'N�o existe amea�a ao cinema', diz Polanski em Cannes
O cineasta Roman Polanski se perde nas respostas, faz cara de estar com sono, pede para que os jornalistas parem de fazer perguntas apenas a ele e dirijam-se aos outros membros da equipe de filmagem. Aos 83, o diretor polon�s aparenta ser um velhinho perdido em meio � balb�rdia do Festival de Cannes.
Mas seu novo filme, "D'apr�s une Histoire Vraie" (baseado em uma hist�ria real), desmente essa impress�o de uma pessoa ap�tica. Embora n�o chegue nem perto das melhores obras de Polanski, trata-se de um thriller vigoroso sobre a obsess�o pelo realismo e pela vida alheia dos dias de hoje.
"Existe todo esse bombardeamento de informa��es, fotos das vidas dos outros ao redor, not�cias falsas. E nos perguntamos: O que � uma hist�ria verdadeira hoje?", indagou o cineasta na entrevista coletiva que se seguiu � exibi��o do seu longa.
O filme participa da sele��o oficial do Festival de Cannes, mas fora da competi��o pela Palma de Ouro.
Em "D'apr�s une Histoire Vraie", Emmanuelle Seigner interpreta a romancista Delphine, uma esp�cie de Elena Ferrante que narra fatos que nunca se sabe se autobiogr�ficos ou n�o, e que mant�m um s�quito de f�s, principalmente mulheres.
Uma delas, Elle (Eva Green), se aproxima e passa a tomar espa�o em sua vida. Trata-se de uma "ghost writer" misteriosa que come�a a dar palpites na obra de Delphine e que a aconselha a escrever algo real, e n�o ficcional.
O nome "Elle" (ela) vem para confundir o espectador: n�o se sabe ao certo se se trata de uma f� de verdade ou de uma alucina��o da cabe�a da romancista.
"Gostei da ideia de fazer um thriller com duas mulheres, j� que em geral o g�nero � trabalhado com homens", diz Polanski. Ainda assim, o longa que tem roteiro do tamb�m diretor Olivier Assayas ("Personal Shopper") por vezes descamba para o fetiche machista com o retrato psic�tico que pinta de Elle.
O machismo foi at� abordado, como piada, na entrevista coletiva. Um jornalista perguntou a Polanski o que era mais dif�cil: trabalhar com mulheres ou viver com elas.
A resposta: "Como algu�m t�o inteligente pode fazer uma pergunta t�o est�pida? � claro que � viver com elas".
O filme � tamb�m o primeiro trabalho falado em franc�s de Eva Green desde 2004, quando a parisiense passou a ser escalada para produ��es inglesas e americanas.
"Estou sempre me esfor�ando para melhorar meu sotaque em ingl�s. Como o franc�s � minha l�ngua-m�e, esse trabalho foi libertador", disse a atriz de "007: Cassino Royale" (2006) e "O Lar das Crian�as Peculiares" (2016).
Polanski tamb�m foi questionado sobre a controv�rsia que marca esta edi��o do festival: A amea�a �s alas de cinema diante dos servi�os de v�deo sob demanda.
"N�o acho que exista uma amea�a ao cinema", respondeu o diretor de "O Beb� de Rosemary" (1968), "Chinatown" (1974) e "O Pianista" (2002). "As pessoas n�o v�o aos cinemas apenas pela proje��o ou pelo som, eles v�o porque participam de uma experi�ncia p�blica, e isso � t�o velho quanto a humanidade, como circo ou o teatro. Gostamos de viver espet�culos em coletivo."
Polanski n�o concordou em dar entrevistas individuais durante o festival. A imprensa tamb�m foi alertada a n�o question�-lo sobre o ruidoso caso de abuso sexual cometido contra Samantha Geimer, em 1977, e que o impede de botar os p�s nos Estados Unidos. Polanski tamb�m n�o comenta o assassinato de sua ex-mulher Sharon Tate pelos seguidores da seita liderada por Charles Manson.
P�S-VIOL�NCIA
A competi��o deste ano foi encerrada com a exibi��o de "You Were Never Really Here", thriller peculiar de Lynne Ramsay, mesma diretora de "Precisamos Falar sobre o Kevin" (2011).
Em mais um papel intenso e sombrio, Joaquin Phoenix � Joe, um matador de aluguel recrutado para salvar uma garota, filha de um pol�tico. Joe � assolado por traumas, que assaltam a sua mente feito as imagens macabras que assolavam a personagem de Tilda Swinton no filme de 2011.
"You Were Never Really Here" subverte as conven��es do thriller ao narrar a hist�ria de um matador de aluguel solit�rio.
"N�o estou interessada em explorar o que vemos muito por a�", explicou a diretora, com seu carregado sotaque escoc�s, que definiu o longa como uma obra de "p�s-viol�ncia".
As m�sicas s�o usadas de forma ir�nica, e a viol�ncia, muitas vezes, � o que aparece fora de enquadramento. O tom do filme, que alterna momentos de humor e cenas de extrema brutalidade, muitas vezes d� uma cara pat�tica ao protagonista.
"Achei que estiv�ssemos fazendo uma com�dia", brincou Phoenix. "Quer�amos sair da ideia do her�i masculino que salva o dia."
A cerim�nia de premia��o ocorre no domingo (28).
O jornalista GUILHERME GENESTRETI se hospeda a convite do Festival de Cannes
Livraria da Folha
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenci�rio
- Livro analisa comunica��es pol�ticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade