diga 'adoro branco usando turbante' ou 'branco n�o devia usar turbante'? � um dilema importante, n�o vou reduzir numa frase para voc�", afirma.
Mesmo assim, o ator aponta algo que chama de "apropria��o econ�mica". Diz ver, por exemplo, em manifesta��es culturais de origem negra, como o samba, o dinheiro circular por m�os brancas.
"Quando voc� pensa a apropria��o nesse �mbito, voc� v� que tem algo esquisito. � bacana admirar objetos de outra etnia, mas vamos pensar nas oportunidades e direitos que essa outra etnia tem."
L�zaro n�o se esquiva, no livro, de falar da TV Globo, onde trabalha e estrear� um programa em dezembro. Ele lembra uma pesquisa apontando que s� 4% das protagonistas em novelas no canal foram interpretadas por mulheres n�o brancas. E s� tr�s atrizes se revezaram nesse papel.
O ator tamb�m conta que tem por regra recusar pap�is em que aparecer� com uma arma de fogo. At� fez alguns, confessa, mas sempre quando h� alguma inadequa��o entre personagem e objeto.
O ator conta tamb�m calcular os momentos de falar sobre o racismo:
Na Minha Pele |
L�zaro Ramos |
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"Seleciono tudo. N�o podem roubar sua humanidade. Voc� � um ser mais complexo, que n�o � descrito apenas pela cor da sua pele."
NA MINHA PELE
AUTOR L�zaro Ramos
EDITORA Objetiva
QUANTO R$ 34,90 (152 p�gs.)
LAN�AMENTO 6/7, �s 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional - av. Paulista, 2073, tel. (11) 3170-4033
Livraria da Folha
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