Gafe no Oscar consagra 'Moonlight' e escancara uma Hollywood em crise
Uma gafe sem precedentes no Oscar fez do Dolby Theatre palco de uma imagem carregada de simbolismo: a equipe do musical "La La Land", composta majoritariamente por brancos, cedendo espa�o para a de "Moonlight", longa dirigido e protagonizado apenas por negros e o verdadeiro vencedor do pr�mio de melhor filme.
A trapalhada no an�ncio ofuscou a tentativa da Academia de se emendar ap�s queixas de racismo, mas n�o esvaziou o conte�do pol�tico: ao premiar "Moonlight", Hollywood tamb�m abra�ou um drama de tem�tica gay e mandou um recado claro a Trump, lembrado pelo apresentador Jimmy Kimmel e em discursos.
O duelo entre as duas produ��es escancara uma rivalidade entre opostos. A come�ar, tecnicamente: "La La Land", de Damien Chazelle, custou US$ 30 milh�es (cerca de R$ 93 milh�es), ante o modesto US$ 1,5 milh�o (R$ 4,6 milh�es) de "Moonlight", de Barry Jenkins -mais barato at� do que produ��es brasileiras como "Pequeno Segredo", de R$ 10 milh�es.
E n�o s� tecnicamente. "La La Land" � escapismo puro. � uma hist�ria de amor que levantou queixas de racismo por ter protagonistas brancos (Ryan Gosling e Emma Stone) num universo indissoci�vel da cultura negra, o do jazz. Mais ironia: na trama, � o branco Sebastian (Gosling) quem luta por manter a pureza do estilo musical diante das investidas moderninhas do parceiro negro Keith (interpretado por John Legend).
Contra a beleza ass�ptica de "La La Land", "Moonlight" traz a dureza das ruas de Miami na pele de um jovem negro, gay e pobre que tateia em busca de identidade enquanto lida com a m�e drogada, o amigo por quem nutre paix�o e o traficante que lhe serve de enviesada refer�ncia paterna (Mahershala Ali, vencedor do pr�mio de ator coadjuvante).
Ali ajudou a coroar essa noite pr�-negros. Al�m dele, tamb�m levaram pr�mios: Viola Davis,por "Um Limite Entre N�s"; Ezra Edelman, pelo document�rio "O.J.: Made in America"; e Tarell Alvin McCraney e Barry Jenkins, pelo roteiro de "Moonlight".
O filme de Jenkins n�o foi o primeiro dirigido por um negro a ganhar o Oscar principal. Em 2014, Steve McQueen rompeu a barreira com "12 Anos de Escravid�o", mas seu longa tange o racismo pelo vi�s desgastado -e at� fetichista- do negro escravo, subjugado pelo branco. "Moonlight" vai al�m: as chagas do racismo exalam ainda que nenhum branco esteja em cena.
"Moonlight" tamb�m representa a primeira vit�ria de um drama gay na principal categoria do Oscar, reparando o que muitos encararam como injusti�a, em 2006, quando "Brokeback Mountain" perdeu a estatueta para "Crash".
Para Hollywood, que v� sua receita dom�stica encolher com o fortalecimento dos servi�os sob demanda, abrir-se para o multiculturalismo � quest�o de sobreviv�ncia. Hoje em dia, superprodu��es n�o se bancam mais apenas com a bilheteria americana e s�o cada vez mais dependentes do �xito em mercado estrangeiros, como o chin�s.
Ao negar o principal Oscar da noite ao musical de Damien Chazelle, a Academia leva a cidade dos sonhos a despertar para o fato de que 2017, primeiro ano do governo Trump, est� mais para a aspereza de "Moonlight" do que para o colorido on�rico de "La La Land".
Ao site "Breitbart News", o presidente afirmou que a cerim�nia se preocupou tanto em ser pol�tica que cometeu a gafe do final. "Triste", disse.
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