Cannes se entrega � pervers�o com filmes de Haneke e Lanthimos
O Festival de Cannes se abriu para a perversidade com a exibi��o de "Happy End" e "The Killing a Sacred Deer", dois t�tulos em competi��o que reafirmam a sordidez da obra de seus diretores –respectivamente, o austr�aco Michael Haneke e o grego Yorgos Lanthimos. Em ambos os casos, a repercuss�o foi abaixo do aguardado.
Do primeiro esperava-se um drama que abordasse a quest�o dos refugiados, tema quente na Europa e que tem refletido na produ��o do continente. Ao menos, era assim que a imprensa internacional se referia a "Happy End", tendo em vista que Haneke andava filmando em Calais, cidade no norte da Fran�a que at� o ano passado concentrou um gigante campo de refugiados chamado de "a selva".
Os refugiados at� aparecem numa cena chave, mas est�o longe de ocupar o cora��o do filme, que se volta para o retrato de uma fam�lia abastada, que � um pouco o ep�tome da Europa branca.
O universo nesse longa de t�tulo ir�nico ("final feliz") � o t�pico de Haneke: h� espancamento, pervers�es sexuais, morte de animais, tentativas de eutan�sia, coment�rios xenof�bicos...
O patriarca da fam�lia, vivido por Jean-Louis Trintignant, � um octogen�rio que tenta a todo custo dar cabo da pr�pria vida desde que morreu sua mulher (um eco ineg�vel com o personagem que o ator interpretou em "Amor", filme anterior de Haneke).
Isabelle Huppert vive uma das filhas dele, mais uma mulher durona em seu curr�culo, e Mathieu Kassowitz faz o outro filho, sujeito que tem de voltar a viver com a filha adolescente, �ve (Fantine Harduin), ap�s a m�e dela sofrer overdose de antidepressivos.
�ve registra o cotidiano de sua fam�lia por meio do celular -a cena que abre o longa � a tela do que parece ser a c�mera de alguma rede social. Outra tela virtual que ocupa boa parte do longa � aquela em que o personagem de Kassowitz troca mensagens er�ticas com uma amante.
"N�o d� para discutir o mundo hoje sem falar das redes sociais", disse Haneke em entrevista coletiva. "� dif�cil falar dos tempos atuais sem abordar o qu�o cegas as pessoas est�o para certos temas. Temos a impress�o de estarmos mais bem informados, mas na verdade n�o sabemos nada. S� sabemos o que experimentamos com a pr�tica."
O diretor de "A Professora de Piano" (2001) e "A Fita Branca" (2009) tamb�m foi levado a falar da fama de perverso. "N�o sou t�o mau assim", brincou.
Coube a Fantine encorpar o coro da defesa: "Ele � muito meticuloso, mas � bondoso".
O jornalista GUILHERME GENESTRETI se hospeda a convite do Festival de Cannes
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